Sempre que eu vejo ou experimento alguma coisa muito boa eu imediatamente penso em listas, minha cabeça sempre funcionou assim. Por exemplo: comi um bolo delicioso de chocolate – quais são os cinco bolos de chocolate mais deliciosos que eu comi na minha vida?; acabei de ouvir pela centésima vez o mesmo álbum do Angra – quais são minha cinco músicas preferidas do Angra? Quem sofre com isso é o meu marido, porque para cada lista minha eu preciso ouvir a dele, e claro, quase sempre ele não sabe me responder, porque é difícil definir rapidamente as coisas de que você mais gosta.
Um dia vendo a nova temporada de Twin Peaks eu me peguei pensando no agente Dale Cooper, e percebi que ele é o meu personagem preferido de todos os tempos entre todas as séries que eu já vi. Não demorou para surgir a questão “e quais são os meus outros quatro personagens favoritos de séries de todos os tempos?”.
Pois é, falando assim minha cabeça não parece um lugar muito empolgante, mas garanto que pensamentos mais nobres aparecem por aqui de vez em quando.
Meus cinco personagens preferidos são necessariamente aqueles com quem eu gostaria de conviver? Aquela pessoa que você gostaria que saísse da tela e fosse de verdade? Veremos.
Dale Cooper – Twin Peaks
Twin Peaks é minha série preferida, então nada mais normal do que meu personagem preferido vir dela. Eu vi e revi a primeira temporada, acho que foram quatro vezes, e posso dizer que o agente especial Dale Cooper (Kyle MacLachlan) é uma pessoa que deveria existir. Alguém que melhoraria o mundo. Na história ele precisa resolver o assassinato de Laura Palmer na cidadezinha de Twin Peaks. Ele trabalha para o FBI, mas o perfil de agente metido não combina com ele. Cooper é amistoso, generoso e gentil. Estas características acabam transparecendo no jeito de encarar o trabalho, sem deixar de ser profissional. Seus métodos pouco convencionais impressionam os cidadãos de Twin Peaks na mesma medida em que seu bom coração os conquista. Acho que eu gosto tanto deste personagem porque ele é a síntese de uma pessoa que me atrairia (não romanticamente). Eu prezo muito a honestidade de uma pessoa que se conhece e não usa de subterfúgios para se relacionar, é quase como se a pessoa voltasse a ser criança de tão clara que ela é. Esse é o Dale Cooper, um personagem mais do que especial. Acho que Kyle MacLachlan é responsável por pelo menos metade do apelo que Twin Peaks tem comigo. Lembrando que a terceira temporada, lançada agora em 2017, foi o auge da série até agora.
Elaine Benes – Seinfeld
Que surpresa! Mais uma que vem de uma das séries favoritas. Seinfeld é uma sitcom da década de 1990 que conta a história (vá lá: contar a história não faz jus ao que acontece porque o objetivo, às vezes, é não contar história nenhuma) de quatro amigos em Nova York (se você pensou em Friends, saiba que Seinfeld chegou antes e que os friends são seis). Jerry Seinfeld, Jason Alexander e Michael Richards são talentosos e engraçadíssimos, e por isso o trabalho de Julia Louis-Dreyfus era difícil. Não é que ela seja menos talentosa e brilhante, mas naquela época, numa série quase inteirinha feita por homens, não seria uma surpresa se a única protagonista mulher fosse colocada de escanteio. E a razão de isso não acontecer não foi a pressão do público ou a boa consciência dos produtores, não: foi porque Julia Louis-Dreyfus é muito, muito, muito boa atriz, muito carismática e muitíssimo engraçada. Mesmo sem humor físico ou caricato ao extremo ela conseguiu, logo no começo, estabelecer uma sintonia que é rara – tão rara que não foram poucas as comparações, ao longo dos anos, entre os quatro de Seinfeld e os quatro Beatles.
Quando Seinfeld começa, Elaine Benes é uma garota comum que convive com três caras bizarros. Em uma época em que poucos levantavam a bandeira das mulheres fortes e decididas na tevê, Elaine era tudo isso, e com a maior naturalidade: ela tinha tantos relacionamentos quantos os homens da série, era cheia de opiniões, nunca deixava um desaforo barato. Aos poucos ela foi se revelando deliciosamente mesquinha e egoísta. Todo mundo é mesquinho em Seinfeld, mas mesmo assim você torce por eles e a identificação acaba acontecendo. Acho que eu me daria muito bem com uma amiga como Elaine Benes. Não sei bem em que posição isso me coloca, mas não tem problema.
Felicity Porter – Felicity
Para falar em amizade, ninguém melhor do que Felicity Porter. Ela acabou de chegar em Nova York para estudar, totalmente despreparada para viver tudo o que vai precisar viver – inclusive porque, se preparada estivesse, não haveria série. Fiz uma declaraçãozinha de amor ao seriado aqui. Por agora é suficiente dizer que aquelas que não se identificam com Felicity estão mortas por dentro. Ela é desajeitada e erra muito, mas também é confiável, querida. Ela se importa de verdade com os problemas dos amigos. Mesmo que seja a protagonista, não é daquelas que fazem o mundo todo girar em ao redor delas. Quem nunca se irritou com aquela mocinha que tem uma melhor amiga e enche as orelhas dela com seus problemas? A Felicity é o oposto disso. Ela para, senta, ouve, tenta resolver. É ao mesmo tempo frágil e corajosa, daquele tipo que tira a valentia de onde não pensava que haveria. Acho que existem muitos outros personagens assim, mas a atriz (Keri Russell, que todo mundo conhece agora em The Americans) fez de Felicity um retrato de muito do que a gente quer ser, e também de alguém que a gente gostaria de conhecer. Quem não queria uma amiga como a Felicity?
Eric Northman – True Blood
True Blood é um exemplo de série que desandou e acabou de um jeito bem feio, mas antes de isso acontecer já estava sedimentada a minha paixão pelo Eric, interpretado por Alexander Skarsgård. Eric é um personagem de livro (True Blood foi baseada nos romances de Charlaine Harris) mas foi na tevê que ele virou o que virou. É um personagem irreal? Bom, se você acha que um vampiro bonitão e capaz de tudo pelo seu amor é uma coisa irreal, então ele é. Mas existir apenas na imaginação às vezes é a graça de uma história. E de um bom personagem. No começo a pinta de bad boy convencia, mas depois Eric vira um sujeito (mais ou menos) leal e um herói com sangue quente. Ele entra aqui na lista para representar os galãs, que geralmente são meio chatinhos. Chatinho, inclusive, era o Bill, que era o par romântico inicial da Sookie. Este era insuportável. Torci muito para que Sookie ficasse com o Eric, mas confesso que lá pelas tantas a série estava tão perdida e mal feita que já não fazia diferença.
Cristina Yang – Grey’s Anatomy
Sim, Cristina Yang também é my person. É muito triste continuar assistindo a uma série sem sua personagem preferida (pelo menos a Meredith continua). Cristina Yang também é aquela pessoa que você quer ser ou ter ao seu lado. Ninguém mete medo nela. Ela é uma personagem incomum. É agressiva e chega a beirar a grosseria, mas sua franqueza não passa de honestidade. É uma pessoa bruta com um coração enorme, interpretada por Sandra Oh, uma atriz que mereceria uma carreira de muito mais destaque. Foi impossível desgostar de uma personagem assim, principalmente porque ela era justo aquilo de que a Meredith precisava. Juntas elas eram imbatíveis naquele hospital. Eu sinceramente achei que não conseguiria continuar acompanhando Grey’s Anatomy quando Sandra Oh deu adeus. Foi um baque muito grande. Maior, sinceramente, do que o de quando certo marido de certa protagonista morreu.
Um dia eu ainda apareço com a lista das minhas pessoas preferidas com quem eu convivo no mundo real. Um spoiler: mamãe está na lista.