Alguns documentários e a minha necessidade de montar listas

Daqui a pouco começam as listas de fim de ano. Eu estou preparando as minhas. Foi muito bom fazer as do ano passado. Mais do que dizer o que vale ou não vale a pena, o proveito que eu tiro desse balanço é poder ver, com um mínimo de distância, o que é que chamou a minha atenção, quando, e que relação isso vai ter com as outras coisas que eu li e assisti durante 2017. Dá pra criar uma espécie de mapa dos meus interesses (ahaha). É um hábito que eu recomendo muito.

Eu acabei deixando algumas coisas de fora quando separei os melhores filmes que vi em 2016. A ausência mais sentida (por mim, é claro) não foi a de um filme em especial, mas a de um gênero. Acabei não falando dos documentários. E eu tenho um fraco por documentário. Com exceção de Faces da Morte e que tais, sou capaz de ver qualquer coisa sobre qualquer tema ou pessoa. Expresso imensa curiosidade sobre assuntos pelos quais nunca me interessei, e isso acaba produzindo alguns caminhos difíceis de explicar lá no tal “mapa dos meus interesses”.

rocco netflix

Em 2017 eu gostaria de saber, por exemplo, o que foi que me fez assistir a Rocco, o documentário sobre a vida e o trabalho do ator pornô italiano Rocco Siffredi. O que eu percebi é que Siffredi é uma das pessoas mais vaidosas sobre as quais qualquer um já apontou uma câmera. Então quer dizer que o filme é ruim? Muito pelo contrário. Quando o personagem principal é quase louco, tamanho o seu ego, não tem como o documentário ser desinteressante. Eu queria ver um documentário sobre os bastidores da indústria pornô (assim como Hot Girls Wanted) mas acabei acompanhando um filme sobre gente obsessiva e desequilibrada.

Falando em obsessão e desequilíbrio, na mesma madrugada eu vi Gaga: Five Foot Two, o documentário da Lady Gaga. Eu acho que posso dizer que eu tinha sentimentos neutros a respeito dela. Nunca parei para ouvir um álbum, mas também nunca pulava quando uma de suas músicas começava a tocar. Eu tenho todo um respeito por quem faz sucesso nesse nível planetário da Gaga, e as histórias por trás desse tipo de sucesso nunca decepcionam. Quase nunca. Quer dizer: eu tenho certeza de que Lady Gaga não virou Lady Gaga sem ter virado o mundo de cabeça para baixo, mas Five Foot Two não trata exatamente disso. Até aí tudo bem. O problema é que estamos falando do rei de todos os documentários de egotrip. Ridiculamente reverente a sua personagem principal, todo supervisionado por ela (mesmo que ela negue, fala sério!), Five Foot Two mostra meio sem querer uma cantora cheia de si, falando platitudes como se fossem pílulas de sabedoria, tentando fazer o espectador acreditar numa ideia romântica e velha daquilo que é arte e do papel que os artistas têm no mundo. O filme é tosco e piegas e abusa de uns recursos visuais toscos e piegas, e ainda por cima acredita firmemente em tudo o que ela fala, sem ironia aparente. Five Foot Two deixa a desejar na investigação que faz a respeito de Gaga. Eu espero que este não seja visto como o documentário definitivo a respeito dessa figura mais ou menos central da cultura pop dos últimos anos, porque caso contrário a gente vai começar a confundir documentário com vídeo institucional.

Mas por que tratar, numa pré-lista de fim de ano, de um filme que mais me deixou com raiva do que outra coisa? Não sei. Talvez para recomendar que você também veja ambos, Rocco e Five Foot Two, na mesma noite, prestando atenção nas semelhanças entre o ator pornô e a diva pop.

Além desses eu também vi Eis os delírios do mundo conectado, que não está entre as melhores coisas que o Werner Herzog já fez.

bright lights

O primeiro documentário digno a entrar numa lista de melhores do ano foi Bright Lights, sobre as espetaculares Carrie Fisher e Debbie Reynolds. Nunca fui fã de Star Wars, mas isso não me impediu de gostar da Carrie Fisher. A mulher era o carisma em pessoa. O documentário, no que diz respeito a tratar de seus personagens principais, era o exato oposto daquele da Lady Gaga. Bright Lights mostrou com honestidade que Fisher era bem difícil. Expôs os defeitos dela, que se abriu sem muita reserva, e foi fundo na relação entre mãe e filha. Olhando agora, e comparando a franqueza de Carrie Fisher com as poses de Gaga, dá para dizer que Five Foot Two mostrava a “humanidade” de Gaga do mesmo jeito que um candidato a uma vaga responderia, numa entrevista de emprego, que seu maior defeito é ser “perfeccionista e muito organizado”. Já Bright Lights passou longe da reverência imoderada, mas fez um perfil doméstico da mãe e da filha, recapitulou duas vidas passadas diante das câmeras e mostrou o que é que sobra disso bem quando estava todo mundo em choque com as mortes tristíssimas das duas. É um filme interessado em mostrar um retrato familiar e deixar o espectador formar uma opinião, em vez de carregar você pela mão para mostrar quão poderosa uma celebridade é.

Olhando agora: o que foi que me fez querer ver Bright Lights, que eu já imaginava ser muito triste? Não sei. Acho que eu fui atraída pela tragédia. Carrie Fisher morreu depois de um tempo no hospital; Debbie Reynolds já estava fragilizada, não aguentou o baque e morreu. Mas me recuso a pensar que fui atraída pela tragédia como seria se estivesse lendo uma revista de fofoca ou fazendo um comentário maldoso. Por minha própria experiência com a minha mãe, acho que há com frequência uma espécie de simbiose entre mãe e filha. Acho que foi a imersão nesse relacionamento que me interessou, acho que foi isso o que me tocou em especial.

Que mais? Se essa fosse uma lista dos melhores documentários que eu vi em 2017, e se eu tivesse algum insight a respeito do racismo em solo norte-americano, eu teria que falar sobre I am not your negro. É revoltante, como não poderia deixar de ser, e é especialmente poderoso porque conta com a inteligência de James Baldwin – sua voz, sua vida, e o que ele tem a dizer. Além do mais, esse filme é muito bem editado, montado, roteirizado ou o que o valha. Tanto assim que ele empalidece outro doc da mesma época, e com o mesmo tema, que é aquele A 13ª Emenda.

Para engatar no ativismo político americano do século XX, só para ter um gancho, eu também assisti a American Anarchist. Outro perfil bastante complexo, este aqui conta a história do sujeito que escreveu The Anarchist Cookbook, aquele livro que ensina qualquer leigo a preparar uma bomba caseira (utilizado, por exemplo, pelos assassinos de Columbine). Onde é que esse filme se situa no “mapa dos meus interesses”? Não sei. Eu poderia dizer que me interesso especialmente por Columbine e assassinatos de massa desde esse texto aqui, mas acho que meu marido escolheu nesse dia e eu estava com preguiça de sugerir alguma outra coisa. Não sei. Vale a pena? Sim. Eu me lembro de ficar pensando “gente, as voltas que a vida dá” a cada cinco minutos.

Caramba, cheguei a 1201 palavras no parágrafo anterior. Ninguém vai ler isso, nem por interesse nem por bondade. Vou encerrar com algumas sugestões, no estilo bate-bola/jogo rápido da Marília Gabriela (entregando a idade). Um documentário para pensar que só tem abobado no mundo? Extraordinary – The Stan Romanek Story; um documentário para pensar que o tabu mata e deixa a gente infeliz? Whitney Houston – Can I Be Me; outro documentário que foi muito menor que a figura que o inspirou? Laerte-se; um documentário para matar saudade do Jerry Seinfeld? Comedian; um documentário para fazer diminuir um pouco a sua inveja dos japoneses e a sua vontade de morar no Japão? Tokyo Idols.

(Lembrando que este não foi um post com uma lista de melhores do ano. Todos esses documentários foram becos sem saída no “mapa dos meus interesses” [gente, que termo ridículo!].)

5 filmes estimados na medida exata em que merecem ser estimados (na minha opinião, é claro)

Listas de superestimados e subestimados são superestimadas. A moda agora é namorar pelado. Mentira: a moda agora é listar cinco filmes estimados na medida exata, certinha, em que eles merecem ser estimados. Já me aconteceu de começar a ver um filme e pensar que o mundo inteiro estava sendo injusto com ele, ou que era não é possível que o mundo inteiro tenha visto aquela joia e deixado para lá. Uma hora e meia depois, a revelação: ah, sim, pois é, esse aqui foi ruim mesmo, não me espanta que ninguém dê bola. Também tem o contrário, que é quando eu chego no sofá com aquela birra contra tudo, contra o diretor, contra o mundo, mas aos poucos tenho que dar o braço a torcer porque aquele ali é bom mesmo e merece todos os elogios que já ganhou.

Num dia desses eu estava no litoral, totalmente relaxada curtindo o calor num sofá cujo forro gruda nas costas, e o meu muito digno marido colocou para tocar um álbum da banda Silverchair, aquela. Nos primeiros 6 ou 8 minutos, transportada para o começo dos anos 2000, eu fiquei pensando em como todo o mundo havia injustamente deixado o Silverchair para trás. Dali a pouco, talvez também pelo calor, com a voz sorumbática de Daniel Johns no ouvido, eu me dei conta de que não faz mal que o mundo tenha guardado essa banda num potinho de semi-esquecimento. Nessa hora eu pensei: tem coisa que não é nem subestimada nem superestimada, tem coisa que é estimada na exata medida em que merece ser estimada.

1) QUALQUER FILME DE YASUJIRO OZU SERÁ BOM

bom dia ozu

Eu confesso que resisti. Não é todo dia que eu acordo querendo encarar um filme preto e branco de 1949, por exemplo. Por sorte, ao contrário do que se fazia, na minha época de ensino médio, com a literatura brasileira, ninguém me obrigou a sentar e prestar atenção nos filmes de Yasujiro Ozu. Eu comecei naturalmente e no meu ritmo. E eu comecei bem. O primeiro que vi foi Bom Dia. Tive que dar o braço a torcer. É japonês, é velho, eu não consigo aferir se a legenda está batendo com o que os atores falam, mas não tem nem como começar a dizer que Ozu não é tudo aquilo que dizem que é.

2) THE NEON DEMON É RUIM MESMO

the neon demon

Gostei de Drive, que foi o filme que deixou Nicolas Winding Refn na crista da onda. Defendi Only God Forgives, quando o caldo começou a entornar, porque acho que peguei o espírito da coisa. Quando eu soube que The Neon Demon havia sido bem vaiado em Cannes, já fiquei com a história pronta na minha cabeça: esse também deve ser bom, mas agora o pessoal já pegou implicância. Fui ver sem medo de ser feliz e deu tudo errado. O filme traz uma crítica muito ralinha ao culto à beleza e às celebridades, tão ralinha que às vezes esbarra na bobeira. Tem tomadas lindas, como todo mundo disse. Isso é verdade. Só que a história tem uma solução que só pode ter sido feita no piloto automático, e aí eu fiquei com a sensação de que o filme não tinha nem o direito de querer ser visualmente bonito. Peguei implicância. O tomatômetro no Rotten Tomatoes é de 57%. E é mais ou menos isso que The Neon Demon merece.

3) EU TAMBÉM ACHO QUE BIRDMAN É ESQUECÍVEL

birdman

Eu não tenho como provar esse consenso com números. É só uma sensação de consenso. Será que eu me fiz entender? Eu me lembro de ter achado Birdman razoável na época do lançamento. Acho até que eu nem tinha um favorito no Oscar daquele ano. Boyhood, talvez? Eu acho também que foi o Marcelo Hessel, do Omelete, quem disse que havia uma falsa profundidade na crítica de Birdman aos filmes de super-heróis. Foi o que eu pensei em 2014. De lá para cá, li uma meia dúzia de textos que diziam que os filmes premiados nos últimos anos são esquecíveis. Não dá para discordar disso. Spotlight tem o Oscar de melhor filme de 2015. Ninguém quer saber. Não acho que Birdman ou Spotlight vão ganhar culto nas próximas décadas. O filme de Iñárritu fica aqui como um símbolo desses muitos que geram bafafá e prêmios, mas que acabam morando num fundo de prateleira da Saraiva por toda a eternidade (com cada vez menos seeders no torrent, melancolia pura).

4) O ROBOCOP DO JOSÉ PADILHA NÃO SERVE PRA NADA.

robocop

Mas é bom? Não. No Rotten Tomatoes tem 48%; no Metacritic, 52 de 100; no Filmow, 3,3 de 5. O público não foi à loucura, mas não tem problema. Às vezes parece que é só uma produção fazer 50 dólares de lucro que o estúdio já se dá por satisfeito, mas não é esse o assunto. Às vezes um diretor pega uma tarefa muito ingrata. Eu fico pensando que o J. J. Abrams foi um milagreiro quando fez aquele Star Wars de 2015. Tinha muita coisa em jogo e ele conseguiu levar o barco do ponto A ao ponto B sem quebrar tudo no meio do caminho. Quanto ao José Padilha, o projeto que caiu na mão dele já estava condenado de antemão. Robocop não precisava de um remake, ninguém clamava por um. E talvez a pior qualidade de um remake seja a apatia. Esse Robocop de 2014 foi assim: não queria muita coisa e não se dispôs a ser um filme bizarro como é o de 1987. Desagradou. Eu pensei que não era possível. Olha o Tropa de Elite: Padilha fez um blockbuster de ação americano em português, todo transcrito numa linguagem que o grande público brasileiro entende e reconhece. Eu juro que, quando ele foi anunciado num blockbuster gringo, eu esperava uma obra-prima. Mas não: jamais vou poder resgatar Robocop numa conversa, não vai dar para dizer que ele é subestimado.

5) THE END OF THE TOUR É QUASE BOM

the end of the tour

Deste as pessoas gostam. É um indie sobre o falecido David Foster Wallace. O cinema americano tem uma relação complicada com escritores famosos. Tem muita afetação na hora de interpretar aquelas figuras que ganham alcunha de gênio para cá, de voz de uma geração para lá. De um filme com Jesse Eisenberg e Jason Segel, sobre um autor que intumesce muito homem crescido, eu esperava um sem número de constrangimentos e de clichês sobre mentes atormentadas. Não foi o caso. Até que a atmosfera era de pé no chão. Jason Segel se conteve e seu esforço não parecia o de alguém desesperado para se afirmar como bom ator. O filme é quase bom, tem um clima dos anos 1990 e tudo. Não deixou muita gente eufórica, não deixou muita gente rolando no chão para aplacar a raiva.

Um mês de muitas listas: meus melhores filmes de 2016

Chegou a época do ano que eu menos gosto. Mas admito que tenho feito progressos: para mim, de agora em diante dezembro será o mês das listas. Montei três: os melhores livros, os melhores filmes vistos em 2016 e as séries mais legais. E sob que critérios? Sei lá, são as melhores coisas que passaram pela minha mão de janeiro a dezembro. A gema, o crème de la crème.

No post de hoje eu começo a listar os filmes. Veja bem: eles não foram necessariamente lançados em 2016 e, para falar a verdade, a maioria não é nem muito recente. Escolhi doze filmes (um para cada mês), mas para não deixar o post muito longo decidi dividi-lo em duas partes.

Selecionar não foi uma tarefa difícil. Isso porque eu vi muito, mas muito filme ruim. Foram muitas bombas para cada acerto, e  acho que uma dezena de bombas para cada filme ótimo e marcante. O mais estranho é que há, na lista dos filmes de que eu mais gostei, só um com resenha aqui no blog. O que isso significa? Que eu só tenho  disposição para escrever a respeito daquilo que me desagrada?  Não, dizer isso seria maldade. Sem mais delongas, e assim como o Faustão, vamos aos Melhores do Ano.

Nossa irmã mais nova – Umimachi Diary

O único filme da lista resenhado aqui no blog é também o mais gracioso. É pacato e não tem lances mirabolantes. Trata da vida de quatro irmãs, três que cresceram juntas e uma que é fruto de outro relacionamento do pai delas. Elas precisam aprender a conviver. O relacionamento é contado de forma muito delicada, e sem nenhum grande drama. Umimachi Diary é muito discreto. O que me deixou apaixonada foram as escolhas: sempre as menos comuns, menos diretamente dramáticas, e aí por isso as mais verossímeis.

Tangerine

Eu ouvi falar de Tangerine no fim do ano passado como aquele filme feito apenas com câmeras de iPhone 5. Isso poderia ser só um truquezinho numa produção sem substância, mas já no começo o aspecto técnico vai para segundo plano, até porque a mobilidade que o celular possibilita serve muito à história que se está contando. E é uma história excelente: duas mulheres trans, garotas de programa, andam pelas ruas de Los  Angeles num dia ensolarado. Uma delas está decidida a acertar contas com o namorado, que ao que tudo indica é infiel. O mais legal é que Tangerine estava mesmo disposto a discutir e jogar uma luz sobre os temas que interessam a quem é trans, ou a qualquer um que seja excluído. É um pouco cansativo topar com produções que usam a diversidade como elemento decorativo, sem nunca dar espaço de verdade para que aquele pessoal pouco representado seja visto com complexidade. Nesse sentido, Tangerine é um filme obrigatório. Seria importante só por causa de seu tema, mas também é um filme sobre as ilusões em que a gente decide acreditar, sobre a amizade. E é um filme de jornada. Uma das cenas mais lindas surge quando uma das garotas paga para cantar em um bar vazio. O momento é bonito e triste. Acrescente-se a isso o pôr do sol nas ruas de Los Angeles. Lindo.

Victoria

Este me prendeu do início ao fim. Não acho que fazer o tempo voar seja um critério para estabelecer se algo é ruim ou bom. Acho que quando isso acontece, o que fica em evidência é o nosso gosto ou nosso ritmo. Já me aconteceu mais de uma vez de ir ao cinema, me encantar, sair bem satisfeita e aí, aos poucos, ir percebendo que o que eu havia visto não aguentava umas duas ou três perguntas. Fiquei pensando muito nisso quando assisti a Victoria, porque o longa é ligado no 220 (e foi filmado em um único plano-sequência) e ainda assim a impressão dele ficou em mim por muitos dias. O filme todo acontece em uma noite, e isso por si só já é extremamente sedutor para mim. Eu gosto muito de histórias que acontecem em uma madrugada ou em um dia. Mas Victoria é empolgante por conseguir realizar um monte de  situações com uma trama simples. Uma garota espanhola que está vivendo na Alemanha conhece um grupo de caras e passa a noite se divertindo com eles pelas ruas da cidade. Em uma transição suave, ela deixa de apenas brincar nas ruas em uma madrugada e se vê envolvida em um assalto que parece pronto para dar errado. O filme termina na manhã do outro dia, e eu fiquei tão envolvida que me peguei com aquela sensação de passar a noite em claro e encontrar o comecinho da manhã, mas aqui em casa ainda era meia-noite.

Um clarão nas trevas – Wait until dark

Um suspense com a Audrey Hepburn. Eu não sei por que demorei tanto para assistir. Hepburn está cega, mas a condição é recente e ela ainda não se acostumou a viver na escuridão. Sozinha em casa, ela se vê à mercê de três homens inescrupulosos que vão fazer de tudo para recuperar um objeto cheio de heroína. O suspense é praticamente todo elaborado em um pequeno ambiente: a casa minúscula da protagonista. Não fiquei com medo, mas me sentei na ponta do sofá muitas vezes. O terceiro ato do filme me fez esquecer que ele era de 1967, de tão atual que o suspense parecia. Tenso

Para o outro lado – Kishibe no tabi

Acho que posso dizer que, de todos os filmes desta lista, este é o meu favorito. Um homem que estava sumido há três anos volta para sua mulher e juntos eles vivem uma jornada delicada e surreal. A sensação que mais ficou foi de inquietação. Acho muito difícil um filme tratar da morte sem cair na pieguice, mas Para o outro lado passa longe do sentimento barato enquanto retrata uma história linda sobre a morte. E ele vai bem numas coisas que todo mundo que já perdeu alguém reconhece: uns detalhes da vida íntima, as marcas que o corpo da gente deixa nas coisas, os objetos e os gostos de uma pessoa que morreu, e o mundo seguindo seu curso sem ela. É como se ele tivesse conseguido filmar o vazio que uma pessoa deixa, sem precisar colocar o sentimento em palavras. Parece que este filme não é um dos melhores do diretor Kiyoshi Kurosawa, e isso só me deixa empolgada para ver mais filmes dele.

Deus da Carnificina – Carnage

Não sou muito fã do Roman Polanski, e o motivo nem é só a polêmica do estupro cometido por ele em uma menina de treze anos na década de setenta. Apenas não gosto de seus filmes. Deus da Carnificina é o primeiro que me agrada. Sempre me empolguei com tramas de muitos diálogos e poucos cenários. Deus da Carnificina se passa o tempo todo no apartamento de um casal que recebe os pais do menino que bateu no filho deles. Quatro pessoas de classe média alta, muito civilizadas, que precisam resolver a questão dos filhos. Não demora muito e  a cortesia começa a ser desmontada, e o que eles pensam uns dos outros começa a vir à tona. Os problemas não ficam reduzidos ao embate dos casais, até marido e mulher discutem enquanto o véu da civilidade vai caindo. A desunião acontece de forma lenta, mas depois que ela aparece só o que fica é o caos. É um filme bem pessimista e meio cínico.

Eu já volto com outros seis filmes.

8 filmes de amor para chorar

Quando eu fiz a primeira lista de filmes para chorar aqui pro blog, comecei a lembrar de vários que não serviriam exatamente para aquela lista, mas que renderiam uma outra mais… melosa. Na primeira vez eu priorizei os filmes mais melancólicos com a vida, daqueles para a gente sentir que o mundo é horrível, e agora então eu volto com os  longas românticos chorosos, aqueles que nos fazem chorar dentro de uma espécie de zona de conforto, porque o mundo pode não ser bom mas o amor é possível.

Era para ser uma lista com apenas cinco filmes, mas como é de costume para uma pessoa indecisa eu tive que esticar para oito. Talvez você já tenha visto pelo menos um desses filmes na sessão da tarde, tenha chorado assim como eu e depois tenha descoberto que o filme nem é tão bom, mas que mesmo assim você vai chorar se assistir àquele final novamente. Talvez você tenha visto todos e não tenha chorado em nenhum – nesse caso você tem um kiwi azedo no lugar do coração.

Agora, ninguém disse que essa lista contém filmes bons: esse não é o critério usado aqui. Eu gosto de todos que escolhi (por que eu indicaria se não gostasse, hein?), mas admito que eles não são os mais queridinhos da crítica, cultuados por gerações, motivos de homenagens em cinematecas. Você entendeu. E, se você é como eu e um dos seus maiores prazeres é engatar num drama romântico de qualquer qualidade, vai gostar das minhas escolhas.

Tenho que dizer ainda, que, como os filmes são famosos e um pouco antigos, eu decidi pisar no acelerador dos spoilers. Se você continuar lendo mesmo sem ter assistido aos filmes e ainda assim quiser vê-los, você está por sua conta e risco.

Ah, e sabe qual é a principal relação entre esses filmes? A morte. Só um da lista termina sem que uma das partes do casal morra. Bora? Eu digo bora.

Love Story: uma história de amor

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Acho que esse filme pode ser nomeado o pai dos filmes em que alguém do casal morre e a gente se vê obrigada a chorar. Love Story é de 1970, e conta a história de dois jovens – um rapaz e uma moça – que se conhecem na universidade e logo se apaixonam. Vindos de classes sociais diferentes eles precisam enfrentar os dissabores de uma família rica preconceituosa, a dele. E como problema chama problema eles descobrem que um deles está muito doente. O amor dos dois é lindo, a trilha do filme é linda e o sofrimento no fim do filme é lindo. O que não é lindo é chorar até passar mal. A gente acha que está linda e charmosa chorando discretamente, e quando se olha no espelho vê que parece um cachorro em quem colocaram um termômetro pela bunda.

O amor pode dar certo

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Amanda Peet (que eu amo desde Jack e Jill) e Dermot Mulroney estrelam este filme com muitos clichês, mas que mesmo assim me fez chorar. O amor pode dar certo é de 2006. Eles se conhecem em uma aula na universidade (de novo!), e logo não se desgrudam mais. Um deles está doente, e eles decidem viver os dias como se uma doença não fosse obstáculo para o amor. O filme é fofo e a tristeza do fim não chega a ser tão grande. O choro aqui não foi tão copioso, e olha que teve uma surpresinha lá pelo final, uma reviravolta interessante.

Tudo por Amor

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Esse filme de 1991 passou algumas boas vezes na Sessão da Tarde. Acho que aqui não faz mal soltar spoiler. Quem nunca escutou aquele saxofone do cara ruivo e lembrou da Julia Roberts cuidando do cara doente? O meu marido não conhecia o filme direito, e uma vez conversando ele me disse: Ah, esse é aquele do cara doente que bate na Julia Roberts. Hã? É que ele embolou Dormindo com o inimigo, em que a Julia Roberts é vítima de violência doméstica, com Tudo por amor, em que a Julia Roberts cuida de um doente terminal. Pelo jeito ele não era fã da Sessão da Tarde. Mas o filme é sobre um homem com uma doença terminal que precisa de uma enfermeira/acompanhante (lembrou de Como eu era antes de você?). Eles se apaixonam e vivem um felizes para sempre com data de validade. Eu era novinha quando vi pela primeira vez e chorei como se não houvesse amanhã – spoiler: às vezes não há.

Outono em Nova York

Autumn In New York Year: 2000 Director: Joan Chen Richard Gere Winona Ryder

Um filme com melodrama na medida certa. Um dos meus favoritos, de longe, por conta do casal: Winona Ryder e Richard Gere. Eu era louca pelo Richard Gere, mas agora ele foi de coroa a velhinho fofinho, e assim fica difícil manter a quedinha. Mas em Outono em Nova York ele é o Richard Gere playboy que não quer se ver em um relacionamento sério. Pelo menos até conhecer a Winona Ryder. De repente eles estão apaixonados e ele decide que quer sim viver um grande amor com ela. Infelizmente para todos nós, ela está morrendo. Pois é. Admito que chorei e solucei. Queria os dois juntinhos (parece um casal improvável, né?) para sempre.

Noites de Tormenta

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Falando em Richard Gere, aqui ele está mais velho (ainda não era caquético, porém) e o seu par é outra atriz de quem gosto muito, a Diane Lane. O filme é baseado em um livro do Nicholas Sparks. Quando eu assisti ao filme no cinema confesso que nem sabia quem era Nicholas Sparks, e admito que hoje em dia o nome dele nos créditos teria me impedido de comprar o ingresso. Mas ainda bem que eu fui. Chorei na sala, escorregando no banco para ninguém notar (todo mundo na sessão estava fazendo o mesmo). Diane Lane vai se refugiar na pousada de uma amiga para escapar de problemas familiares. Lá ela conhece Richard Gere, eles encaixam perfeitamente e vivem uma super paixão. Como eu disse, eu não conhecia Nicholas Sparks e não sabia que nas suas histórias alguém sempre tem que morrer. Nessa, pelo menos ninguém fica doente.

O despertar de uma paixão

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A primeira frase só pode ser: esse filme é lindo. Esqueça que alguém morre. O desenvolvimento todo da trama é o que importa. Diferente dos citados até agora, esse aqui conta a história de um amor mais maduro, com progresso lento. A década é 1920 (eu odeio esta década, mas reconsiderei nesse caso), Edward Norton e Naomi Watts se casam e vão viver em Xangai. Eles ainda não se amam, e muita coisa vai acontecer até eles perceberem que devem ficar juntos. Mas não se esqueça: a lista é pra chorar. Eu chorei. Watts e Norton fazem um casal tão lindo! Que filme!

Blue Valentine

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Me recuso a chamar esse filme pelo título nacional. Se você ficou curioso, então toma: Namorados para sempre. É que eles são tudo menos namorados para sempre. O único filme da lista em que ninguém morre, se não me falha a memória, mas não se iluda: é tão fácil chorar nesse daqui como em qualquer outro desses em que alguém está com uma doença terminal das mais perturbadoras. Ryan Gosling e Michelle Williams são casados e estão terminando o relacionamento. O filme conta a história deles no presente, com brigas e desentendimentos, e no passado quando ainda eram apaixonados. É triste. É de partir o coração ver o que eles tinham e no que tudo se transformou. Impossível não chorar.

Minha vida sem mim

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Talvez eu não devesse colocar esse aqui na lista. Sarah Polley vive a protagonista que está morrendo, mas diferente dos outros filmes ela não está vivendo um grande amor. Ela é casada com um crush meu, o Scott Speedman, e eles moram em um trailer levando uma vida difícil. Quando ela descobre a doença, decide fazer uma lista de todas as coisas que gostaria de fazer. Parece um super clichê, mas o filme surpreende pelo jeito de abordá-lo. É uma história de amor, mas de amor próprio. Triste e lindo. O fim é a melhor parte… para chorar.

Bônus: Diário de uma paixão

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Esse filme não entrou oficialmente na lista porque todo mundo o conhece. Talvez você não tenha visto porque odeia filme meloso ( e nesse caso o que você está fazendo aqui? quem é você? o que te faz chorar? você teve carinho na infância?) mas mesmo assim deve ter visto ele numa lista dessas por aí. É covardia um filme com velhinhos morrendo, mas covardia é a marca registrada dele mesmo, Nicholas Sparks. Eu chorei na primeira vez, na segunda e na terceira. Ryan Gosling e Rachel McAdams estão mais do que shippáveis, tanto que depois do filme eles namoraram por um tempo – dizem que na época das gravações eles meio que se odiavam. Na vida real cada um seguiu um rumo depois do breve relacionamento, mas em Diário de uma paixão eles se amam até a morte. Acho que só isso já basta para ver o filme, não? Tem a Gena Rowlands, o filho dela é quem dirige. Que mais? Ah, é a melhor adaptação já feita de alguma coisa do Nicholas Sparks.

5 Filmes para chorar até soluçar

Depois de ler o texto da Isabela Boscov sobre Como eu era antes de você e  outros filmes que a fizeram chorar, resolvi usar a ideia dela e montar uma lista com os filmes que mais me fizeram chorar descompassadamente. Mas não vale qualquer filme. No texto, Isabela Boscov fala de como o longa com Emilia Clarke leva o público às lágrimas (admito que chorei tanto com o livro que não sobrou nada para o filme) de um jeito prudente, como se houvesse uma rede de proteção ali, e por causa dessa rede a emoção momentânea com a história tristíssima não chegasse a causar verdadeira tristeza.

Isso é muito verdade. Gostei muito dessa distinção que ela fez entre os filmes que fazem chorar numa espécie de zona de conforto e aqueles que te jogam no abismo e dizem “vai lá, agora que você veio, segure essa tristeza e dê um jeito de viver com ela”.

Na primeira categoria, eu lembro de alguns filmes que me deixaram em prantos, mas que não me abalaram, como: Outono em Nova York, Noites de Tormenta e Diário de uma paixão. Com eles eu chorei, mas admito que não sofri de verdade porque, afinal, uma história de amor planejada para nos fazer chorar é só isso: uma história bela e triste que enternece sem nos ferir de verdade, porque quando rolam os créditos tudo é lindo e a vida vale a pena. O que não é o caso dos filmes da segunda categoria. A lista que você vê aqui traz cinco filmes que me fizeram chorar como se não houvesse amanhã. Todos eles me comoveram e me deixaram com uma tristeza permanente. Eu posso estar rodeada de gente, num dia de sol e comendo churros, e ainda assim vou lembrar de uma cena de um desses filmes e pensar que o mundo é muito triste.

Umberto D.

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Melhor começar a lista com aquele que mais me fez chorar na vida, não? Umberto D. é antigo, p&b, italiano e não parece apetecer muito, né? Na época eu estava viciada em filmes do neorrealismo, e havia me apaixonado pelo Vittorio de Sica com Ladrões de bicicleta. Foram vários filmes tristes de partir o coração e de despertar muito choro, mas nenhum chegou perto do velhinho Umberto D. e de seu cachorrinho, que são despejados de casa e vagam pelas ruas, buscando uma forma de viver com dignidade. Só de escrever isso já dá vontade de chorar. Nunca mais consegui assistir a esse filme, e me lembro muito bem de chorar nele inteirinho. Quando sentia que conseguiria parar de chorar, lá vinha mais uma super tristeza pra me fazer soluçar novamente. Velhinho e cachorrinho, pobreza e injustiça. Não dá para segurar.

Amor pra cachorro

Year Of The Dog

Ainda falando em cachorrinho, este filme com a Molly Shannon é comovente e até tem uma mensagem positiva, mas é muito triste. Peggy vive sozinha com Pencil, seu cachorro e único companheiro. Depois de uns acontecimentos que me fizeram chorar um pouquinho, a vida dela muda drasticamente. Por falta de um rótulo melhor, o filme se vendeu como uma comédia, e admito que ele engana que é leve em vários momentos. Todo ele é uma jornada em que Peggy descobre que, para ser feliz, não precisa buscar a felicidade nos moldes dos outros. Eu me identifiquei muito com a Peggy e seus relacionamentos danosos, seus aprendizados difíceis, por isso chorei e chorei muito. No fim das contas, tentar ser você mesmo nem sempre é garantia de felicidade.

No mundo da lua

no mundo da lua

Até hoje me revolta este título brasileiro para um filme que se chama The man in the moon. Pode parecer inofensivo, mas poxa, estar “no mundo da lua” é outra coisa – que droga. O filme é do diretor Robert Mulligan, de quem eu vi muitos filmes na época em que eu frequentava uma cinemateca excelente. Por causa disso, era para eu ter só boas lembranças de Mulligan e desse período. Mas no meio do caminho tinha um acidente. Outros filmes dele me fizeram chorar, mas escolhi The man in the moon apenas por uma cena muito chocante, inesperada, da qual não se pode voltar, e que sempre passa em minha mente quando eu vejo determinada máquina agrícola. É uma tristeza definitiva. Acho que é o primeiro filme de Reese Witherspoon, e ele começa de um jeito muito doce, com a história de duas jovens irmãs que vivem no interior dos Estados Unidos e levam uma vida simples e sem grandes atropelos. Elas conhecem um garoto, mas a Reese Witherspoon é novinha, enquanto sua irmã está no fim da adolescência. As duas se apaixonam por ele, mas só uma é correspondida. O filme não parecia ser mais do que isso, e ele estava sendo contado de um jeito tão leve que eu já estava feliz e conformada por achar que tinha entendido tudo. E aí toma: acontece uma super reviravolta, e a cena em que ela se dá é tão forte que eu chorei de choque. Sim, é bem impactante e bem triste, mostra que ninguém tem controle sobre a vida e que não adianta fazer planos. Acho que este filme ainda está na Netflix.

A liberdade é azul

a felicidade é azul juliette binoche

Outro de cortar o coração. A liberdade é azul é do Kieslowski e faz parte da trilogia das cores. Depois de ver esse filme senti que o meu coração havia sido esmagado, chutado, pisoteado e molestado até não poder mais. Dos cinco citados na lista ele é o que poderia ter a história mais parecida com os filmes que eu citei lá em cima, e  para algum desavisado passaria como um entre os que fazem chorar na zona de conforto. Nada seria mais equivocado. O mundo é um lugar ao mesmo tempo bonito e terrível. Juliette Binoche perdeu a filha e o marido, está de luto, e depois de quase desistir de viver, decide dar mais uma chance à vida. A história é triste mas dá muito bem para imaginar um filme assim com a Jennifer Aniston, né? Mas A liberdade é azul consegue nos tocar e sensibilizar não por ficar remoendo a morte, mas por mostrar que mesmo num momento obscuro, é possível viver. Essa mensagem é apavorante: é possível que o pior aconteça e que mesmo assim você consiga ficar de pé. Ou melhor: o pior vai acontecer e a sua obrigação é ficar de pé. Impossível não chorar com a trilha, ainda por cima.

O Homem Urso

homem urso

E por último, um documentário lindo e poético sobre Timothy Treadwell, um homem que por anos viveu tentando fazer amizade com alguns dos animais mais perigosos do mundo. Se você nunca viu um documentário do Werner Herzog, por favor, pare tudo e procure um, qualquer um. Nenhum outro diretor consegue, num documentário, arrancar o que Herzog arranca de suas fontes. Por isso os documentários dele são bonitos e bizarros, ao mesmo tempo crus e surreais. O Homem Urso é o melhor exemplo, e mesmo que tenha sido feito depois da morte de Treadwell, os depoimentos de amigos e familiares acabam constituindo pequenas façanhas. Timothy era um homem apaixonado pelos animais, e se considerava um protetor deles, mas com os vídeos que ele fez enquanto viveu numa reserva de ursos, Herzog nos faz ver que aquele amor estava tomando um tom de loucura e desespero. O diretor nos faz pensar na indiferença da natureza do jeito mais lindo e triste possível. O Homem Urso é um ensaio de Herzog sobre a humanidade e a natureza, sobre a natureza da humanidade, sobre a sinceridade, sobre pessoas extremas, sobre a nossa necessidade de pertencimento e nossos impulsos de isolamento. Quando toca a primeira nota de “Coyotes”, de Don Edwards, nem a pessoa mais coração de pedra consegue segurar uma lágrima.

5 Filmes para tirar férias dos Estados Unidos

Ontem assisti um filme do Quebec que me fez pensar em como eu vejo filme americano. O tema nem era esse, mas o filme que eu vi se passava no Japão, e era falado em francês. De repente fiquei curiosa para me lembrar de outras produções não americanas que não eram clássicas ou de movimentos conhecidos como neo-realismo italiano ou nouvelle vague, nem nada extremamento culto ou cult. Por isso eu vim aqui montar uma lista com filmes fora do meio americano que não são cults mas também não são totalmente comerciais. Por muito tempo, quando eu assistia um filme “cabeça”, era um filme europeu preto e branco muito, mas muito antigo. Ultimamente tenho dado uma chance maior para filmes de vários países, e é legal saber que dá pra fazer isso: assistir filmes sem grandes pretensões (mas, claro, não necessariamente fracos) que não foram feitos nos Estados Unidos ou para o público de lá. Procurei me lembrar de filmes mais recentes; tem aí também uns mais antiguinhos, mas todos são muito bacanas.

Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual

Eu vi este filme em muitas listas dos melhores que há na (lembre-se, sempre será A para mim) Netflix. E foi por lá que eu assisti. É um filme romântico bem reflexivo. Os protagonistas são dois moradores de Buenos Aires, que seriam perfeitos um para o outro e até moram perto, mas nunca se conheceram. Duas pessoas solitárias, cheias dessas manias que a internet e a tecnologia trazem. Um filme para quem cresceu com computador ou para quem viu a internet mudar tudo, e também para quem gosta de histórias de amor.

Pas son genre

Uma comédia romântica francesa que não tem Audrey Tautou. Um milagre, não? Eu vi alguns bons filmes com ela, mas é bom dar chance a outras atrizes. Foi, sem dúvida, um dos melhores que eu vi em 2015. É sobre o começo do relacionamento entre um cara culto (professor de filosofia) e uma cabeleireira que adora a Jennifer Aniston. Será que o amor vence o abismo cultural? O final foi a melhor parte para mim, pois me fez ver que dá pra existir comédia romântica com um pouco de tutano.

O Monstro

Esse é o filme mais velhinho da lista, é de 1994. É uma comédia. Acho que todo mundo conhece Roberto Benigni, principalmente por A vida é bela. Eu fui conhecê-lo neste O Monstro. Faz muito tempo que eu assiti esta comédia, mas nunca mais me esqueci dela, e ainda me lembro da maioria das cenas. O Roberto Benigni faz uma comédia bem física, e é quase impossível não ser atingido pelo humor dele. Eu ri muito, e até hoje quando vejo alguma cena eu rio muito. É um filme perfeito para aquele dia meio triste. A história? Roberto Benigni precisa descobrir quem é o maníaco sexual que vem atacando mulheres, pois as pistas apontam todas para ele. Por que será, né? Se você assistir o trailer vai saber.

Tokyo Fiancée

Tokyo Fiancée é belga, mas se passa no Japão. Ele é um daqueles filmes que você não consegue categorizar. Pode ser comédia romântica, drama, indie, e também nada disso. No começo, achei que parecia uma coleção de imagens fofas do tumblr, mas depois as coisas foram se encaixando e o filme me ganhou. Amélie é apaixonada pelo Japão, e quando completa 20 anos ela se muda para lá. Acaba se apaixonando por um japonês que adora a França e quer estudar francês. Os dois vivem um amor de certa forma idealizado, cada um quer uma coisa que talvez o outro não possa dar. A trilha sonora é bem fofa. 

Camille Redouble

Sabe aquela história da pessoa de 40 anos, cansada da própria vida, que um dia acorda e descobre que está com 16 anos novamente? Com todas as chances para fazer dar certo tudo o que deu errado da primeira vez? Parece filme da sessão da tarde, né? Camille redouble pode enganar que é isso, mas a sessão da tarde fica só pela sinopse. O filme é francês, e Camille, a protagonista, Noémie Lvovsky, está longe de ter a beleza da Jennifer Garner em De repente 30. Isso pode ser o suficiente para o filme já fugir da mesmice dos filmes redondinhos americanos com uma premissa mais ou menos parecida. Ri muito só de ver aquela mulher quarentona usando o figurino de uma menina de 16 anos na década de 80. É muito bom ver uma comédia romântica onde os atores parecem mais reais. 

Ah! E pra não dizer que não tem filme brasileiro na lista, aqui vai um bônus. São antigos, e acho que muitas pessoas já viram, mas não custa nada lembrar. Um é curitibano, e é tão raro ver um filme (é mais do que raro, é impossível) que se passa na minha cidade.

Pôster_EstômagoEstômago tem cadeia, mas posso dizer que não é mais um daqueles filmes brasileiros que por muito tempo eram os únicos vistos e feitos por aqui. Ele tem um pouco de tudo. É sobre Nonato, um cara que chega na cidade grande para tentar ganhar a vida, e descobre um talento raro na cozinha. Falar mais do que isso é estragar o filme, mas vale muito a pena.

durval-discos-poster04O outro filme é Durval Discos. O longa é de 2002, mas a história se passa em 1995, o ano em que se parou de fabricar discos de vinil no Brasil. A princípio, é um relato bem legal sobre discos e seu novo (na época) antagonista, o CD, mas o filme toma um rumo surpreendente e deixa a gente se perguntando “o que foi que eu assisti?”.

Os 5 filmes mais esperados (por mim)

Eu sou uma pessoa ansiosa. Normalmente ansiosa com coisas desnecessárias. Assim surgiu a minha ansiedade por filmes novos. Mas veja bem, não é impaciência para necessariamente assistir aos lançamentos, mas para estar por dentro dos lançamentos. É uma ânsia de anotar tudo o que eu quero ver. É uma mistura de obsessão por fazer listas de todo tipo com a já tradicional ansiedade. Antes que me achem louca e neurótica, o que eu quero dizer é que as redes sociais de filmes, livros e séries só pioraram essa situação. Antes eu anotava tudo o que eu assitia e lia em cadernos, depois no computador e agora apenas nestas redes sociais. 

Eu adoro o Filmow por isso. Se existe um rumor de que tal atriz vai filmar com tal diretor, alguém vai lá e cadastra o filme que ainda nem tem nome. Pronto, eu já marco como ‘quero ver’. Então depois de meses (às vezes anos), eu vejo em algum site que tal filme vai ser lançado como se aquilo fosse novidade, mas para mim não é. Aí está minha felicidade. Bom, todo mundo tem o direito de achar felicidade nas coisas mais bizarras, não é?

Por isso resolvi listar aqui os filmes que acabaram de estrear ou que estão para estrear, mas que estou esperando há muito tempo. Posso dizer que eu “conheci” estes cinco filmes antes de eles terem cartazes. Eu não enumerei eles por preferência. A ordem foi do mais divulgado para o menos.

O Regresso

Quero muito ver esse filme pelo evento. Não vai ser como Star Wars, mas acho que vai ser muito bom vê-lo numa telona. A estreia dele é em dezembro, mas aqui no Brasil só vai ser lançado em fevereiro. O filme é dirigido pelo Alejandro Iñarritu, que dispensa apresentações (apesar de ser meio xaropinho) e é estrelado pelo Leonardo DiCaprio. Hugh Glass (Leo DiCaprio) vai se mandar para o oeste americano atrás de dinheiro, mas o que ele vai encontrar é muita violência e morte. Até atacado por um urso ele vai ser. A história não parece tudo isso, mas é só ver o trailer que você percebe que talvez agora o Leo ganhe o tão sonhado Oscar. Tomara. Tenho pena de ver sempre ele lá na premiação e nunca conseguir nada. Acho que ele tinha que parar de ir à cerimônia, só para evitar o clima chato em caso de derrota. Depois que ele ganhar, tudo bem, pode voltar a curtir a festa. 

Joy: o nome do sucesso

Outro filme do trio, ou melhor quarteto se contar com a participação do Robert de Niro. O trio é: David O. Russell, Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. Tenho até certa preguiça de dizer quais são os outros projetos que eles fizeram juntos. O filme estreia em janeiro aqui no Brasil, mas lá nos EUA vai sair em dezembro. Pelo visto eles querem Oscar, pra estrear na pré-temporada do Oscar. O longa conta a história real de uma mulher que precisa enfrentar muita coisa depois de vender uma invenção sua por muito dinheiro. Eu estou meio cansada deste diretor, e um pouco da dupla Jennifer + Bradley, mas de novo, assistindo ao trailer a vontade de ver logo fica grande.

A Bruxa

A estreia mundial é agora em janeiro. A vontade de ver no cinema é muito grande também. Amo filme de terror, suspense, horror. Quanto mais medo e susto, melhor. Eu li que quem assistiu em alguns festivais sentiu que o filme tem muito mais impacto quanto menos você conhece da história de antemão. Eu nem li sinopse, e nem pretendo dizer aqui. Fica aqui com o trailer, não leia mais nada até assistir, e me diga se você não está se mijando.

Brooklyn

O longa é a história de uma jovem irlandesa que migra para os Estados Unidos na década de 50, por uma chance de ter uma vida melhor. Lá ela conhece outras pessoas de várias origens, pessoas na mesma situação que ela, e acaba se apaixonando por um jovem italiano. O filme é baseado no livro de mesmo nome, do Colm Tóibín. Eu li ano passado, e amei. Me emocionei muito, e espero que o filme consiga transmitir pelo menos um pouco do livro. Se isso acontecer vai entrar pros favoritos com certeza. Ah! O lançamento já aconteceu no exterior, mas parece que em ele chega em janeiro no Brasil.

The Diary of a Teenage Girl

O filme já estreou lá fora, mas por aqui ainda tá sem previsão. Minha sorte é que o torrent vive me salvando. Hehe. Esse aqui é um exemplo do que eu disse lá no início. Marquei na minha lista muito antes de ter um pôster. Apenas pelo Alexander Skarsgard, que eu adoro desde True Blood. A sinopse parece legal. É a vida de uma adolescente na década de 70, que parece ser bem comum, a não ser pelo fato de ela dormir com o namorado da mãe – adivinha quem é? Minha torcida é para que o filme não seja cheio de firulas emocionais, bem ao modo indie.

5 Motivos para ler Jeffrey Eugenides

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Jeffrey Eugenides é, sem dúvida, um dos meus escritores preferidos. Não lembro como ouvi falar dele, mas não faz muito tempo. Em 2009, quando morava em residência acadêmica, em Lisboa, me lembro que fui convidada para uma sessão do filme As Virgens Suicidas. Na época eu não tinha a menor ideia que o filme era baseado no livro do JE. Acabei não indo (fui assistir depois) e ainda tirei sarro do título com uma amiga. Mas o tempo passa, você amadurece e as coisas mudam. Agora aqui estou eu, escrevendo um texto praticamente mostrando todo meu amor por Jeffrey Eugenides. Quer saber se você pode vir a amá-lo também? Se estes argumentos aqui embaixo conseguirem te satisfazer, então acho que a resposta é sim.

caraUm é pouco, dois é bom…

Um bom motivo para ler Eugenides é o seguinte: ele escreveu muito pouco. São apenas três livros.  Isso me entristece porque eu adoraria ler muito mais livros dele. Mas três é um bom número para quem quer começar, não? Dá para pegar o espírito da coisa muito rápido, dá até para sair dizendo que já leu as obras completas de alguém. Mas agora, sem brincadeira. Eu já vi o argumento a seguir em algum lugar: JE é de uma geração norte-americana conhecida pela prolificidade. Escrever muito em pouco tempo tem suas vantagens, mas muitas vezes fica claro que o autor está também tentando cumprir metas, atender expectativas e se manter visível no mercado. Não é o caso do Eugenides. Escreveu três romances, com intervalos grandes entre eles, quer dizer: cada projeto é especial. 

6a00d83452366769e200e54f3806428833-800wiNão é do Clube do Bolinha 

Não sei dizer qual seria o tema central dos três romances de Jeffrey Eugenides. Só sei que as mulheres e a forma como elas aparecem no mundo são uma preocupação muito forte nos três livros. No primeiro, As Virgens Suicidas, a história gira em torno da morte das meninas da família Lisbon, reprimidas social e sexualmente. Middlesex, o segundo, é sobre um personagem hermafrodita e, por último, A trama do Casamento tem um triângulo amoroso em que o ponto de vista feminino é o mais importante. Tudo isso é muito resumido, nem chega perto do que cada livro é realmente, mas dá pra ter uma ideia de como os romances de Jeffrey Eugenides não seriam a primeira escolha num círculo de leitura no Clube do Bolinha. 

Jeffrey_EugenidesBoas histórias, boa leitura

A originalidade das histórias é outro ponto forte. Em As Virgens Suicidas o narrador aparece na primeira pessoa do plural. Foi a primeira vez que li um narrador que era “nós”. Em Middlesex, os altos e baixos da família Stephanides fazem do livro uma odisséia. É muito bom acompanhar o vai e vem do tempo com os personagens. Então, se você busca um escritor que vai te surpreender seja na forma de narrar, seja no desenrolar do enredo, JE é uma boa escolha.

56513935Sem elitismo literário 

O autor ganhou um prêmio Pulitzer por Middlesex – além de alguns outros prêmios – e a diretora Sofia Coppola baseou um filme em seu primeiro livro. Eugenides é um escritor aclamado, e suas obras podem ser vistas como cults. A melhor parte, porém, é que seus livros não têm o cult dentro deles. A melhor parte de ler um autor bom é que a histórias que estão ali dentro nunca sentem o peso da fama. Essa é a principal razão do meu amor pelo Jeffrey Eugenides. O legal é que alguém não acostumado com os livros dele vai conseguir ler tranquilamente, e quem gosta de livros mais cults vai conseguir achar ele muito bom.

AVT_Jeffrey-Eugenides_9019Leia. Leia. (Sério, leia)

Se você gosta de estar inteirado sobre o que acontece no mainstream literário, precisa ler Eugenides. A julgar pelo intervalo entre seus livros, mais um par de anos e vai pipocar um outro dele. Se eu fosse você, até lá estaria com a leitura dos três primeiros em dia. Agora, se você não é alguém adepto ao estilo que está na moda, a ênfase é maior ainda: leia. Leia. Você vai se identificar mais ainda. Jeffrey Eugenides não tem nada a ver com o burburinho em volta dele.