The Terror é a melhor história de fim de mundo que já apareceu na TV

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Eu já vi muito seriado na minha vida – um número que até constrangeria pessoas com um pouquinho mais de noção – e posso dizer que sei reconhecer um clássico instantâneo quando esbarro em um. Quem não assistir a The Terror, da AMC, vai perder um dos grandes momentos da televisão nos últimos anos, com algumas das atuações mais comoventes que eu já vi em qualquer mídia.

Desculpa, me empolguei. Eu não sei se a série foi divulgada com alarde ou não, o que sei é que fui pega de surpresa. Baseada no livro de Dan Simmons, temos a história real da expedição de John Franklin, que partiu da Inglaterra vitoriana para encontrar a passagem que liga o oceano Atlântico ao Pacífico acima do Circulo Polar Árctico. Franklin e seus mais de 100 tripulantes partiram em dois navios, em 1845 e… jamais voltaram. Viraram lenda, motivando dezenas de outras viagens em seu encalço. O livro e a série ficcionam a expedição. E quando eu digo ficcionam eu me refiro a um pacote mais que completo. A história não é contada como poderia ter acontecido, nada disso: não demora e um monstro meio urso, meio demônio coloca a vida dos homens em risco, como se não bastassem o frio, a fome e as doenças.

The Terror é perfeita por diversos ângulos. A produção é daquele tipo que recria a época na medida certa, nem a mais nem a menos, sem pretensão de ser um fim em si mesma. Isso inclui os figurinos e cenários. A direção é precisa, nem sempre sutil ou no mesmíssimo tom, mas sem jogadas mirabolantes para fingir profundidade ou passagens arrastadas para duvidar de nossa inteligência. Mas se The Terror tem um aspecto irrepreensível este é o desempenho de todo o elenco. Não consigo me lembrar de uma exceção.

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Os três personagens principais são atores entre aqueles rostos que a gente se acostuma a ver, mas que nem sempre consegue lembrar de onde os conhece. Aqui, eles brilham. Tem Jared Harris, que tinha feito um dos coadjuvantes mais humanos de Mad Men; Tobias Menzies, que tem um papel nanico em Game of Thrones mas chamou a minha atenção pelo que fez em Outlander; e tem o veterano Ciarán Hinds, que é o Mance Ryder, também de Game of Thrones. Além deles, há Adam Nagaitis, que é um vilãozinho do capeta, um ator que me deixou com vontade de levantar do sofá e partir para a agressão física, que nem aquele homem com um capacete que invadiu uma versão teatral da Paixão de Cristo. Apoiados por gente que, pelo que me pareceu, mantém o mesmo nível, esses quatro atores mostram aquela capacidade de manter o olho da gente colado na tela, independentemente do texto.

E olha que o texto é bom pra caramba. Não li o livro, não o conhecia, nem sabia da existência de Dan Simmons, que, fui descobrir depois, é um autor bem badalado quando o assunto é ficcção histórica, mas os roteiros baseados no livro são do tipo que consegue contar várias histórias com o mínimo de pirotecnia, com aquelas sacadas que, ou dão vontade de chorar, ou despertam uma pergunta bem profunda lá no meio da cabeça. Além disso, uma das coisas mais gostosas de se envolver com um filme ou série é a possibilidade ter as expectativas frustradas, de se enganar a respeito do que vai acontecer e como – isso tudo The Terror faz sem render-se completamente ao espírito do tempo, o que é um sinal de originalidade, afinal de contas.

A minha vontade era escrever sobre The Terror na altura do segundo capítulo. Ali eu previ que sairia impressionada, mas segurei o entusiasmo porque aqui, no blog, já caí seguidas vezes no conto do ótimo piloto, ou do começo empolgante que depois revela um abacaxi. Por sorte, não cheguei a me decepcionar. O último episódio tem lá seus defeitos, alguém mais crica que eu seria capaz até de se frustrar, mas eu duvido que os últimos dois ou três anos, na televisão, tenham visto nascer uma história melhor a respeito de amizade, lealdade, integridade, das coisas que tornam as pessoas humanas e daquelas que fazem com que a gente perca de tudo isso de vista.

Essa foi, na minha opinião, a melhor série de fim de mundo que já apareceu na televisão porque ela mostra que não precisa de muito para o mundo desabar. Vou terminar com uma frase profunda: fica a dica.

O primeiro dia do resto da nossa vida

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Tess e Angus têm dezoito anos e se esbarram na Itália durante uma viagem de férias. Isso parece o começo de uma história de amor, não é? Não é o que a autora Kate Eberlen acha. Tess e Angus apenas topam um com o outro e continuam com suas vidas. Esse é o grande suspense de O primeiro dia do resto da nossa vida. Se você já leu Simplesmente acontece, de Cecelia Ahern, vai entender melhor a ideia desse mistério: acompanhamos dois personagens que têm tudo para formar um casal mas que, por conta do destino, não conseguem se encontrar.

A história começa em 1998 e termina em 2013. São quinze anos com muitos altos e baixos. Tess volta da viagem da Itália pronta para começar sua vida acadêmica, mas sua mãe está muito doente. Como se não bastasse isso, os planos para a universidade são deixados de lado quando ela percebe que é a única pessoa que poderá cuidar da irmãzinha de quatro anos.

Angus também está ansioso pela vida acadêmica, mas por motivos bem diferentes. Recentemente ele perdeu o irmão mais velho, o irmão que era o orgulho da família e que rivalizava com ele em todas as situações. Uma dinâmica meio irmão perfeito contra irmão que só decepciona. Por isso o relacionamento de Angus com os pais não é dos melhores, e tudo o que ele mais precisa é ficar longe das duas pessoas que se sentem tão desapontadas com ele.

Os anos vão passando, e Tess e Angus vão levando uma vida triste e difícil. O sentimento que fica por boa parte da leitura é de tristeza. Mais do que uma história de amor, o livro fala do amor próprio, de conseguir andar com as próprias pernas e superar aqueles momentos em que nada parece dar certo. Tess vê seus planos afundarem quando precisa lidar com problemas que não eram dela, e se vê sozinha. Angus toma decisões erradas porque não consegue lidar com suas próprias questões.

Sabe quando você lê uma história de amor, os protagonistas até se encontram mas eles precisam resolver suas pendências para que possam ficar juntos, e todo um passado mal resolvido é um empecilho que eles precisam (e geralmente conseguem) resolver logo? O primeiro dia do resto da nossa vida é a história desse passado mal resolvido e não do casal já estabelecido. Se você é desses leitores ansiosos por aproveitar os momentos bonitos de um relacionamento, você também vai se angustiar. Tess e Angus vivem histórias distintas, longe um do outro, e ao longo do livro eu cheguei a me perguntar se eles chegariam a se encontrar novamente.

Por isso, acho que eu não torci muito para eles ficarem juntos, o que eu desejei mais do que tudo foi que eles resolvessem seus muitos problemas. Ambos tinham que lidar com um pessoal bem complicado. Os personagens que os rodeiam só me fizeram gostar mais do casal principal. Eram figuras mesquinhas e egoístas, na maior parte do tempo. Se eu torci um pouco por Angus e Tess foi porque os dois eram os únicos que mereciam um final feliz.

E o final feliz é o mistério do livro. Eles ficam juntos ou nunca se encontram? Em vários momentos da história eles quase se esbarram: no casamento da irmã da namorada do Angus, Tess está acompanhando o namorado, que é o DJ da festa; numa fila de compra de natal Angus vê Tess sem saber quem ela é. O que fica claro logo que a leitura começa é que o encontro dos dois só pode acontecer em um momento: no final. O que mais me instigou foi tanto saber se isso vai acontecer, quanto imaginar e elaborar, ao longo da leitura, maneiras de realizar esse encontro.

Se você busca um livro triste, mas que não vai te fazer chorar, acho que O primeiro dia do resto da nossa vida é a escolha perfeita. Emoção na medida certa, com várias pequenas sacadas que impedem que a leitura seja mais do mesmo.

8 filmes de amor para chorar

Quando eu fiz a primeira lista de filmes para chorar aqui pro blog, comecei a lembrar de vários que não serviriam exatamente para aquela lista, mas que renderiam uma outra mais… melosa. Na primeira vez eu priorizei os filmes mais melancólicos com a vida, daqueles para a gente sentir que o mundo é horrível, e agora então eu volto com os  longas românticos chorosos, aqueles que nos fazem chorar dentro de uma espécie de zona de conforto, porque o mundo pode não ser bom mas o amor é possível.

Era para ser uma lista com apenas cinco filmes, mas como é de costume para uma pessoa indecisa eu tive que esticar para oito. Talvez você já tenha visto pelo menos um desses filmes na sessão da tarde, tenha chorado assim como eu e depois tenha descoberto que o filme nem é tão bom, mas que mesmo assim você vai chorar se assistir àquele final novamente. Talvez você tenha visto todos e não tenha chorado em nenhum – nesse caso você tem um kiwi azedo no lugar do coração.

Agora, ninguém disse que essa lista contém filmes bons: esse não é o critério usado aqui. Eu gosto de todos que escolhi (por que eu indicaria se não gostasse, hein?), mas admito que eles não são os mais queridinhos da crítica, cultuados por gerações, motivos de homenagens em cinematecas. Você entendeu. E, se você é como eu e um dos seus maiores prazeres é engatar num drama romântico de qualquer qualidade, vai gostar das minhas escolhas.

Tenho que dizer ainda, que, como os filmes são famosos e um pouco antigos, eu decidi pisar no acelerador dos spoilers. Se você continuar lendo mesmo sem ter assistido aos filmes e ainda assim quiser vê-los, você está por sua conta e risco.

Ah, e sabe qual é a principal relação entre esses filmes? A morte. Só um da lista termina sem que uma das partes do casal morra. Bora? Eu digo bora.

Love Story: uma história de amor

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Acho que esse filme pode ser nomeado o pai dos filmes em que alguém do casal morre e a gente se vê obrigada a chorar. Love Story é de 1970, e conta a história de dois jovens – um rapaz e uma moça – que se conhecem na universidade e logo se apaixonam. Vindos de classes sociais diferentes eles precisam enfrentar os dissabores de uma família rica preconceituosa, a dele. E como problema chama problema eles descobrem que um deles está muito doente. O amor dos dois é lindo, a trilha do filme é linda e o sofrimento no fim do filme é lindo. O que não é lindo é chorar até passar mal. A gente acha que está linda e charmosa chorando discretamente, e quando se olha no espelho vê que parece um cachorro em quem colocaram um termômetro pela bunda.

O amor pode dar certo

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Amanda Peet (que eu amo desde Jack e Jill) e Dermot Mulroney estrelam este filme com muitos clichês, mas que mesmo assim me fez chorar. O amor pode dar certo é de 2006. Eles se conhecem em uma aula na universidade (de novo!), e logo não se desgrudam mais. Um deles está doente, e eles decidem viver os dias como se uma doença não fosse obstáculo para o amor. O filme é fofo e a tristeza do fim não chega a ser tão grande. O choro aqui não foi tão copioso, e olha que teve uma surpresinha lá pelo final, uma reviravolta interessante.

Tudo por Amor

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Esse filme de 1991 passou algumas boas vezes na Sessão da Tarde. Acho que aqui não faz mal soltar spoiler. Quem nunca escutou aquele saxofone do cara ruivo e lembrou da Julia Roberts cuidando do cara doente? O meu marido não conhecia o filme direito, e uma vez conversando ele me disse: Ah, esse é aquele do cara doente que bate na Julia Roberts. Hã? É que ele embolou Dormindo com o inimigo, em que a Julia Roberts é vítima de violência doméstica, com Tudo por amor, em que a Julia Roberts cuida de um doente terminal. Pelo jeito ele não era fã da Sessão da Tarde. Mas o filme é sobre um homem com uma doença terminal que precisa de uma enfermeira/acompanhante (lembrou de Como eu era antes de você?). Eles se apaixonam e vivem um felizes para sempre com data de validade. Eu era novinha quando vi pela primeira vez e chorei como se não houvesse amanhã – spoiler: às vezes não há.

Outono em Nova York

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Um filme com melodrama na medida certa. Um dos meus favoritos, de longe, por conta do casal: Winona Ryder e Richard Gere. Eu era louca pelo Richard Gere, mas agora ele foi de coroa a velhinho fofinho, e assim fica difícil manter a quedinha. Mas em Outono em Nova York ele é o Richard Gere playboy que não quer se ver em um relacionamento sério. Pelo menos até conhecer a Winona Ryder. De repente eles estão apaixonados e ele decide que quer sim viver um grande amor com ela. Infelizmente para todos nós, ela está morrendo. Pois é. Admito que chorei e solucei. Queria os dois juntinhos (parece um casal improvável, né?) para sempre.

Noites de Tormenta

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Falando em Richard Gere, aqui ele está mais velho (ainda não era caquético, porém) e o seu par é outra atriz de quem gosto muito, a Diane Lane. O filme é baseado em um livro do Nicholas Sparks. Quando eu assisti ao filme no cinema confesso que nem sabia quem era Nicholas Sparks, e admito que hoje em dia o nome dele nos créditos teria me impedido de comprar o ingresso. Mas ainda bem que eu fui. Chorei na sala, escorregando no banco para ninguém notar (todo mundo na sessão estava fazendo o mesmo). Diane Lane vai se refugiar na pousada de uma amiga para escapar de problemas familiares. Lá ela conhece Richard Gere, eles encaixam perfeitamente e vivem uma super paixão. Como eu disse, eu não conhecia Nicholas Sparks e não sabia que nas suas histórias alguém sempre tem que morrer. Nessa, pelo menos ninguém fica doente.

O despertar de uma paixão

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A primeira frase só pode ser: esse filme é lindo. Esqueça que alguém morre. O desenvolvimento todo da trama é o que importa. Diferente dos citados até agora, esse aqui conta a história de um amor mais maduro, com progresso lento. A década é 1920 (eu odeio esta década, mas reconsiderei nesse caso), Edward Norton e Naomi Watts se casam e vão viver em Xangai. Eles ainda não se amam, e muita coisa vai acontecer até eles perceberem que devem ficar juntos. Mas não se esqueça: a lista é pra chorar. Eu chorei. Watts e Norton fazem um casal tão lindo! Que filme!

Blue Valentine

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Me recuso a chamar esse filme pelo título nacional. Se você ficou curioso, então toma: Namorados para sempre. É que eles são tudo menos namorados para sempre. O único filme da lista em que ninguém morre, se não me falha a memória, mas não se iluda: é tão fácil chorar nesse daqui como em qualquer outro desses em que alguém está com uma doença terminal das mais perturbadoras. Ryan Gosling e Michelle Williams são casados e estão terminando o relacionamento. O filme conta a história deles no presente, com brigas e desentendimentos, e no passado quando ainda eram apaixonados. É triste. É de partir o coração ver o que eles tinham e no que tudo se transformou. Impossível não chorar.

Minha vida sem mim

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Talvez eu não devesse colocar esse aqui na lista. Sarah Polley vive a protagonista que está morrendo, mas diferente dos outros filmes ela não está vivendo um grande amor. Ela é casada com um crush meu, o Scott Speedman, e eles moram em um trailer levando uma vida difícil. Quando ela descobre a doença, decide fazer uma lista de todas as coisas que gostaria de fazer. Parece um super clichê, mas o filme surpreende pelo jeito de abordá-lo. É uma história de amor, mas de amor próprio. Triste e lindo. O fim é a melhor parte… para chorar.

Bônus: Diário de uma paixão

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Esse filme não entrou oficialmente na lista porque todo mundo o conhece. Talvez você não tenha visto porque odeia filme meloso ( e nesse caso o que você está fazendo aqui? quem é você? o que te faz chorar? você teve carinho na infância?) mas mesmo assim deve ter visto ele numa lista dessas por aí. É covardia um filme com velhinhos morrendo, mas covardia é a marca registrada dele mesmo, Nicholas Sparks. Eu chorei na primeira vez, na segunda e na terceira. Ryan Gosling e Rachel McAdams estão mais do que shippáveis, tanto que depois do filme eles namoraram por um tempo – dizem que na época das gravações eles meio que se odiavam. Na vida real cada um seguiu um rumo depois do breve relacionamento, mas em Diário de uma paixão eles se amam até a morte. Acho que só isso já basta para ver o filme, não? Tem a Gena Rowlands, o filho dela é quem dirige. Que mais? Ah, é a melhor adaptação já feita de alguma coisa do Nicholas Sparks.

Antes de partir

Antes de partir

Minha prateleira de dramas românticos é muito confusa. Há coisas que beiram a misoginia e me fazem sentir nojo da história, mas também tem coisas meio machistas que ainda assim me fazem querer devorar o livro; às vezes um romance me surpreende ainda que não tenha aquilo que eu estava buscando, e às vezes, mesmo trazendo todos os elementos que eu procuro, o livro não me pega. O último exemplo foi o que ocorreu em Antes de partir, de Colleen Oakley, na edição da Bertrand Brasil, com tradução de Valéria Lamim.

As coisas pareciam promissoras. Admito que quando li a sinopse eu pensei “oba!, vou chorar com este livro, ele vai me emocionar pra caramba, vai ser lindo”. Não foi bem assim. Quem está para partir em Antes de partir é Daisy, uma mulher que sobreviveu ao câncer de mama aos 23 anos. Quatro anos depois ela descobre que o câncer voltou e tomou todo o corpo, e por isso lhe restam talvez poucos meses de vida. Casada com Jack, ela se agarra a uma ideia fixa: antes de morrer, ela precisa arranjar outra mulher para o marido para que ele não passe o resto dos dias sozinho. Jack é super desorganizado, Daisy o vê como um bebezão. Ele é médico-veterinário e passa boa parte do tempo envolvido no trabalho. Então aqui estamos nós, é daqui que começamos.

Acontece que essa vontade de Daisy pode parecer muito altruísta mas é apenas uma aparição de seu mau hábito de querer controlar e decidir tudo. Claro que a tentativa não dá certo, e ela morre de ciúmes. Daisy é rabugenta por boa parte da história, o que é fácil de entender quando você pensa no que ela está passando, mas compreender que a barra deve ser difícil não salva essa protagonista da chatice. Jack, o mocinho alheio às ideias mirabolantes de Daisy, é mais decepcionante ainda. Em alguns momentos ele  acaba apenas egoísta e desinteressado, e eu não tenho a impressão de que essa fosse a ideia de Colleen Oakley. Quando era para eu me importar com a ingenuidade e o desamparo de Jack, acabei achando que ele era mimado e indiferente. Numa história de amor, um protagonista indiferente é a última coisa que eu quero ver.

Colleen Oakley, não quis que o livro fosse recheado de “sentimentalismo barato” (dá pra ler isso na quarta capa). Ela conseguiu. Mas com isso, miguelou o  choro de quem queria ler um bom romance sem medo de ser piegas. Não tem problema mostrar um mocinho que está perdido e não sabe nem metade das coisas que a protagonista pensa, os dramas românticos são repletos disso, o problema é quando essa apatia cria raízes tão profundas no personagem que nada sobra nele. E aí você fica: Ué? Queria um mocinho e não houve mocinho?

Mas por que escrever sobre um livro que, no geral, não me satisfez? Não quero ser a chata que só reclama. Normalmente se eu não gostei eu deixo para lá, mas aqui o caso é diferente: achei pontos bons e ruins. Os ruins não me fizeram abandonar a leitura, e os bons não me deixaram especialmente comovida. Foi um livro que eu li. Acho que todo leitor já sentiu isso, e só por não estar sozinha nessa, resolvi escrever.

A capa de Antes de partir já entrega o grupo em que a obra quer entrar e a quem ela vai agradar. Depois do sucesso de Como eu era antes de você, veio um bom número de romances com capas e histórias similares. Eu não me importo que todos esses livros aparentemente evoquem a mesma coisa se, na hora da verdade, cada um consiga se sustentar em seu próprio universo. Em outras palavras: mesmo que seja a releitura da releitura da colagem da inspiração da cópia da fanfic, o livro terá toda a minha boa vontade contanto que, quando formos só nós dois, o livro e eu, ele converse pessoalmente comigo, naquele contato que só a leitura pode trazer.

Como qualquer pessoa contraditória e indecisa, preciso dizer que Antes de partir me prendeu em pequenos detalhes que a Colleen Oakley conseguiu inserir. Gostei da descrição dos fatos e até de alguns pensamentos das personagens. Mesmo não sendo uma personagem excêntrica como as da Marian Keyes, os pensamentos de Daisy em vários momentos (quando ela não estava sendo apenas rabugenta) me fizeram continuar senão intrigada, pelo menos parcialmente seduzida. Isso pode parecer pouco, mas só de saber que a autora pode fazer isso, ela já me ganha para um próximo livro.

The night of

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Quem quer que tenha escolhido Riz Ahmed para ser Naz, o protagonista de The Night Of, o fez consciente de que escalava os dois maiores olhos-de-cachorro-pidão da história recente da televisão. Eu me pego pensando nessa escolha quando tento elaborar minhas teorias sobre o que está acontecendo na série nova da HBO, que a essa altura está no terceiro episódio.

No piloto, Naz saiu de casa numa sexta à noite e para isso teve que pegar, escondido, o táxi em que o pai trabalha. Antes de chegar à festa, conheceu uma garota, eles foram à casa dela, transaram. Corta para ele despertando sozinho numa cozinha que não conhece. Ele sobe as escadas, se veste ao pé da cama, e vai acordá-la para dizer que está indo embora. Ela não responde. Ele acende o abajur e vê que tem sangue por tudo. Ela está morta. Ele foge. Depois, dirá que se desesperou e não soube agir.

The Night Of é um seriado de crime com detetive, advogados, tribunais, cadeia. Nada disso empolga pela originalidade, à primeira vista, mas a produção tem suas vantagens. A começar pelo orçamento, que permite uma fotografia bonita, bons atores, e aquela direção ambiciosa que caracteriza algumas coisas da HBO. O seriado ainda não deu material suficiente para que se especule sobre os motivos do crime, ou sobre as motivações dos personagens principais, mas o pano de fundo político leva a imaginação longe.

Naz é filho de imigrantes paquistaneses. Os pais são batalhadores de classe baixa, ele é excelente aluno. A família muçulmana faz o possível para passar abaixo do radar, e aí acontece esse crime horrível. Naz está no centro dos acontecimentos e todo o esforço que eles fizeram para não chamar atenção é esmagado pela enxurrada de visibilidade que um caso como esse atrai. Aos olhos de todo o mundo, um monstrinho muçulmano trucidou uma menina americana de vinte e dois anos. De certa forma o julgamento já foi feito, e agora todos ao redor vão pagar pelo crime. Só quem não se precipita em afirmar com toda a certeza que Naz é um assassino frio é quem tem contato com ele e pode ver que ele é um garoto americano como tantos, apegado à família e empenhado em se adequar.

tumblr_oakwfaoq4x1sbdg0wo1_250The Night Of é baseado na primeira temporada de Criminal Justice, da BBC, mas talvez não valha a pena buscar pistas da produção americana na inglesa. Não vi a original, mas logo de cara não me parece que uma transcrição ao pé da letra seja possível. The Night Of parece bem preocupado em tratar de temas americanos, e seus personagens, lugares e tumblr_oakwfaoq4x1sbdg0wo4_250conflitos lembram bem aquela Nova Iorque que a gente conhece através dos filmes dos anos 1990. O tema, porém, reflete totalmente as preocupações americanas após o 11 de setembro.

E é por isso que eu fico pensando nos olhos inocentes de Naz. O resultado seria o mesmo, qualquer que fosse a aparência de um filho de imigrantes acusado de matar uma moça americana branca: ele viraria um monstro. No terceiro episódio a imprensa já pergunta à promotoria se Naz tem relação com grupos terroristas, e mesmo que ele seja cidadão americano, tanto ele quanto a família precisam responder a todo momento quem são e de onde vêm. Só que mesmo depois de três episódios, nós, o público, ainda não sabemos muito sobre o suposto assassino. Ele não tem cara de bandido, como diz o detetive, mas ainda é cedo para comprar inteiramente aquele ar de fragilidade e inocência. Afinal de contas, tudo o coloca na cena do crime. Apenas o perfil e a palavra dele o tiram de lá.

Por outro lado, eu não acho que a HBO correria o risco de tratar de um tema tão delicado se fosse para chegar ao final com a descoberta de que aquele menino pintado como um monstro é realmente um monstro. Acho que é uma complicação indesejada para uma série de tevê, coisa que depende tanto da repercussão do público. Eles teriam que dizer: viu, nem todo muçulmano é um monstro, mas este aqui em particular é um monstro apesar dos olhos bonzinhos. Não acho que seja o caso. Acho que a série tem o objetivo de mostrar que o sistema criminal não está bem preparado para tratar de quem não se encaixa, mas…

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Nesse caso, escolher um protagonista com tanta cara de inocente só dificultaria o trabalho de todo mundo e, pior, entregaria o ouro muito rapidamente. Portanto, das duas uma: ou Naz tem cara de bonzinho porque é mesmo um menino inocente e vai sofrer o pão que o diabo amassou (o que é meio previsível e brochante para quem assiste), ou ele é um lobo em pele de cordeiro. Se ele for culpado, a série vai ter que se esforçar bastante para evitar justo aquela superficialidade que tenta criticar, e aí pode chegar num resultado interessante.

Faço todo esse exercício inútil de futurologia só para registrar que estou completamente perdida. Comecei o segundo episódio sem ter ideia do que aconteceria, e, vendo televisão, essa é uma experiência que eu adoro. Será que eu esqueci de alguma coisa? Sim. The Night Of ainda tem o John Turturro, no papel de um advogado de porta-de-cadeia com um eczema no pé.

5 Filmes para chorar até soluçar

Depois de ler o texto da Isabela Boscov sobre Como eu era antes de você e  outros filmes que a fizeram chorar, resolvi usar a ideia dela e montar uma lista com os filmes que mais me fizeram chorar descompassadamente. Mas não vale qualquer filme. No texto, Isabela Boscov fala de como o longa com Emilia Clarke leva o público às lágrimas (admito que chorei tanto com o livro que não sobrou nada para o filme) de um jeito prudente, como se houvesse uma rede de proteção ali, e por causa dessa rede a emoção momentânea com a história tristíssima não chegasse a causar verdadeira tristeza.

Isso é muito verdade. Gostei muito dessa distinção que ela fez entre os filmes que fazem chorar numa espécie de zona de conforto e aqueles que te jogam no abismo e dizem “vai lá, agora que você veio, segure essa tristeza e dê um jeito de viver com ela”.

Na primeira categoria, eu lembro de alguns filmes que me deixaram em prantos, mas que não me abalaram, como: Outono em Nova York, Noites de Tormenta e Diário de uma paixão. Com eles eu chorei, mas admito que não sofri de verdade porque, afinal, uma história de amor planejada para nos fazer chorar é só isso: uma história bela e triste que enternece sem nos ferir de verdade, porque quando rolam os créditos tudo é lindo e a vida vale a pena. O que não é o caso dos filmes da segunda categoria. A lista que você vê aqui traz cinco filmes que me fizeram chorar como se não houvesse amanhã. Todos eles me comoveram e me deixaram com uma tristeza permanente. Eu posso estar rodeada de gente, num dia de sol e comendo churros, e ainda assim vou lembrar de uma cena de um desses filmes e pensar que o mundo é muito triste.

Umberto D.

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Melhor começar a lista com aquele que mais me fez chorar na vida, não? Umberto D. é antigo, p&b, italiano e não parece apetecer muito, né? Na época eu estava viciada em filmes do neorrealismo, e havia me apaixonado pelo Vittorio de Sica com Ladrões de bicicleta. Foram vários filmes tristes de partir o coração e de despertar muito choro, mas nenhum chegou perto do velhinho Umberto D. e de seu cachorrinho, que são despejados de casa e vagam pelas ruas, buscando uma forma de viver com dignidade. Só de escrever isso já dá vontade de chorar. Nunca mais consegui assistir a esse filme, e me lembro muito bem de chorar nele inteirinho. Quando sentia que conseguiria parar de chorar, lá vinha mais uma super tristeza pra me fazer soluçar novamente. Velhinho e cachorrinho, pobreza e injustiça. Não dá para segurar.

Amor pra cachorro

Year Of The Dog

Ainda falando em cachorrinho, este filme com a Molly Shannon é comovente e até tem uma mensagem positiva, mas é muito triste. Peggy vive sozinha com Pencil, seu cachorro e único companheiro. Depois de uns acontecimentos que me fizeram chorar um pouquinho, a vida dela muda drasticamente. Por falta de um rótulo melhor, o filme se vendeu como uma comédia, e admito que ele engana que é leve em vários momentos. Todo ele é uma jornada em que Peggy descobre que, para ser feliz, não precisa buscar a felicidade nos moldes dos outros. Eu me identifiquei muito com a Peggy e seus relacionamentos danosos, seus aprendizados difíceis, por isso chorei e chorei muito. No fim das contas, tentar ser você mesmo nem sempre é garantia de felicidade.

No mundo da lua

no mundo da lua

Até hoje me revolta este título brasileiro para um filme que se chama The man in the moon. Pode parecer inofensivo, mas poxa, estar “no mundo da lua” é outra coisa – que droga. O filme é do diretor Robert Mulligan, de quem eu vi muitos filmes na época em que eu frequentava uma cinemateca excelente. Por causa disso, era para eu ter só boas lembranças de Mulligan e desse período. Mas no meio do caminho tinha um acidente. Outros filmes dele me fizeram chorar, mas escolhi The man in the moon apenas por uma cena muito chocante, inesperada, da qual não se pode voltar, e que sempre passa em minha mente quando eu vejo determinada máquina agrícola. É uma tristeza definitiva. Acho que é o primeiro filme de Reese Witherspoon, e ele começa de um jeito muito doce, com a história de duas jovens irmãs que vivem no interior dos Estados Unidos e levam uma vida simples e sem grandes atropelos. Elas conhecem um garoto, mas a Reese Witherspoon é novinha, enquanto sua irmã está no fim da adolescência. As duas se apaixonam por ele, mas só uma é correspondida. O filme não parecia ser mais do que isso, e ele estava sendo contado de um jeito tão leve que eu já estava feliz e conformada por achar que tinha entendido tudo. E aí toma: acontece uma super reviravolta, e a cena em que ela se dá é tão forte que eu chorei de choque. Sim, é bem impactante e bem triste, mostra que ninguém tem controle sobre a vida e que não adianta fazer planos. Acho que este filme ainda está na Netflix.

A liberdade é azul

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Outro de cortar o coração. A liberdade é azul é do Kieslowski e faz parte da trilogia das cores. Depois de ver esse filme senti que o meu coração havia sido esmagado, chutado, pisoteado e molestado até não poder mais. Dos cinco citados na lista ele é o que poderia ter a história mais parecida com os filmes que eu citei lá em cima, e  para algum desavisado passaria como um entre os que fazem chorar na zona de conforto. Nada seria mais equivocado. O mundo é um lugar ao mesmo tempo bonito e terrível. Juliette Binoche perdeu a filha e o marido, está de luto, e depois de quase desistir de viver, decide dar mais uma chance à vida. A história é triste mas dá muito bem para imaginar um filme assim com a Jennifer Aniston, né? Mas A liberdade é azul consegue nos tocar e sensibilizar não por ficar remoendo a morte, mas por mostrar que mesmo num momento obscuro, é possível viver. Essa mensagem é apavorante: é possível que o pior aconteça e que mesmo assim você consiga ficar de pé. Ou melhor: o pior vai acontecer e a sua obrigação é ficar de pé. Impossível não chorar com a trilha, ainda por cima.

O Homem Urso

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E por último, um documentário lindo e poético sobre Timothy Treadwell, um homem que por anos viveu tentando fazer amizade com alguns dos animais mais perigosos do mundo. Se você nunca viu um documentário do Werner Herzog, por favor, pare tudo e procure um, qualquer um. Nenhum outro diretor consegue, num documentário, arrancar o que Herzog arranca de suas fontes. Por isso os documentários dele são bonitos e bizarros, ao mesmo tempo crus e surreais. O Homem Urso é o melhor exemplo, e mesmo que tenha sido feito depois da morte de Treadwell, os depoimentos de amigos e familiares acabam constituindo pequenas façanhas. Timothy era um homem apaixonado pelos animais, e se considerava um protetor deles, mas com os vídeos que ele fez enquanto viveu numa reserva de ursos, Herzog nos faz ver que aquele amor estava tomando um tom de loucura e desespero. O diretor nos faz pensar na indiferença da natureza do jeito mais lindo e triste possível. O Homem Urso é um ensaio de Herzog sobre a humanidade e a natureza, sobre a natureza da humanidade, sobre a sinceridade, sobre pessoas extremas, sobre a nossa necessidade de pertencimento e nossos impulsos de isolamento. Quando toca a primeira nota de “Coyotes”, de Don Edwards, nem a pessoa mais coração de pedra consegue segurar uma lágrima.

True Story

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Jonah Hill é Michael Finkel e James Franco é Christian Longo. True Story é mesmo uma história verdadeira. Qualquer filme sobre assassinos psicóticos me interessa. Jonah Hill e James Franco não seriam minha escolha para um drama policial, mas como não sou cineasta e não mando em nada, aceitei os dois e assisti torcendo para que o filme fosse tão bom quanto Zodíaco (pois é, Zodíaco é a minha medida de comparação para filmes assim).

Finkel é um jornalista mentiroso que gosta de dar um jeitinho para que uma matéria fique exatamente como ele precisa que fique. Isso até poderia ser normal se ele não desfrutasse de uma ótima fama e popularidade, e não trabalhasse no jornal mais reconhecido no mundo, o The New York Times. Depois de uma escorregada grande e uma mentira pouco inocente, Finkel perde o emprego e a notoriedade. De um grande jornalista, ele vira apenas um desempregado sem credibilidade. É neste momento que Christian Longo surge em sua vida. Longo estava foragido, e foi encontrado no México. Ele havia assumido uma nova identidade: dizia ser Michael Finkel, jornalista do NYT. Por conta dessa esquisitice, Finkel vai atrás de Christian. Depois de algumas visitas ao presídio, e sabendo um pouco mais da história de Longo, um laço se estabelece. Christian Longo está sendo acusado de matar a mulher e os três filhos. Ninguém acredita em sua inocência, e é nisso que Michael Finkel se agarra. Ele se identifica com o assassino, que assim como ele está sendo crucificado por algo que diz não ter feito. Além do mais, ele precisa acreditar na versão de Longo pois vê nessa história uma segunda chance. Pois é, esse motivo poderia até convencer, mas acabou ficando um pouco fraco. Pareceu uma coisa meio “o nome da minha mãe também é Martha”.

Deixando isso de lado, o que mais me empolgou em True Story foi o clima de drama policial dos anos noventa. Pode ser que isso seja motivo para uma pessoa desistir de um filme, mas para mim isso o transforma em algo especial, porque eu, afinal, já consumi muito Supercine. A ideia de unir uma história de crime com jornalismo pode entendiar também, de tanto que já foi usada, mas acho que o diretor – Rupert Goold, que eu não conhecia – tem sucesso em deixar o espectador preso até o último minuto, mesmo sem muito suspense e nenhum susto. Outro ponto positivo foi a surpresa da personagem da Felicity Jones, que faz a esposa do Jonah Hill. Quando ela visita o assassino no presídio, eu senti que estava sendo enganada e que aquele filme ali ia enveredar por um caminho muito comum: o clichê do bandido sedutor que consegue manipular todos os que estão em volta. Foi o contrário, e mesmo não sendo nada de mais eu vibrei por dentro. É muito bom achar que já entendeu tudo e então receber uma surpresa positiva.

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Ainda assim True Story não chegou a me entusiasmar, por um motivo em especial. O James Franco é muito difícil de engolir. Não me entenda mal, eu o adoro, e assisti um bom número de filmes e até mesmo uma série (Freak and Geeks, que é ótima!) com ele. Mas acho que nunca tinha parado para pensar que quase todos os filmes que eu vi com Franco no elenco eram comédias ou dramas românticos. Foi complicado acompanhar True Story e ver naquele maluco um homem que assassinou a família. Quando ele queria falar sério ou parecer misterioso, eu ficava pensando que, na próxima cena, ele iria sacar um cigarro de maconha e falar uma asneira nonsense. Em momentos como esse eu percebo que atuação é pelo menos metade de um filme. Eu me pegava pensando, por exemplo, que o Paul Dano seria uma boa opção, mas de novo, não sou cineasta e não mando em nada. No cinema, não é nenhuma novidade que um ator muito preso a um gênero tenha sucesso em outros, mas Franco parece levar a esse papel que era para ser sério, enigmático, cheio de nuances, aquela mesma cara apática e chapada que ele levou ao Oscar que ele apresentou ao lado da Anne Hathaway. Já Jonah Hill apresenta aquela versatilidade que não é novidade nenhuma para quem viu O Lobo de Wall Street.

True Story não é um dos melhores filmes sobre assassinos e casos de assassinato, mas mesmo assim pode valer a sua atenção, se você gosta de coisas como Zodíaco, que eu já citei, As Duas Faces de um Crime, ou de qualquer longa com Denzel Washington. O andamento aqui é um pouco devagar, o diretor foge do ritmo de thriller, mas a lentidão de True Story em nenhum momento atrapalha, acho até que só nos deixa mais curiosos. Por isso, a falta de sustos e de ação faz com que ele consiga se destacar num mar de filmes que se sustentam nas cenas finais com muito pânico e pavor. Para mim, esse filme quis ser uma reflexão sobre a verdade e a honestidade, mas ele precisava acreditar um pouquinho mais em suas próprias qualidades para ser memorável.

The Enfield Haunting

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O que mais me agrada em histórias de terror é poder usar a minha imaginação o quanto eu quiser, principalmente quando nos dão bastante material. Isso é ótimo porque pra isso não precisamos acreditar em tudo. Não é necessário ser católico para ver um filme de exorcismo, nem espírita para gostar de uma história sobre vida após a morte. Só precisa ter imaginação e gostar de uma boa história.

The Enfield Haunting, uma minissérie britânica de terror (e baseada numa polêmica história real) é bem isso. É sobre uma família que vive o pão que o diabo amassou (não posso dizer literalmente porque aqui não se trata do diabo, apenas de espíritos do mal). Acho que mais do que medo, eu senti foi pena. Pena dos protagonistas, que são tão carismáticos e sofrem tanto.

Por se tratar de uma produção para a televisão, fui achando que o terror poderia ficar meio de lado, focando mais no drama. Acho que teve um pouco dos dois, mas em nenhum momento me senti assistindo algo para televisão. Foi mais como um filme, dividido em três episódios. Por isso, de certa forma, foi melhor que um filme. 

The Enfield Haunting Episode 1

O legal da televisão britânica é a escolha do elenco. Diferente da televisão americana, eles parecem preferir o talento à beleza na maioria dos casos – se você já assistiu as duas produções de Shameless você sabe do que eu estou falando. Pode ser que isso incomode alguns, pois a coisa toda fica mais realista. Em uma história de terror/horror, isso é perfeito. Os dentes podem ser tortinhos, a pele pode ter algumas manchas, o cabelo pode ser de qualquer tipo, e assim, os sustos podem ser mais reais.

E voltando a falar sobre imaginação. Não tem nada melhor do que ver um lugar (como a casa da família), ou um personagem (como a Janet, a protagonista e filha do meio), e conseguir sentir tanta coisa. Mesmo com todas as coisas ruins que aconteciam com os personagens, o clima que eu senti foi de acolhimento. Aquela casa vai ficar um bom tempo na minha memória. Janet é muito mais que uma criança querendo chamar a atenção. Ela é carismática, é muito fácil simpatizar com ela.

Janet verdadeira

Janet verdadeira “voando”

E quanto à Janet verdadeira e aos “fatos reais”? Tenho que dizer que sou bem cética, então essa coisa de fatos reais não me importa. Prefiro ficar apenas na ficção. Mas acabei vendo um vídeo onde a Janet da vida real dá uma entrevista ainda criança, e outro vídeo com ela já adulta. E olha… achei ela tão discreta, tão na dela. Isso só contribuiu a seu favor, para mim. Não quero saber se o que está na tela foi verídico ou não, mas a sinceridade que ela demonstrou fez tudo parecer possível. E aí, ceticismo à parte, e mesmo me contradizendo, tenho que dizer: o medinho só aumentou. 

Ah preciso dizer: foi muito bom matar a saudade do Mr. Darcy – o ator que fez Orgulho e Preconceito com a Keira Knightley. Ô ator difícil de ver por aí. Só por isso já valeria a pena.