Meus 5 personagens preferidos de séries

Sempre que eu vejo ou experimento alguma coisa muito boa eu imediatamente penso em listas, minha cabeça sempre funcionou assim. Por exemplo: comi um bolo delicioso de chocolate – quais são os cinco bolos de chocolate mais deliciosos que eu comi na minha vida?; acabei de ouvir pela centésima vez o mesmo álbum do Angra – quais são minha cinco músicas preferidas do Angra? Quem sofre com isso é o meu marido, porque para cada lista minha eu preciso ouvir a dele, e claro, quase sempre ele não sabe me responder, porque é difícil definir rapidamente as coisas de que você mais gosta.

Um dia vendo a nova temporada de Twin Peaks eu me peguei pensando no agente Dale Cooper, e percebi que ele é o meu personagem preferido de todos os tempos entre todas as séries que eu já vi. Não demorou para surgir a questão “e quais são os meus outros quatro personagens favoritos de séries de todos os tempos?”.

Pois é, falando assim minha cabeça não parece um lugar muito empolgante, mas garanto que pensamentos mais nobres aparecem por aqui de vez em quando.

Meus cinco personagens preferidos são necessariamente aqueles com quem eu gostaria de conviver? Aquela pessoa que você gostaria que saísse da tela e fosse de verdade? Veremos.

Dale Cooper – Twin Peaks

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Twin Peaks é minha série preferida, então nada mais normal do que meu personagem preferido vir dela. Eu vi e revi a primeira temporada, acho que foram quatro vezes, e posso dizer que o agente especial Dale Cooper (Kyle MacLachlan) é uma pessoa que deveria existir. Alguém que melhoraria o mundo. Na história ele precisa resolver o assassinato de Laura Palmer na cidadezinha de Twin Peaks. Ele trabalha para o FBI, mas o perfil de agente metido não combina com ele. Cooper é amistoso, generoso e gentil. Estas características acabam transparecendo no jeito de encarar o trabalho, sem deixar de ser profissional. Seus métodos pouco convencionais impressionam os cidadãos de Twin Peaks na mesma medida em que seu bom coração os conquista. Acho que eu gosto tanto deste personagem porque ele é a síntese de uma pessoa que me atrairia (não romanticamente). Eu prezo muito a honestidade de uma pessoa que se conhece e não usa de subterfúgios para se relacionar, é quase como se a pessoa voltasse a ser criança de tão clara que ela é. Esse é o Dale Cooper, um personagem mais do que especial. Acho que Kyle MacLachlan é responsável por pelo menos metade do apelo que Twin Peaks tem comigo. Lembrando que a terceira temporada, lançada agora em 2017, foi o auge da série até agora.

Elaine Benes – Seinfeld

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Que surpresa! Mais uma que vem de uma das séries favoritas. Seinfeld é uma sitcom da década de 1990 que conta a história (vá lá: contar a história não faz jus ao que acontece porque o objetivo, às vezes, é não contar história nenhuma) de quatro amigos em Nova York (se você pensou em Friends, saiba que Seinfeld chegou antes e que os friends são seis). Jerry Seinfeld, Jason Alexander e Michael Richards são talentosos e engraçadíssimos, e por isso o trabalho de Julia Louis-Dreyfus era difícil. Não é que ela seja menos talentosa e brilhante, mas naquela época, numa série quase inteirinha feita por homens, não seria uma surpresa se a única protagonista mulher fosse colocada de escanteio. E a razão de isso não acontecer não foi a pressão do público ou a boa consciência dos produtores, não: foi porque Julia Louis-Dreyfus é muito, muito, muito boa atriz, muito carismática e muitíssimo engraçada. Mesmo sem humor físico ou caricato ao extremo ela conseguiu, logo no começo, estabelecer uma sintonia que é rara – tão rara que não foram poucas as comparações, ao longo dos anos, entre os quatro de Seinfeld e os quatro Beatles.

Quando Seinfeld começa, Elaine Benes é uma garota comum que convive com três caras bizarros. Em uma época em que poucos levantavam a bandeira das mulheres fortes e decididas na tevê, Elaine era tudo isso, e com a maior naturalidade: ela tinha tantos relacionamentos quantos os homens da série, era cheia de opiniões, nunca deixava um desaforo barato. Aos poucos ela foi se revelando deliciosamente mesquinha e egoísta. Todo mundo é mesquinho em Seinfeld, mas mesmo assim você torce por eles e a identificação acaba acontecendo. Acho que eu me daria muito bem com uma amiga como Elaine Benes. Não sei bem em que posição isso me coloca, mas não tem problema.

Felicity Porter – Felicity

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Para falar em amizade, ninguém melhor do que Felicity Porter. Ela acabou de chegar em Nova York para estudar, totalmente despreparada para viver tudo o que vai precisar viver – inclusive porque, se preparada estivesse, não haveria série. Fiz uma declaraçãozinha de amor ao seriado aqui. Por agora é suficiente dizer que aquelas que não se identificam com Felicity estão mortas por dentro. Ela é desajeitada e erra muito, mas também é confiável, querida. Ela se importa de verdade com os problemas dos amigos. Mesmo que seja a protagonista, não é daquelas que fazem o mundo todo girar em ao redor delas. Quem nunca se irritou com aquela mocinha que tem uma melhor amiga e enche as orelhas dela com seus problemas? A Felicity é o oposto disso. Ela para, senta, ouve, tenta resolver. É ao mesmo tempo frágil e corajosa, daquele tipo que tira a valentia de onde não pensava que haveria. Acho que existem muitos outros personagens assim, mas a atriz (Keri Russell, que todo mundo conhece agora em The Americans) fez de Felicity um retrato de muito do que a gente quer ser, e também de alguém que a gente gostaria de conhecer. Quem não queria uma amiga como a Felicity?

Eric Northman – True Blood

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True Blood é um exemplo de série que desandou e acabou de um jeito bem feio, mas antes de isso acontecer já estava sedimentada a minha paixão pelo Eric, interpretado por Alexander Skarsgård. Eric é um personagem de livro (True Blood foi baseada nos romances de Charlaine Harris) mas foi na tevê que ele virou o que virou. É um personagem irreal? Bom, se você acha que um vampiro bonitão e capaz de tudo pelo seu amor é uma coisa irreal, então ele é. Mas existir apenas na imaginação às vezes é a graça de uma história. E de um bom personagem. No começo a pinta de bad boy convencia, mas depois Eric vira um sujeito (mais ou menos) leal e um herói com sangue quente. Ele entra aqui na lista para representar os galãs, que geralmente são meio chatinhos. Chatinho, inclusive, era o Bill, que era o par romântico inicial da Sookie. Este era insuportável. Torci muito para que Sookie ficasse com o Eric, mas confesso que lá pelas tantas a série estava tão perdida e mal feita que já não fazia diferença.

Cristina Yang – Grey’s Anatomy

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Sim, Cristina Yang também é my person. É muito triste continuar assistindo a uma série sem sua personagem preferida (pelo menos a Meredith continua). Cristina Yang também é aquela pessoa que você quer ser ou ter ao seu lado. Ninguém mete medo nela. Ela é uma personagem incomum. É agressiva e chega a beirar a grosseria, mas sua franqueza não passa de honestidade. É uma pessoa bruta com um coração enorme, interpretada por Sandra Oh, uma atriz que mereceria uma carreira de muito mais destaque. Foi impossível desgostar de uma personagem assim, principalmente porque ela era justo aquilo de que a Meredith precisava. Juntas elas eram imbatíveis naquele hospital. Eu sinceramente achei que não conseguiria continuar acompanhando Grey’s Anatomy quando Sandra Oh deu adeus. Foi um baque muito grande. Maior, sinceramente, do que o de quando certo marido de certa protagonista morreu.

Um dia eu ainda apareço com a lista das minhas pessoas preferidas com quem eu convivo no mundo real. Um spoiler: mamãe está na lista.

Dois anos de blog e uma comemoração contida

adorariaNesta semana o blog comemora dois anos de vida (eu acho que é nesta semana, mas é em setembro sem dúvida!), e como o negócio aqui é meio parado, não teremos sorteios, brindes, nem nada dessas coisas que os blogs legais têm. Ano passado, como comemoração, eu expliquei no post de aniversário a origem do nome do blog, mas agora já queimei esse cartucho e não consegui pensar em nada assim tão legal. Por isso resolvi apenas falar das últimas coisas que andei lendo e assistindo. Ok, eu sei que para isso nem precisava avisar do aniversário, mas deixar passar em branco também não é do meu feitio.

Tudo bem. Eu andei lendo alguns livros bem legais, assistindo a muita série ruim (e a outras boazinhas) e poucos filmes que valeram a pena. Não tenho tido tempo de ir ao cinema, por isso tenho vivido na ilegalidade. Sempre acho que um dia o governo vai me pegar e meu azar vai ser tão grande que eles vão querer me fazer de exemplo: cadeia nela!

Minha meta de leitura de 2017 está indo bem graças a um novo método: eu agora calculo antecipadamente quantas páginas preciso ler por dia, durante o mês inteiro, e anoto num papel (que acaba virando marcador) as datas e as páginas a que tenho que chegar a cada dia. No momento estou lendo No caminho de Swann e minha média é de 15 páginas por dia, um número perfeito para ler bem de manhãzinha antes de começar a labuta. Com o mesmo método eu terminei Vida e destino, Doutor Jivago e Todos os Contos da Clarice Lispector. Fico feliz com esse método porque finalmente estou dando conta de ler a meta sem me embananar com tudo o que me aparece fora dela. Parece neurose, mas facilita muito e me ajuda a ter constância.

Só que minhas últimas leituras não foram clássicos. Continuo lendo Outlander e sigo atrasada com a infinidade de livros da série. Terminei Os tambores de outono – Parte 1, mas a segunda parte ainda me espera. Me empolgo só de olhar a pilha de livros aqui de casa e saber que ainda tenho muito a aproveitar na companhia de Claire e Jamie. Também li dois thrillers bem bacanas: O casal que mora ao lado e Por trás dos seus olhos. O primeiro é curtinho e traz o suspense do desaparecimento de um bebê que fica sozinho em casa enquanto os pais jantam na casa ao lado. Dá para ler em uma sentada e, mesmo que não tenha um fim tão surpreendente, nos deixa ligados do começo ao fim. O segundo livro é um pouco mais longo e narra a história de uma mulher que fica amiga da esposa do chefe. Acontece que ela teve um flerte com ele (beijou o sujeito, para falar a verdade). O fim é bem louco, mas bem diferente, e me deixou de queixo caído. No Skoob quase todo mundo que leu ficou da mesma forma.

Animada com esses dois acabei lendo outros thrillers bem ruins: Um pequeno favor e A desconhecida. Os dois contam histórias de mulheres mentalmente perturbadas e desinteressantes. Também li (finalmente!) Agora e para sempre, Lara Jean e Mr. Romance. Ambos foram bem fofos.

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Mike e Harvey lindos

Agosto e início de setembro são sempre meio parados para as séries de televisão, mas mesmo assim encontrei algumas interessantes. Comecei a ver Suits sem acreditar que investiria muito do meu tempo, mas agora estou viciada em Mike e Harvey. Esses dois eu shippo muito (e acabo de descobrir que já existe um nome para o ship deles: Marvey). Falando em shippar, terminei por estes dias a segunda temporada de Animal Kingdom e, se na primeira temporada eu não tinha certeza de que a série iria vingar, a segunda temporada veio para me dizer que sim, os meninos Cody são especiais e merecem ser acompanhados. Pena que são apenas 13 episódios.

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Jessica Biel em The Sinner

Quanto aos suspenses, se eu não gostei de Mr. Mercedes, The Sinner foi bem diferente. Tem a Jessical Biel e o Bill Pulman. O piloto da série me surpreendeu por um evento que pareceu muito aleatório (não dá para ser mais específica sem estragar tudo), mas que foi bem costurado nos outros sete episódios. Strike, aquele da J. K. Rowling, estreou e já acabou (foi tudo muito rápido mesmo) em apenas cinco partes. Uma terceira temporada vai chegar em 2018, mas os capítulos são tão curtos que sinto que, se eu não tivesse lido os livros, não teria entendido coisa nenhuma. Mas a música da abertura é ótima! (só que não vale a pena assistir só por isso, dá para ver a abertura pelo Youtube).

Nas últimas semanas comecei a assistir a The Deuce, que parece bem promissora. É do mesmo criador de The Wire (de que meu marido tentou me fazer gostar, sem sucesso) e tem no elenco James Franco e Maggie Gyllenhaal. A série é lenta e talvez entusiasme mais os fãs de cinema do que os de televisão, mas ainda é cedo para tirar conclusões. Liar e Star Trek: Discovery são outras duas que comecei a assistir por esses dias e ainda não sei aonde vão chegar. Por enquanto foram dois episódios de cada, vale acompanhar mais um pouco.

Ultimamente os filmes estão meio ausentes dos meus dias. Sempre tenho que escolher à noite entre livro, filme e série e os filmes têm levado a pior. Mas eu vi Baby Driver que foi muito bom, cheio de ação e com cenas de carro melhores que as de Velozes e Furiosos (mentira, não posso comparar; nunca vi a franquia do Vin Diesel, que todo mundo ou ama ou odeia). Também vi The Big Sick, uma comédia romântica que tinha tudo para ser boa mas se perdeu na baboseira de tentar dar um final feliz (e chato) para todo mundo.

Bom, o post de comemoração é este. Não parece muito comemorativo, mas estou bem feliz de ter um cantinho há dois anos para falar das minhas paixões mais antigas. Para celebrar um pouquinho mais, segura esse vídeo do Johnny Castle ensinando a Baby a dançar:

O que aconteceu até agora na nona temporada de RuPaul’s Drag Race

rupauls drag race 9 temporada

Já vi oito episódios da nona temporada de RuPaul’s Drag Race e ainda não tenho uma drag preferida. Acho que a Trinity vai ganhar. Eureka saiu num acidente infeliz. Valentina não tem cacife. Alexis Michelle pensa que é melhor do que é de verdade. Sasha Velour precisa dar uma boa arrancada se quiser brilhar desse ponto em diante. O mesmo vale para Peppermint, embora ela tenha feito a melhor coreografia de lipsync da história do programa. Shea Couleé parece uma ótima concorrente, mas só mostrou lapsos  de brilho e não um brilho intenso.

Vimos pouco de todas, mas não acho que o nível das competidoras esteja ruim, tenho uma outra hipótese: a temporada se concentrou, até agora, em quem nunca esteve nem um pouquinho perto de ganhar nada de jeito nenhum. No talento, Jaymes, Kimora Black, Charlie Hides, Cynthia Lee Fountaine, Aja e Farrah Moan, somadas, não dão meia Courtney Act. Só que elas são personagens excelentes e eu tenho certeza de que lá na produção de Drag Race ninguém pôde resistir a contar essas histórias.

A primeira a sair foi a esquisitíssima Jaymes Mansfield. Quem acampanha o reality há muito tempo sabe que os patinhos feios despertam a curiosidade e que o patinho não é feio porque é feio,  mas porque não se encaixa. Na primeira temporada havia Tammie Brown, uma drag que parece ter como missão de vida deixar o público desconfortável. Mas era de propósito que ela fazia assim. Ficou claro que o estilo de Tammie Brown não era bem o do tipo de participante que Drag Race coroava. As temporadas seguintes também tiveram gente excêntrica, até que Sharon Needles conseguiu esculpir a esquisitice e levar o troféu para casa na quarta edição do programa.

Só que o problema de Jaymes Mansfield era outro. Nada do que ela fez deu certo. No Untucked, ela parecia deslocada e desconfortável. Seu ponto de partida era a comédia, mas a parte engraçada não apareceu. Ela estava nervosa, não demonstrava traquejo nem versatilidade. As outras competidoras perceberam e demorou minutos para que, tanto elas como a edição do programa, começassem a tratar Mansfield como café-com-leite. A história dela, como ali não poderia deixar de ser, foi a de alguém que encontrou uma barreira intransponível bem na hora em que precisava se livrar de todos os limites. Essa história é necessariamente verdadeira ou faz justiça à vida  da participante? Não importa. O que importa é que, no universo que se revela em Drag Race, Jaymes Mansfield foi a primeira a sair e virou um símbolo para todas as que já perderam feio.

Kimora Black não é muito interessante. Acho que toda temporada tem aquela drag que só quer ser bonita, e com essas eu implico. No caso de Kimora, era até engraçado ver a diferença entre o que ela pensava de si (em estilo, carisma, essas coisas) e a realidade do que conseguiu demonstrar.  Ela nem teve muito tempo de tela. Charlie Hides, a terceira a sair, não acrescentou muito no que diz respeito ao propósito da competição, mas o arco dela também teve um aceno ao que talvez seja o tema principal de Drag Race desde o começo, a autoestima. Com mais de 50 anos, nem ela nem a edição deixaram de destacar as diferenças que a idade traz.

Para mim, a saída de Charlie foi a mais marcante. Ela foi a que se negou a dublar [lipsyncar?haha] pela própria vida. Quer dizer: Charlie ficou respeitosamente no palco, sem dar um passo para a frente ou para trás e dublou sem nem fingir entusiasmo. No ideário das participantes do programa, que é aquele conjunto feito das ideias que são marteladas por todas elas desde a primeira temporada, o que Charlie fez foi um verdadeiro crime. Todas falam em deixar a vida no palco, dizem que aquela é a oportunidade de uma vida, que se fosse para fazer pela metade seria melhor ficar em casa. Eu acho que essa tem que ser a postura de quem quer competir, é claro, mas também entendo o que Charlie Hides fez. Sempre tem uma certa classe em quem se nega a fazer o que todo mundo faz, principalmente quando isso é garantia de suicídio social. De certa forma, a desistência de Charlie quebra um pouco a história que o programa quer contar e vira um contraponto ao que aconteceu com Jaymes Mansfield na primeira eliminação. Jaymes saiu chorando porque estar fora de Drag Race era uma espécie de morte, enquanto Charlie, do alto de sua experiência, foi embora como quem afirma que vai continuar fazendo o que já fazia antes do reality show. E isso é muito legal porque, sem negar a importância de RPDR, assim como The Voice não é dono da música, Drag Race também não deve ser dono da arte drag. “Eu sei cantar”, Charlie disse, “dublar é uma coisa que eu não faço”.  Ué, mas ela sabia que teria que dublar! Sim, e quando a hora chegou, ela virou as costas e saiu andando. Esse é um orgulho que eu compreendo.

O que eu não entendo é o apelo do drag de Cynthia Lee Fountaine. É verdade que ela parece uma das pessoas mais queridas do planeta, mas pouca gente fez coisas tão sem sentido. Na oitava temporada Cynthia foi eliminada com um shortinho bem abaixo da competição. Teve uma segunda chance e mostrou que não tinha o que mostrar. Pôde fazer a Kim Kardashian, e o resultado foi… triste. Mas vocês a viram no Untucked ou naqueles momentos de descontração (meio ensaiados, mas tudo bem) enquanto as meninas se pintam? Ela não só tem histórias boas para contar, como ainda por cima oferece aquele tipo de companheirismo que é um dos pilares do discurso de Drag Race. Essa participação grande que Cynthia Lee Fountaine teve, mesmo quando não tinha a menor chance de vencer, mostra que o programa parece mais preocupado com personagens do que com competidoras. Por não ser boa no jogo e não ter uma história destacada, alguém como Farrah Moan passa sem deixar rastros.

You look like Linda Evangelista

Para mim, o que esta nona edição teve de melhor, até agora, foi o potencial mêmico de mais uma competidora que não teve a menor chance: Aja. Eu acho que Aja é do nível de Shangela, quando Shangela era recém chegada. Aja não sabe se maquiar, nem se vestir, nem atuar, nem cantar e, pelo que demonstrou no Untucked, não era lá um poço de bondade. Seu melhor momento foi  quando descarregou sua frustração em Valentina, no que até agora é o meme mais engraçado de 2017.

A raiva de Aja foi uma das coisas mais gostosas que eu já vi na vida. É um momento que só RPDR é capaz de produzir. Eu tenho certeza de que aquele diálogo não foi previamente escrito porque ator nenhum poderia fingir toda aquela variedade de sentimentos. Tem inveja? Aham. Tem indignação por injustiça? Sim. Tem tensão sexual? Também tem. Ainda por cima, Aja declama  tudo com uma sinceridade que eu só tinha visto em crianças, especificamente aquelas sem filtro algum e insensíveis ao subtexto que pode aparecer em qualquer frase que uma pessoa fala. Só alguém completamente despreparado para ter um surto assim, para demonstrar tudo o que sente enquanto diz só uma parte do que queria dizer.

Por tudo isso, a nona temporada fica na média. Não vai ser a melhor. Não tem gente brilhante e carismática como Bianca Del Rio, Raja ou Jinx Monsoon, mas também não é um mar de drags pouco interessantes como foi a sétima edição (e eu digo isso em retrospecto, porque na época eu me lembro de ter gostado até de Violet Chachki). O programa vai continuar tendo seu apelo por causa de suas histórias universais e porque, entre outras coisas, RuPaul Charles é a elegância em pessoa.

Família Soprano

familia soprano

A quinta temporada de Mad Men tem uma morte que me levou a abandonar meus sentimentos ambíguos por Don Draper. Dali em diante eu não consegui ver bondade nele. Mas a quinta temporada é bem longe. Antes disso, para cada falha de caráter ou compulsão pela mentira, Don Draper demonstrava uma fragilidade compreensível ou um gesto generoso e nobre. Neste mês de abril eu venci a minha resistência e comecei a ver Família Soprano. Não me enrolei com a primeira temporada, vi dois episódios por noite e até agora venho achando que todos os elogios que a série ganha são merecidos. Mas tem uma coisa que me espanta. Já pela metade da jornada dá para perceber que Tony Soprano não é aquele sujeito com altos e baixos, como são Draper e o Walter White de Breaking Bad. Descontada a complexidade que um personagem bem escrito e vivido por um ótimo ator sempre vai ter, Tony Soprano é ruim de dar medo. Ele é um monstro.

Os Sopranos são uma família complicada. Tony até gosta dos filhos mas, pelo menos nesse começo de série, eles são a penúltima prioridade em sua cabeça. Tudo é um aborrecimento. Carmela, a esposa, é a hipocrisia em forma de dona de casa rica. Livia, a mãe de Tony, é um bom argumento para quem acha que um fruto não cai muito longe da árvore. A velha é tão, mas tão malvada que trama a morte do próprio filho por pouco mais que um capricho. De dar pena são as crianças: uma menina, às vésperas de terminar a high school, e um menino fofinho e confuso, bem naquela fase bizarra da puberdade. À primeira vista eles são secundários, mas com o desenrolar da temporada fica claro que fazem parte de um argumento central da série, que é: insalubridade gera insalubridade, loucura gera loucura, bagunça gera bagunça.

Esse argumento é tão bem costurado que fica difícil discordar daqueles que dizem que Família Soprano fez parte de uma revolução na maneira de contar histórias na tevê. Os treze episódios reforçam todos os mesmos pontos, não há aquelas sobras para testar a opinião do público aqui e ali, nem personagens chatos que inspirem aquela ojeriza que roteirista gosta de alimentar.  Essa primeira temporada não tem falso problema e a produção ainda não precisava se preocupar com ganchos sem sentido que são uma maneira de levantar falatório em redes sociais. Não tem como negar que as séries muito premiadas dos anos 2000 e 2010 aprenderam bastante com Família Soprano. A história tem um centro nítido e indiscutível: aquele monstro de que eu falei no primeiro parágrafo.

Não faz muito tempo que eu comecei a perceber que há atores capazes de tirar sentido de uma produção capenga. No fim de março eu tentei ver Sons of Anarchy e não consegui. Eu ficava frustrada com a história se concentrar em alguém tão desinteressante como Jax, vivido por um ator tão fraco como Charlie Hunnam. Eu queria acompanhar Ron Perlman, ator dez vezes melhor num personagem muito mais complexo, mas a série não me deixava. Claro que tem coisa impossível de salvar, mas tem gente que justifica o salário altíssimo. James Gandolfini era um desses atores, e eu nem sei se ele ganhava assim tão bem. Tony Soprano é assustador. Sem ele a série perderia muito. Numa expressão de Gandolfini, ele pode parecer bonzinho e frágil, mas você já assistiu a O Homem Urso, de Werner Herzog? Tony Soprano parece um daqueles ursos fofões, atabalhoados, com um jeito de personagem de desenho, e aí na sequência seguinte ele está enchendo alguém de socos ou chegando muito perto da cara de um outro enquanto respira pesadamente pela boca e pelo nariz ao mesmo tempo. Esse tipo de violência-surpresa é um clássico dos filmes de máfia, basta lembrar de Joe Pesci em Os Bons Companheiros, mas Família Soprano leva a tensão para fora do ambiente de trabalho: não é só nos negócios que Tony parece prestes a matar um, ele leva a mesma agressividade para casa, ou para a terapia. Os filmes de máfia mais celebrados já investiam na construção desse personagem que não consegue levar a vida  do lado de fora de um ciclo de brutalidade e confusão mental, mas o formato de série faz com que Tony Soprano seja o mafioso que a gente pode ver mais de perto.

família soprano

E isso também tem a ver com o espaço que a terapia ocupa na série. Assim como em A Máfia no Divã, a premissa inicial de Família Soprano é de que o chefe de uma família criminosa italiana está nervoso e deprimido a ponto de explodir. A época não é boa para os negócios, os lucros já não são os mesmos porque há muita concorrência no ofício do crime; a notoriedade dos mafiosos, que nunca foi positiva, agora ganhou um verniz de caricatura e galhofa. Soterrado pelo tamanho das responsabilidades que assumiu e desiludido com o despropósito da vida adulta, Tony começa a ter ataques de pânico. Isso está no piloto. A partir daí, as sessões de terapia viram um recurso para desenvolver os temas da série. Mas é um recurso, não uma muleta. Não é que a terapia vá explicar tudo.

Há ocasiões em que discurso e prática vão para lados diferentes. A certa altura há uma tensão sexual entre Tony Soprano e Jennifer Melfi, a terapeuta, mas ele trata de sepultar  qualquer possibilidade de intimidade com seus apelos à violência e total falta de modos. Apesar disso, ela persevera. É por causa dos insights dela que conseguimos entender a história dos Sopranos de trás para a frente. Cada lembrança ou flashback tem sua importância ressaltada para o momento presente, e assim Melfi funciona também como a consciência do espectador, dizendo educadamente coisas que poderiam se resumir a um “Tony, meu querido, você não tinha como dar certo tendo sido criado por esse bando de malucos”. Isso quer dizer que ele é humano, ou seja, os defeitos não vieram do nada. Mas ele não é menos monstruoso por ser humano. Nessa primeira temporada eu tive a impressão de que Tony Soprano não gosta de ninguém. Não tem um arco para mostrar que ele foi obrigado a agir como age, e a série não se preocupa em fazer malabarismos para relativizar as falhas de seu protagonista.

Família Soprano tem uma aura de infelicidade pairando sobre todo mundo. Às vezes nem o humor negro e a qualidade cinematográfica conseguem dissipar esse sentimento. O resultado é um clima de melancolia e inevitabilidade da desgraça, somado à sensação de que ninguém presta. Até aqui a série tem sido de um pessimismo bem corajoso, mas ficam bem óbvios os motivos do sucesso tão grande e de sua permanência na memória coletiva: tem muito personagem carismático por m², uma história de crimes conduzida gota a gota, tudo do bom e do melhor. Se meus planos derem certo, eu termino a segunda temporada ainda antes de maio chegar.

Os pilotos da fall season 2016

A fall season mal começou e eu já estou cansada de tantos pilotos desnecessários e sem futuro. Como eu já falei em outro texto, todo ano eu gosto de acompanhar as séries que começam no início de cada estação. O outono é a melhor época, geralmente recheado de séries que querem vir para ficar. Mas 2016 está difícil. Ainda tem muita coisa por estrear, e eu pretendo continuar firme e forte, mas já fico um pouco sufocada por ver um piloto atrás do outro, e então começo a lembrar que Piloto é um dos cachorrinhos da minha mãe, que eu morro de saudades dele, e que não faz sentido dar o nome de Piloto a um cachorrinho. Mas ninguém tem nada a ver com isso. Vamos resumir e comentar com bastante irresponsabilidade e ligeireza aquilo a que pessoas dedicaram suas vidas, carreiras e seus esforços mais sinceros? Sim.

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Mary+Jane

A primeira bomba que me apareceu foi Mary+Jane, da MTV. A sinopse não é muito animadora e imagino que deve ter afastado muitas pessoas com mais bom senso do que eu. Jordan e Paige são duas amigas que querem se firmar na venda de maconha, mas precisam lidar com os imprevistos do negócio. Parece bom? Os lobistas do crescente mercado americano de cannabis acharam que era uma boa. Mas Mary+Jane tem diálogos toscos e personagens desprovidas de carisma. Os produtores tentaram alguma coisa parecida com Broad City, mirando na direção de um pessoal um pouquinho mais novo, só que nada flui bem. E eu falo isso com a propriedade de quem acompanhou todas as temporadas de Awkward, quer dizer: não desgostei só porque deixei de ser teen faz tempo.

Ainda no tema maconha (que, por algum motivo que me escapa, a indústria do entretenimento parece achar muito interessante) temos High Maintenance. O protagonista é chamado de The Guy. De bicicleta por Nova York, ele leva seu produto para todo tipo de cliente. A ideia era razoável, e eu até gostei do piloto, mas no segundo episódio percebi que a história não focaria nos mesmos personagens, e que a cada capítulo seríamos apresentados a alguém com uma nova neurose. Com tantas séries para ver e com tão pouco tempo, desisti de High Maintenance só porque tenho uma certa implicância com esse formato.

StartUp foi o piloto seguinte. Admito que, mesmo com seus probleminhas, esse quase me pegou. Com Adam Brody e Martin Freeman no elenco, eu nem precisei me ligar muito na trama que o piloto apresentava. Mas eu sei que existe uma trama. Deixa eu tentar explicá-la. Adam Brody é um baixo executivo do ramo da informática (que coisa mais velha para se falar: o ramo da informática) e ele está um pouco chateado com o trabalho. Aquela coisa: ele ganha dinheiro mas não é feliz, o pobrezinho; ele ganha dinheiro mas não se sente realizado; ele quer fazer alguma coisa pelo mundo; ele quer fazer a diferença. E aí ele conhece uma jovem desenvolvedora, uma hacker, uma guria que realmente saca das internets, e ela tem um projeto em que ninguém bota fé, a não ser ele. O que acontece (vamos lá, me acompanhe) é que (1) ela precisa de dinheiro para começar um empreendimento capaz de mudar o mundo, (2) ele encontra esse dinheiro mas (3) esse dinheiro tem uma história complicada que envolve o Martin Freeman transando no banheiro numa cena altamente constrangedora em que a veia da testa dele parece que vai saltar na cara da gente. StartUp tenta ser uma sub-Breaking Bad que entrou na onda de Mr. Robot. Talvez vingue. Caso encorpe, dá para voltar a acompanhar.

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Better Things

Better things foi a melhor coisa que apareceu nesse outono americano. Louis C.K. e Pamela Adlon são os criadores da série produzida pelo FX. Se você já viu Louie deve estar preparado para o humor depressivo desse piloto. Eu sou muito fã de C.K. mas Louie me entristece. Em Better Things o tom é mais leve. A diferença vem da protagonista, vivida por Pamela Adlon, que tem uma presença muito mais calma e engraçada do que a de Louis C.K. Em Better Things, C.K. faz bem em ficar fora das câmeras. Posso não gargalhar com Adlon, como acontece com os stand-ups dele, mas a melancolia que ela transmite tem um toque de simpatia, e acompanhá-la é meio como conversar com alguém um pouco desiludido e pessimista, mas sempre agradável. Adlon me convence e me diverte no papel de Sam, que cria sozinha três filhas e tenta equilibrar uma carreira decadente de atriz. A trilha sonora até agora está ótima, o próprio C.K. escreve bastante e dirigiu o piloto. Dá para sentir a voz dele por trás de muitas situações, mas eu tenho notado que quem não percebe Better Things como um projeto autoral acaba patinando um pouco no chove-não-molha das situações. Fiquei feliz pois uma segunda temporada já está garantida.

Na sequência vi The Good Place. É uma comédia com Kristen Bell e Ted Danson. Os primeiros cincos minutos do piloto pareceram os piores da minha vida de telespectadora, mas eu estava sentada confortavelmente no sofá e aguentei. Para a minha surpresa a série melhora, mas ainda assim não empolga. Kristen Bell morreu e vai parar no “good place”, o lugar reservado no além para pessoas boas com atitudes altruístas. O problema é que em vida ela não foi uma boa pessoa, e o fato de ela estar ali só comprova que Ted Danson, o responsável por selecionar só os melhores para o melhor lugar, errou feio. Agora ela precisa provar que merece estar onde está. O roteiro é muito esquematizado, e isso estraga a história. Acho que essa série tem cheiro de cancelamento. A ideia não é ruim, mas tem pinta de esquete do Porta dos Fundos: às vezes é legal, mas precisa ter menos de quatro minutos.

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Outro piloto assistido foi This is Us. A série conta a história de vários personagens que, de alguma forma, estão ligados. Se tem alguma graça, ela está em não saber que ligação é essa e como ela se dá. Digamos apenas que o Jess Mariano, aquele de Gilmore Girls, está casado com a Mandy Moore e ela está grávida de trigêmeos. Paralelamente, dois irmãos passam por alguns problemas de auto-estima, e um homem investiga o paradeiro do pai biológico, que o abandonou ainda bebê. Achei o piloto melodramático ao excesso, e larguei porque estou com a minha cota de dramalhões já bem preenchida por Grey’s Anatomy e How to get away with murder.

Designated Survivor traz o eterno Jack Bauer, só que agora ele não precisa salvar o presidente: ele é o presidente. Tudo bem, ele não é mais o Jack Bauer. Tom Kirkman é só um cara com um emprego bem sem graça no governo americano. Ele tem uma casa relativamente modesta e uma vida pacata, mas BUM: alguém explode o Capitólio, todo mundo na linha de sucessão morre e, por algum motivo que deve ser muito claro para quem entende do sistema político americano, Tom agora é o presidente. É o tipo de série que promete ação e intriga. Mas eu não acompanho nem House of Cards, por isso fiz minha obrigação e só vi o piloto.  Para quem gosta deve valer a pena. Acho que vai durar.

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Easy

Easy foi a estreia da Netflix que mais me interessou. O piloto foi ótimo, contando a história de um casal que caiu no marasmo sexual depois de alguns anos de casamento. Começou muito bem dirigido, os atores eram excelentes e toda a discussão era sutil e tratada de um ponto de vista adulto. Sabe quando o diretor é super eloquente com as imagens? Easy ao mesmo tempo não precisa mastigar as informações e nem soa pretensioso ou pedante. Estava eu feliz da vida por encontrar essa série, já comprando a ideia daquele casal e imaginando o que viria pela frente, quando descubro que cada episódio traria uma história nova com novos personagens. É a segunda vez que eu digo isso hoje: detesto esse formato. Uma pena.

Por último, uma série que para mim foi uma surpresa. Pitch é sobre uma jovem jogadora de beisebol que conseguiu a façanha de ser a primeira mulher contratada para jogar na liga principal. Na história ela vai precisar superar vários obstáculos apenas por ser mulher. Não quero nem me empolgar muito para não me decepcionar depois. Só vi dois episódios, mas até agora estou adorando Ginny, a protagonista. Já tem um shipp rolando e tudo.

Também vi outros pilotos: Bull, Falling Water, Speechless e The Exorcist. Mas, confie em mim, eles não merecem nem um parágrafo aqui. Felizmente, esse outono americano ainda tem umas promessas. Estou bem curiosa para ver Crisis in Six Scenes, a anunciada série de Woody Allen com Milley Cyrus, e aquela Westworld, que é da HBO e tem Rodrigo Santoro. Além disso, Masterchef: Profissionais começou nessa semana e a Paola Carosella já teve que enquadrar meio mundo. Quando eu conseguir marcar tudo como visto, meu prêmio vai ser uma badge do Banco de Séries. Viu como vale a pena?

Animal Kingdom tenta ser cool, mas é legal?

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Se você gosta de GTA, aquele joguinho, acho que Animal Kingdom é para você. Se assim como eu, você nunca jogou GTA, talvez também encontre um motivo aleatório para gostar de Animal Kingdom. A série é baseada no filme australiano de mesmo nome, de 2010. E não, não tem nada a ver com o parque da Disney. O reino animal aqui é cheio de testosterona e provas de macheza, e AK é basicamente uma série de homem (e é tão de homem que chega a ser homoerótica) numa Califórnia linda e ensolarada.

Nada disso me chamaria a atenção, não fosse um pequeno detalhe. O motivo para eu acompanhar o piloto foi só um: Scott Speedman, mais conhecido como o Ben de Felicity. A sinopse não me agradou, mas por causa dessa paixão antiga, dei uma chance para a série. Ele era tão bonzinho em Felicity, mas em Animal Kingdom a conversa é outra: homens saltando de paraquedas, roubos, armas, violência desnecessária, violência súbita e imprevisível, surfistas, fugas para o México, carros gigantes, peitorais, muita droga e sexo, tatuagens no cóccix, drinques no meio da tarde, carreiras de cocaína cheiradas em família, perseguições policiais. Tudo o que você vê num filme como Velozes e Furiosos, também vai encontrar aqui em Animal Kingdom. Parece uma porcaria, e no fim das contas eu sei que não sou o público-alvo, mas aconteceu alguma coisa ali no meio que fez a série ficar interessante. Eu sou a primeira pessoa a desistir de filmes e séries com um universo tão masculino. No início achei que era só a inércia de continuar vendo homens lindos e descamisados numa fotografia bonita, mas depois percebi que apenas isso não me faria continuar acompanhando uma série cheia de clichês de machinho. O que me fez continuar, então? Eu acho que eu fui cativada pela história e pelo cenário paradisíaco.

Joshua (chamado de J. para parecer mais malandro) é um garoto que se vê sozinho depois que a mãe morre de overdose. Sem saber do pai e sem outra opção, ele entra em contato com a avó materna, que ele não vê há muito tempo, e vai morar com ela. Smurf ( a única mulher entre vários homens é ironicamente chamada de Smurf) é uma avó que não lembra em nada uma senhora maternal. Ninguém a chama de mãe, e em alguns momentos paira uma dúvida sobre o relacionamento dela com os filhos –  tem um ar incestuoso sobre as cabeças de todo mundo. Assim, J. vai morar numa casa grande com a avó e os quatro tios. Três muito bonitos, entre eles o Scott Speedman, e um com cara de maluco. Eles são jovens e trabalham para Smurf. E qual é o trabalho? Realizar roubos grandes, planejados vagarosamente, e de ótimo rendimento. Daí a explicação para casas boas e carros de luxo. Assim que o menino novo chega se vê incluído nos planos de Smurf, e a ideia de Animal Kingdom é nos interessar em saber se o novato vai se deixar levar pela vida fácil da família.

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Longe do alcance da mamãe Smurf eles não são tão maus

Nos cinco episódios que eu assisti (são dez no total, e a série já foi renovada para uma segunda temporada), J. foi o personagem que menos me interessou. Ele é o menino perdido e de poucas palavras, bem ao estilo de uns filmes com Mark Wahlberg. Baz (Scott Speedman, hehe) foi quem mais de deixou curiosa. Ele é o único filho adotivo de Smurf, e parece ser o único homem razoável da série, mas a cada episódio isso é botado em dúvida e pode ser que ele seja o capeta em forma de homem bonito. Tem um certo suspense sobre o passado dessa família, e foi isso que me capturou.

Mas a série também sustenta essa história através de cenários estonteantes. Como eu disse, GTA está ali em cada cantinho. Eu não joguei, mas tal qual uma fumante passiva vi muito do jogo, e posso dizer que toda cena externa carrega uma gotinha de GTA. Depois de uma discussão entre irmãos, nada melhor do que entrar no carro e rodar por ruas charmosas enquanto o sol se põe. Depois de uma falcatrua que deu errado, o remédio é andar de bicicleta até chegar na praia num belo dia ensolarado. Difícil largar uma série assim. Parte da experiência é estar naqueles lugares. Enquanto a história, as locações e Scott Speedman continuarem me cativando eu vou continuar assistindo.

Adeus, Mindy. Adeus, Modern Family.

Esses dias eu li uma entrevista com uma senhora aposentada que leu e resenhou mais de mil livros no site da Amazon brasileira. A entrevista é bem legal, mas o que mais me chamou a atenção foi que a senhora disse só resenhar os livros que ela gostou, porque, segundo ela, já existe pouca gente lendo por aqui, de modo que escrever ‘horroroso’ na avaliação não vai contribuir em nada. Eu penso da mesma forma. Acho que resenhas de livros, séries e filmes que você achou muito ruim não fomentam nem leitura nem nada. Falar de algo que tem pontos positivos e negativos, ou até mesmo de algo que não é tudo isso que parece ser, acaba sendo interessante, principalmente pra ver como as pessoas pensam diferente e têm gostos diferentes, mas quando você praticamente xinga algo que você achou muito, mas muito ruim, acaba falando só sobre você, não sobre o que está sendo avaliado.

Não gosto de escrever falando mal de alguma coisa que eu li ou vi, porque minhas reclamações têm mais a ver com meu gosto pessoal do que com a coisa ser ruim realmente. Acho que essa é uma confusão que se faz hoje em dia: quando eu, que não sou crítica especializada em nada, faço uma resenha ou um simples comentário, estou muito mais falando da minha experiência com aquela coisa do que da coisa em si.

Todo ano eu abandono umas seis séries. Tenho mania de querer ver quase tudo o que é novo, então acabo ficando abarrotada de séries, novas e antigas. No início da temporada, em setembro e outubro, eu me dedico a assistir todas e tentar ficar em dia. Aquela coisa de querer matar no peito. Claro que eu não consigo, e quando chega essa época, fim de novembro, eu estou totalmente desacorçoada da vida. Então só me resta  desistir das que estão me dando nos nervos.  Eu poderia fazer um texto para cada uma que ficou pelo caminho, falando tudo o que não dá mais certo, os motivos de serem tão ruins, mas prefiro dizer apenas que elas não cabem mais na minha vida, mas podem caber na de muitas outras pessoas.

Como são muitas as séries abandonadas, vou focar este post em apenas duas, as que eu acompanhei por todas as temporadas, até agora, para largar mão nesta semana que passou, no último episódio que foi ao ar.

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The Mindy Project. Depois de muita relutância e tristeza, abandonei. A primeira temporada foi de ficar no coração. Vi duas vezes. Tudo batia com o que eu queria ver e nunca tinha encontrado. Amei a protagonista desde o começo. Adorava as sacadas da Mindy, e o seu jeito fofamente fútil. Se a protagonista fosse uma loira bem enjoada a série nunca daria certo, mas com a Mindy indiana, e as sacadas que isso permite, ficou perfeito. O resto do elenco também é ótimo. O clima era muito acolhedor. Vontade de ser amiga da Mindy Kaling/Lahiri. Mas desde o final da segunda temporada, eu percebi que a coisa estava piorando, as piadinhas de repente ficaram repetitivas.  Pipocam notícias sobre como a série vem lutando pra se manter em pé,  tanto é que saiu da TV e foi para o Hulu, mas acho que eu cansei. Maratonando foi bom, mas quando eu comecei a ver um episódio por semana, eu e a série saímos de sintonia.

O mesmo caso aconteceu com Modern Family. Minha paixão por dois personagens foi instantânea. O ator que faz o Mitchell é muito bom, muito mesmo. Sabe aquela coisa de virar o olho pra dizer que algo é enfadonho? Eu nunca consegui fazer, mas o Mitchell fez escola disso. E o Phil então? Eu ria apenas de olhar para a cara dele. Sem contar que a química dele com os filhos era sensacional. Eles realmente parecem uma família. O timing das piadas era impressionante. Tudo funcionava. E então o que eu mais gostava de repente se transformou no pior da série. Tudo ficou previsível. Eu sentia que cada personagem só pode ter umas duas características, como ser vaidoso e competitivo no caso do Cam. Quando notei estava odiando quase todos os personagens (exceções para Mitchell e Phil, lógico ❤ mas infelizmente eles não podem salvar a série). As piadas não estavam batendo no esquema de uma vez por semana. Mas olhando pras primeiras temporadas, tenho quase certeza que a série está na mesma, não consegui ver muita mudança. Notei então que o problema era comigo. Talvez o problema seja ver comédias de 20 minutos uma vez por semana. 

Uma das minhas séries favoritas de todo os tempos é Seinfeld. Claro que nunca vi na época, por isso nunca tive a experiência de acompanhar um episódio por vez. Quando penso nas comédias que eu amo, sinto que nunca precisei ver um episódio por semana. Por isso tento não culpar The Mindy Project e Modern Family, acho que talvez um dia eu aprenda a ver série de comédia de vinte minutos como todo mundo, mas por por enquanto, com muita dor no coração, me despeço dessas duas.