A mulher na janela

a mulher na janelaÉ muito bom engatar em uma leitura e esquecer do resto do mundo. Acho que nunca vou me cansar da sensação de prazer que um livro proporciona, porque ela é diferente de tudo. A mulher na janela nem é o melhor exemplo, porque no fim das contas a empolgação foi diminuindo no fim, mas mesmo assim eu engatei nele e por boa parte do tempo eu pensei “talvez (provavelmente!) eu nem lembre da história em alguns meses, mas que história envolvente!”.

O livro de A. J. Finn é mais um thriller com mulher (ou garota) no título e que, em um primeiro momento lembra A garota no trem, de Paula Hawkins: uma mulher destruída por um evento do passado, que testemunha um crime e precisa lutar para provar que o que ela viu realmente aconteceu. Mas as semelhanças ficam apenas na sinopse. A mulher na janela é um livro intenso, em que você se perde nas ruminações da protagonista e luta para tentar desvendar o que está acontecendo antes do fim da história.

Anna é uma mulher triste. Ela não consegue sair de casa por conta de um transtorno psicológico conhecido como agorafobia. A tristeza é fácil de perceber: ela nunca sai de casa, não toma banho sempre, vive sozinha, sente falta do marido e da filha e passa os dias bisbilhotando os vizinhos pela janela. A casa é gigante, com quatro andares mais um super porão, o que deixa tudo mais atraente: você sabe que um crime vai acontecer em algum momento e que a casona, como cenário principal, só vai fazer a imaginação trabalhar mais.

Quando vizinhos novos se mudam para a propriedade mais próxima, Anna, munida de uma câmera com ótimo zoom, passa a sondar a nova família aparentemente normal. Em pouco tempo o adolescente surge na porta de Anna, com um presente oferecido pela mãe. Eles conversam e Anna se sente mais próxima da família. Mais tarde é a vez de a mãe visitá-la. Elas estabelecem uma ligação rapidamente e então Anna se vê consumida pela vida dos vizinhos.

É aí que um assassinato acontece, e Anna, que vive em meio a vinhos e remédios fortes, vê tudo através das janelas de sua casa. Como ela vai conseguir provar para a polícia que o que ela viu não foi uma alucinação quando a pessoa que ela achava estar morta surge, com outro rosto, dizendo que nunca a conheceu?

A protagonista é uma mulher que, sim, em muitos momentos parece delirante, mas que tem uma confiança inabalável no que vê. Como confiar em uma narradora assim? Não dá. E é justo nessas horas que A mulher na janela é empolgante. Em um momento você quer, junto com Anna, descobrir o que está acontecendo; depois você já acha que todo o problema está nela, mesmo que não do jeito que o autor quer fazer você pensar.

Mas falando assim fica parecendo que eu me apaixonei pelo livro. As coisas começaram a desandar na minha leitura quando o fim foi se descortinando. O autor recheia o romance com referências aos filmes antigos de suspense, com destaque para os de Hitchcock. A história da mulher na janela espionando os vizinhos é uma homenagem declarada a Janela Indiscreta. Anna assiste a muitos filmes clássicos de suspense, e o autor consegue colocar no papel o clima tão único do cinema em preto e branco, o que faz a expectativa crescer. A menção ao clima tenso e de certa forma sedutor dos filmes do Hitchcock me deixou inebriada, esperando por algo que eu imaginava que nunca adivinharia, mas quando o final surgiu, me senti caindo de novo na realidade de um livro mediano e sem muita graça.

O fim me lembrou dos remakes dos filmes do Hitchcock que surgiram ao longo do tempo. A mesma sensação que me daria uma versão, plano a plano, de Janela Indiscreta, tão sem vida quanto Psicose com o Vince Vaughn, da década de 1990. A história, por mais da metade do tempo, me fez pensar em um bom filme do diretor: com um desenvolvimento magnético, complexo e intrincado, mas a decepção veio quando no fim, em vez de continuar como Hitchcock faria e finalizar com um desfecho simples e genial, A. J. Finn optou por dobrar a aposta e deixar tudo maior e mais confuso, recheado de coisas explicadas em excesso. Para mim, não deu certo.

2 comentários sobre “A mulher na janela

  1. Jessica Rabelo | Fantástica Ficção disse:

    Olá.
    Primeiro: parabéns pela resenha ficou magnífica.
    Segundo: Quando pensei em fazer a leitura de A Mulher Na Janela esperava realmente que fosse algo mais próximo de A Garota No Trem, mas percebo que o livro tem muita personalidade. Fiquei com vontade de começar a obra ainda hoje.
    Beijos.

    Blog: fanficcao.wordpress.com

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