O carnaval é no próximo fim de semana. Um momento ótimo para você se divertir, torrar no sol, encher a cara, dançar e pular até não poder mais. O que mais acontece no próximo fim de semana? O Oscar! Eu gosto muito do feriado de carnaval, mas acho que o Oscar tem mais a ver com este blog aqui, não? Nos últimos anos eu tenho feito previsões (infundadas, claro!) dos filmes e atores que vão ganhar. Resolvi compartilhar meus palpites furados.
Melhor filme
Quero que ganhe: Manchester à Beira-Mar. Casey Affleck está ótimo em Manchester, mas acho que o filme vai além de um bom ator. Ele consegue falar de um tema profundo e trágico sem cair em pieguices desconcertantes. Manchester mexe com o espectador por deixá-lo desconfortável, e às vezes totalmente sem reação, quando o que era para ser só trágico se apresenta tragicômico. Foi, de longe, o meu preferido.
Acho que vai ganhar: La La Land. Pensando em todas as premiações que antecedem o Oscar, só posso imaginar que La La Land vai levar a estatueta. Eu gostei, e não posso dizer que vou ficar triste se o longa de Damien Chazelle levar uma penca de prêmios. Um filme com o Ryan Gosling sempre vai ter a minha torcida, e acho que este é a cara do Oscar. Não fiquei tão apaixonada como achei que fosse ficar, mas paciência. Agora, se Lion ou Hell or High Water vencerem eu vou ficar ofendidíssima.
Melhor direção
Quero que ganhe: Acho que vou ficar repetitiva, mas quero muito que Kenneth Lonergan ganhe. Com poucos filmes na carreira (e bem mais velho que Damien Chazelle, o favorito para esse ano), acho que este diretor merece uma chance para criar raiz na cabeça do público. Dos três filmes que ele dirigiu, assisti a dois, e os dois são bem peculiares. Digo: não são feitos no piloto automático. Os filmes são longos e discretos, e se fossem livros seriam aqueles grandes romances que acompanham um só personagem numa aventura emocional.
Acho que vai ganhar: Acho que Damien Chazelle vai ganhar. Hollywood adora um menino prodígio e Chazelle foi bem incensado já em Whiplash. Além disso, La La Land é cheio das especificidades técnicas que passam despercebidas para quem, assim como eu, não tem essas manhas. A maior qualidade do diretor, para mim, é que ele é bem jovem mas não é pueril. Isso aparece na hora de escrever, mas também na de dirigir. Eu consigo imaginar gente mais velha fazendo umas coisas muito mais bocós (hehehe, oi Zach Braff!! Oi, Sean Penn, tudo bem?).
Melhor atriz
Quero que ganhe: Isabelle Huppert está incrível em Elle. O tom da atriz neste filme é agressivo, parecia que ela estava brincando com as noções de comportamento de uma pessoa sensata. A sensação é de que Isabelle Huppert desafia-nos a dizer que sua conduta é errada. Eu não costumo dizer essas coisas, mas a personagem de Huppert em Elle é um tapa na cara. Se não ganhar, eu vou dizer que ela foi roubada.
Acho que vai ganhar: Emma Stone. Ela levou todos os prêmios nos últimos meses, e acho que isso já é o suficiente para dizer que vai dar Emma Stone. Quando assisti a La La Land achei que ela estava ótima, e também achei que o diretor deu mais espaço e exigiu mais dela do que do Ryan Gosling. Mas Emma Stone é nova e ainda precisa percorrer um bom caminho até chegar à altura daquilo que Isabelle Huppert fez em Elle.
Melhor ator
Quero que ganhe: Não sei. Casey Affleck ou Denzel Washington. Na semana passada eu até escrevi aqui que torceria pelo Affleck, mas fico oscilando. Eu esperava muito de Fences, que acabou não sendo a experiência transcendental que eu achei que seria. Mas a atuação do casal formado por Washington e Viola Davis é perfeita, é sólida, é avassaladora. Eu já encarei filmes muito distantes da minha zona de conforto só porque tinham a cara do Denzel Washington. Ele já ganhou o Oscar em duas ocasiões (melhor ator e ator coadjuvante), por isso acho que, se tiver alguém em pé de igualdade com ele, esse alguém vai levar.
Acho que vai ganhar: Nesse ano, em pé de igualdade com Denzel Washington só tem Casey Affleck. Pois é, todo mundo tem falado da atuação do irmão mais novo do Ben Affleck. Eu me surpreendi muito com a intensidade dele, e com a forma com que ele e o diretor Kenneth Lonergan conseguiram fazer um estudo de personagem num tom que é incomum em Hollywood, sem muito sentimentalismo. Eu fico pensando em como é que alguém consegue fingir que é alguém que finge que está bem enquanto tenta segurar o choro. Nessas horas eu acho que atores e atrizes merecem ganhar tanto dinheiro.
Melhor atriz coadjuvante
Quero que ganhe: Acho que é unânime, né? Viola Davis está sensacional em Fences, acho que a palavra coadjuvante não dá conta da importância da personagem dela, apesar de Denzel Washington ser mesmo o centro do filme. Isso soou contraditório, né? Mas é que o arco dela não é só complemento ao dele, mas uma espécie de contraponto. O que importa é que tudo o que se espera de uma vencedora do Oscar está ali na atuação de Davis.
Acho que vai ganhar: Viola Davis ganhou tudo, levou todos os prêmios importantes. Acho que ninguém tira dela. Naomie Harris em Moonlight? Parecia o Bruno Gagliasso naquela novela em que ele interpretava um rapaz esquizofrênico. Michelle Williams em Manchester à Beira-Mar? Eu fiquei impressionada, mas ainda prefiro a Davis. Nicole Kidman em Lion? Acho que não.
Melhor ator coadjuvante
Quero que ganhe: Michael Shannon. A definição de um coadjuvante: pouco tempo de tela e desempenho impressionante. Não é de admirar que os bons e badalados Amy Adams e Jake Gyllenhaal sejam esnobados, enquanto Shannon ganha a indicação por um detetive moribundo e destemido em Animais Noturnos. O personagem parece uma assombração, um fantasma, ou alguma outra entidade criada pela consciência de Jake Gyllenhaal, porque cada fala de Shannon só faz aumentar a bizarrice de um tipo de violência que é bastante verossímil, mas que nem por isso deixa de ser irreal. Eu acho que já era para eu ter entendido isso antes de Shannon aparecer em Animais Noturnos, mas quando ele aparece consegue emprestar para o filme uma carga de loucura que leva a história para uma outra direção.
Acho que vai ganhar: Não sei. Dev Patel, se o mundo der azar. Uma possibilidade melhor é Mahershala Ali. Enquanto ele esteve em tela, Moonlight estava muito bom. O papel de Ali alimenta toda uma tradição, nos filmes americanos, de foras-da-lei que na verdade têm o coração mole e um pezinho na espiritualidade. Acho que está entre esses dois. Só eu sei o quanto detestei Dev Patel e Rooney Mara em Lion.
Deixei a categoria de melhor roteiro original porque ainda não assisti a 20th Century Women, a de melhor documentário porque ainda me faltam três, a de filme estrangeiro porque ainda me faltam dois (mas Toni Erdmann vai ganhar!) e todas as outras porque olha a minha cara de quem sabe diferenciar edição de som de mixagem de som. Falta menos de uma semana.