Alguns documentários e a minha necessidade de montar listas

Daqui a pouco começam as listas de fim de ano. Eu estou preparando as minhas. Foi muito bom fazer as do ano passado. Mais do que dizer o que vale ou não vale a pena, o proveito que eu tiro desse balanço é poder ver, com um mínimo de distância, o que é que chamou a minha atenção, quando, e que relação isso vai ter com as outras coisas que eu li e assisti durante 2017. Dá pra criar uma espécie de mapa dos meus interesses (ahaha). É um hábito que eu recomendo muito.

Eu acabei deixando algumas coisas de fora quando separei os melhores filmes que vi em 2016. A ausência mais sentida (por mim, é claro) não foi a de um filme em especial, mas a de um gênero. Acabei não falando dos documentários. E eu tenho um fraco por documentário. Com exceção de Faces da Morte e que tais, sou capaz de ver qualquer coisa sobre qualquer tema ou pessoa. Expresso imensa curiosidade sobre assuntos pelos quais nunca me interessei, e isso acaba produzindo alguns caminhos difíceis de explicar lá no tal “mapa dos meus interesses”.

rocco netflix

Em 2017 eu gostaria de saber, por exemplo, o que foi que me fez assistir a Rocco, o documentário sobre a vida e o trabalho do ator pornô italiano Rocco Siffredi. O que eu percebi é que Siffredi é uma das pessoas mais vaidosas sobre as quais qualquer um já apontou uma câmera. Então quer dizer que o filme é ruim? Muito pelo contrário. Quando o personagem principal é quase louco, tamanho o seu ego, não tem como o documentário ser desinteressante. Eu queria ver um documentário sobre os bastidores da indústria pornô (assim como Hot Girls Wanted) mas acabei acompanhando um filme sobre gente obsessiva e desequilibrada.

Falando em obsessão e desequilíbrio, na mesma madrugada eu vi Gaga: Five Foot Two, o documentário da Lady Gaga. Eu acho que posso dizer que eu tinha sentimentos neutros a respeito dela. Nunca parei para ouvir um álbum, mas também nunca pulava quando uma de suas músicas começava a tocar. Eu tenho todo um respeito por quem faz sucesso nesse nível planetário da Gaga, e as histórias por trás desse tipo de sucesso nunca decepcionam. Quase nunca. Quer dizer: eu tenho certeza de que Lady Gaga não virou Lady Gaga sem ter virado o mundo de cabeça para baixo, mas Five Foot Two não trata exatamente disso. Até aí tudo bem. O problema é que estamos falando do rei de todos os documentários de egotrip. Ridiculamente reverente a sua personagem principal, todo supervisionado por ela (mesmo que ela negue, fala sério!), Five Foot Two mostra meio sem querer uma cantora cheia de si, falando platitudes como se fossem pílulas de sabedoria, tentando fazer o espectador acreditar numa ideia romântica e velha daquilo que é arte e do papel que os artistas têm no mundo. O filme é tosco e piegas e abusa de uns recursos visuais toscos e piegas, e ainda por cima acredita firmemente em tudo o que ela fala, sem ironia aparente. Five Foot Two deixa a desejar na investigação que faz a respeito de Gaga. Eu espero que este não seja visto como o documentário definitivo a respeito dessa figura mais ou menos central da cultura pop dos últimos anos, porque caso contrário a gente vai começar a confundir documentário com vídeo institucional.

Mas por que tratar, numa pré-lista de fim de ano, de um filme que mais me deixou com raiva do que outra coisa? Não sei. Talvez para recomendar que você também veja ambos, Rocco e Five Foot Two, na mesma noite, prestando atenção nas semelhanças entre o ator pornô e a diva pop.

Além desses eu também vi Eis os delírios do mundo conectado, que não está entre as melhores coisas que o Werner Herzog já fez.

bright lights

O primeiro documentário digno a entrar numa lista de melhores do ano foi Bright Lights, sobre as espetaculares Carrie Fisher e Debbie Reynolds. Nunca fui fã de Star Wars, mas isso não me impediu de gostar da Carrie Fisher. A mulher era o carisma em pessoa. O documentário, no que diz respeito a tratar de seus personagens principais, era o exato oposto daquele da Lady Gaga. Bright Lights mostrou com honestidade que Fisher era bem difícil. Expôs os defeitos dela, que se abriu sem muita reserva, e foi fundo na relação entre mãe e filha. Olhando agora, e comparando a franqueza de Carrie Fisher com as poses de Gaga, dá para dizer que Five Foot Two mostrava a “humanidade” de Gaga do mesmo jeito que um candidato a uma vaga responderia, numa entrevista de emprego, que seu maior defeito é ser “perfeccionista e muito organizado”. Já Bright Lights passou longe da reverência imoderada, mas fez um perfil doméstico da mãe e da filha, recapitulou duas vidas passadas diante das câmeras e mostrou o que é que sobra disso bem quando estava todo mundo em choque com as mortes tristíssimas das duas. É um filme interessado em mostrar um retrato familiar e deixar o espectador formar uma opinião, em vez de carregar você pela mão para mostrar quão poderosa uma celebridade é.

Olhando agora: o que foi que me fez querer ver Bright Lights, que eu já imaginava ser muito triste? Não sei. Acho que eu fui atraída pela tragédia. Carrie Fisher morreu depois de um tempo no hospital; Debbie Reynolds já estava fragilizada, não aguentou o baque e morreu. Mas me recuso a pensar que fui atraída pela tragédia como seria se estivesse lendo uma revista de fofoca ou fazendo um comentário maldoso. Por minha própria experiência com a minha mãe, acho que há com frequência uma espécie de simbiose entre mãe e filha. Acho que foi a imersão nesse relacionamento que me interessou, acho que foi isso o que me tocou em especial.

Que mais? Se essa fosse uma lista dos melhores documentários que eu vi em 2017, e se eu tivesse algum insight a respeito do racismo em solo norte-americano, eu teria que falar sobre I am not your negro. É revoltante, como não poderia deixar de ser, e é especialmente poderoso porque conta com a inteligência de James Baldwin – sua voz, sua vida, e o que ele tem a dizer. Além do mais, esse filme é muito bem editado, montado, roteirizado ou o que o valha. Tanto assim que ele empalidece outro doc da mesma época, e com o mesmo tema, que é aquele A 13ª Emenda.

Para engatar no ativismo político americano do século XX, só para ter um gancho, eu também assisti a American Anarchist. Outro perfil bastante complexo, este aqui conta a história do sujeito que escreveu The Anarchist Cookbook, aquele livro que ensina qualquer leigo a preparar uma bomba caseira (utilizado, por exemplo, pelos assassinos de Columbine). Onde é que esse filme se situa no “mapa dos meus interesses”? Não sei. Eu poderia dizer que me interesso especialmente por Columbine e assassinatos de massa desde esse texto aqui, mas acho que meu marido escolheu nesse dia e eu estava com preguiça de sugerir alguma outra coisa. Não sei. Vale a pena? Sim. Eu me lembro de ficar pensando “gente, as voltas que a vida dá” a cada cinco minutos.

Caramba, cheguei a 1201 palavras no parágrafo anterior. Ninguém vai ler isso, nem por interesse nem por bondade. Vou encerrar com algumas sugestões, no estilo bate-bola/jogo rápido da Marília Gabriela (entregando a idade). Um documentário para pensar que só tem abobado no mundo? Extraordinary – The Stan Romanek Story; um documentário para pensar que o tabu mata e deixa a gente infeliz? Whitney Houston – Can I Be Me; outro documentário que foi muito menor que a figura que o inspirou? Laerte-se; um documentário para matar saudade do Jerry Seinfeld? Comedian; um documentário para fazer diminuir um pouco a sua inveja dos japoneses e a sua vontade de morar no Japão? Tokyo Idols.

(Lembrando que este não foi um post com uma lista de melhores do ano. Todos esses documentários foram becos sem saída no “mapa dos meus interesses” [gente, que termo ridículo!].)

Você não precisa de um guia para acompanhar Star Trek: Discovery

Si Vis Pacem, Para Bellum

Você estará perdendo uma das estreias mais gostosinhas de 2017 se, por algum motivo, não estiver acompanhando Star Trek: Discovery. Se o seu motivo for preguiça de ter que se inteirar a respeito de mais de 50 anos de conteúdo, preguiça de ter que começar lá de trás e ficar em dia com todas as séries e filmes e ainda ler uns livros, eu tenho uma novidade boa: não precisa, deixa isso pra lá. Foi o que eu fiz e está dando certo até agora.

Sei que há todo um exército de fãs que me desprezariam por dizer que acompanhar uma série de tevê não requer prática nem habilidade, mas também sei que televisão é sempre um produto feito para o máximo possível de consumidores. Acho que esse é o conceito maior por trás da produção de Discovery. Claro que eles precisam justificar a série como um componente da franquia Star Trek, mas eles também precisam fazê-la sobreviver num ambiente muito competitivo que oferece novidades semanalmente em vários segmentos.

Toda vez que eu me lembro disso, fico com muita raiva de sites ou cadernos de cultura que oferecem guias ou verdadeiros cursos para quem quer começar essa ou aquela franquia. Já falei disso aqui no blog quando saiu Star Wars: The Force Awakens. Evidente que ter mais informação é quase sempre melhor do que ter menos, mas há veículos de mídia que precisam que a gente se intimide para que eles possam justificar sua existência e há, também, muitos fãs que tomam para si aquilo que amam e não querem que ninguém encoste naquele objeto precioso que os ajuda a moldar sua identidade. Isso é um porre e eu sei que toda mulher que já se meteu a tratar de cultura pop já se viu na situação de ter que provar que é tão apaixonada por aquilo quanto o nerdão que sentou em cima e não quer levantar de jeito nenhum. Pior que isso: provar sua paixão não deveria ser pré-condição para nada, porque não é sinal de hipocrisia conhecer superficialmente alguma coisa (a não ser que você seja um neurocirurgião falando de cérebro, ou algo assim). Pelo contrário: é sinal de que você conheceu, se engajou ou não, e andou para frente. Nem todo mundo se apaixona perdidamente pelas mesmas coisas.

Discovery tem sido uma surpresa para mim. Como eu disse, achei que não valia o esforço de fazer uma pós-graduação lato sensu para entender o que estava acontecendo na tela, mas me dispus a ver o piloto, vi o segundo e o terceiro episódios com um pé atrás e agora, desde mais ou menos o sétimo, ando achando que a série vai entrar na minha lista de favoritos do ano. Todas as referências à série clássica ou às derivadas são laterais, quer dizer: elas não atrapalham a linha principal e o desenvolvimento da história, nem o entrelaçamento da trama. Dá para começar do zero com Discovery. Mas isso a gente percebe nos primeiros cinco minutos do piloto. O que me fez querer acompanhar para valer foi a evolução episódio a episódio.

Os produtores optaram por um caminho arriscado. O capítulo inicial e o segundo, que foram ao ar no mesmo dia, contaram praticamente uma história de origem da personagem principal. Michael Burnham é vivida por Sonequa Martin-Green – e ela, a atriz, era uma das razões a me deixar com um pé atrás: é que a personagem dela em The Walking Dead era chatíssima, fazendo tudo num tom ridiculamente dramático. Mas já no terceiro capítulo de Discovery Martin-Green me fez esquecer de TWD. Eu mordi minha língua e vi que ela é razão de, sei lá, quase metade do sucesso até agora. Michael Burnham deixou de ser chata, outros personagens rapidamente ganharam importância e o trem andou. Jason Isaacs, que interpreta o capitão Gabriel Lorca, por exemplo, tem sido o grande ator da série. Ele consegue parecer louco, dissimulado, simpático, leal, desleal, inteligente e inconsequente ao mesmo tempo. E nem tudo está nos roteiros, muita coisa vem do trabalho do ator. Saru, o oficial de alta patente que é de uma espécie esquisitíssima, é interpretado por Doug Jones, outro desses atores que se mostram capazes de carregar uma série nas costas. Tilly (Mary Wiseman), a melhor amiga da protagonista, deu muito certo como um complemento bastante humano ao jeito necessariamente frio de Burnham.

Tudo isso me faz pensar que o seriado está muito legal, e legal para quem gosta de televisão, de ver série enquanto come bolacha, não só necessariamente pra quem é fã de longa data de uma marca importante. Quando alguém fizer um daqueles textos do tipo “tudo o que você precisa para começar Tal Franquia” eu quero me lembrar de responder que preciso de um sofá, tempo livre e/ou do dinheiro para o ingresso.

Mindhunter é uma das melhores séries que a Netflix já fez

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As décadas de 1990 e 2000 foram muito boas para quem gosta de filmes de serial killers. O Silêncio dos Inocentes ganhou o Oscar de melhor filme em 1991 e cimentou esse filão do suspense. Depois disso surgiram muitas produções com resultados variados e, ultimamente, a fórmula tem mostrado cansaço. O diretor David Fincher estreou no gênero com Seven, em 1995, depois fez o meu preferido, Zodíaco, em 2007, e agora leva Mindhunter à Netflix.

A televisão americana tem uma quedinha especial por mistério e por quem-matou-fulano-de-tal e, para tentar combinações diferentes, inventou de tudo (inclusive o serial killer condicionado a só matar quem merece morrer). Por isso é muito legal perceber que Mindhunter consegue trazer muito daquilo que a gente conhece, de um ponto de vista ligeiramente diferente (que é o que todo mundo quer fazer), mas sem enfiar os dois pés na jaca.

A história é, como acontece com frequência, a de um agente do FBI. Até aí não há novidade. Acontece que esse agente não quer necessariamente desvendar um caso especial e intrigante. O que ele faz é estudar o crime como um fenômeno maior. É esse ponto de vista que abre todas as sacadas legais de Mindhunter, e o que permite esse ângulo é o material original. A série foi baseada num livro de John E. Douglas e Mark Olshaker. Douglas é um ex-agente do FBI, a carreira e as descobertas dele são as inspirações para o personagem principal. Ele trabalhava no bureau bem na época em que o grande público e as instituições foram obrigados a tentar entender o que significavam os assassinatos em série – uma coisa talvez tão antiga quanto a roda, mas um conceito relativamente novo àquela altura.

O ano é 1977. Os americanos ainda estão perplexos com os crimes do Filho de Sam, um serial killer que dizia agir sob os comandos de um cachorro falante. A reconstrução de época que Mindhunter faz não serve só para que a gente sinta o clima do final da década de 1970. O próprio conceito de serial killer vai sendo apresentado aos poucos, sempre em confronto com a época e com as pessoas que então tentavam entender e combater o crime. O Filho de Sam não era o único, e as pessoas tinham a sensação de que o mundo ia ficando mais e mais difícil de se compreender.

mindhunter

Essa recriação é fantástica. Para quem acompanha o noticiário em 2017, para quem viu a penca de suspenses lançados desde O Silêncio dos Inocentes, a importância, por exemplo, de perfilar um criminoso pode parecer óbvia. O trabalho de Mindhunter é demonstrar como é que essa obviedade se estabeleceu. Ao mesmo tempo, não há só a questão de dar nome a um crime antigo, ou de entender a mente dos seres humanos capazes de cometer as maiores e mais assassinas maluquices. A série parece dizer que, com a mudança dos tempos, também mudou o tipo de loucura que se precisa enfrentar.

Nesse sentido, Mindhunter é de apavorar. Há um diálogo constante entre o choque representado pela novidade de cada crime, lá em 1977, e a nossa incapacidade, em 2017, de ver qualquer atrocidade como novidade. A escalada dessa loucura coletiva é o principal tema da série. O personagem central, vivido por Jonathan Groff, parece não se abalar com o que vê. A princípio ele entrevista psicopatas e reflete sobre a natureza do que eles fazem em nome de nada além de sua própria ascensão profissional. Só depois ele vai perceber o verdadeiro peso daquilo com que está lidando. Nessa hora o espectador é convidado a se espantar de novo com a violência e a desumanidade, a sair de um certo estado de torpor.

Eu não tenho nem vergonha de dizer que terminei os 10 episódios dessa primeira temporada de Mindhunter no fim de semana de seu lançamento. Acho que David Fincher e companhia entregaram uma das melhores coisas que a Netflix já fez. Vi algumas pessoas reclamando de lentidão ou falta de objetividade, mas acho que essas críticas não valem quando uma série tenta ver em detalhes um panorama tão grande. Além disso, seria difícil pensar em um elenco melhor do que o que Mindhunter tem, com destaque para Anna Torv (aquela de Fringe) e Holt McCallany (que eu não conhecia de nome).

Não sei se uma segunda temporada já está garantida, mas até me empolgo com o que ela tem a apresentar. Na vida real, John E. Douglas entrevistou Ted Bundy, Charles Manson, O Filho de Sam, John Wayne Gacy, Richard Speck, Edmund Kemper e vários outros. Até agora, dessa lista só apareceram Speck e Kemper. E quem chegou até o final sabe o efeito que esses dois tiveram nas vidas dos personagens principais. Agora é esperar.

Para quem vai passar o feriado na Netflix

Serão três feriados em um intervalo bem curto. Não é uma maravilha? Para mim, feriado no outono e no inverno é sinônimo de filme, série e uma mantinha no sofá. Quando faz calor eu só dispenso a mantinha, mas tudo bem. Empolgada para os próximos dias, resolvi fazer uma lista de coisas para assistir na Netflix porque a Netflix é um recanto muito confortável da internet. É para quem tem preguiça de baixar torrent e para quem nem lembra se ainda existe uma locadora aberta na cidade inteira. Então aqui vão as minhas dicas: Stranger Things, Os 13 porquês e as séries da Marvel. Que tal? Aposto que você nunca havia ouvido falar de nada disso. Boa diversão e depois venha me agradecer. MENTIRA: para fugir das coisas que geram mais burburinho, o que eu fiz foi tentar organizar uma lista (bem pequenininha) para ajudar alguém (alguém hipotético e com interesse em trocar figurinhas) a se organizar dentro da Netflix.

Filmes que você pode ter deixado passar

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Frank

Aqueles que são meio largadinhos, mas muito bons. Às vezes a gente os deixa passar porque perde o período no cinema (acontece também de um filme jamais estrear perto de casa). É difícil acompanhar tudo que sai, daí um dia, quando a gente já até esqueceu e tá rodando a Netflix para ver o que é que tem, BUM!, lá está o filme. Um assim é Frank, de 2014, com o Michael Fassbender e Maggie Gyllenhaal. A história é sobre um cara (Domhnall Gleeson, de Questão de tempo) que entra numa banda indie, a The Soronprfbs, pensando que aquela é a oportunidade de sua vida. O vocalista é Frank (Michael Fassbender), que usa uma máscara o tempo todo. Ele canta, come, toma banho e dorme com a máscara. Não é pose, é doença: ninguém nunca viu o rosto dele. Frank é quieto e estranho, e me fez pensar no cantor e compositor Daniel Johnston, um artista especial mas de difícil enquadramento. Por causa da excentricidade de Frank a banda faz certo sucesso, mas depois de um tempo tudo começa a degringolar. O fim é delicado de um jeito bizarro e, diferentemente de muitos outros filmes indies, não acontece de o mundo todo se entortar para se enquadrar à visão de mundo do protagonista. É uma boa lição. Também na Netflix está Amantes Eternos, ou Only Lovers Left Alive. Tom Hiddleston e Tilda Swinton formam um casal de vampiros bem dark. A prioridade que eles dão à autenticidade, o espaço que a arte ocupa na vida dos dois, e a maneira como eles vivem apaixonadamente fazem deste um filme meio que tematicamente ligado a Frank. Num caso há um artista indie atormentado e no outro dois vampiros românticos, os únicos amantes que restaram.

Especiais de stand-up cínicos e autodepreciativos

louis ck

Louis C. K.

Eu sei, eu sei, eu sei: o Brasil pegou trauma de comédia stand-up desde o auge do finado CQC. Teve gente reclamando de cerceamento à liberdade de expressão, quando tudo o que rolou foi um pessoal reclamando que a piada não tinha graça e que o comediante era burro. Mas o stand-up foi um produto importado à força por aqui. Nos Estados Unidos a tradição é longa e os melhores comediantes são os que não se agarram àquilo que é consenso. Para a nossa alegria, há alguns deles na Netflix. Louis C. K. é o primeiro nome que me vem à cabeça. Adoro assisti-lo e pensar “é, isso aí mesmo” ou “putz, é verdade, putz, eu também” ou “caramba, cara, você é maluco” enquanto rio sem parar. Ele sempre começa a falar de algum assunto delicado como se ele fosse a pessoa mais rude e desrespeitosa que existe, então de repente ele dá uma volta e você entende que o assunto é só o pano de fundo para ele criticar pessoas mesquinhas, detestáveis e por aí vai. Eu sempre rio. Acho que o catálogo da Netflix tem três ou quatro especiais dele, incluindo um que saiu em 2017. Bill Burr também tem um humor parecido com o de Louis C. K., mas acho que ele consegue ser mais radical e ter mais cara de maluco. A Netflix tem dois dos dele. Por último, gostei muito do show da Chelsea Peretti, que eu só descobri na Netflix recentemente. Ri muito em um dia que eu estava bem gripada e sem forças para fazer o que fosse. Além da cara de maluca e da voz esganiçada, ela tem uma visão particular sobre relacionamentos e tem um jeito neurótico de ver as regrinhas de educação e convivência.

Comédias bizarras para quem quer maratonar

chewing gum

Chewing Gum

Ainda pensando em comédia, mas com um humor mais leve: duas séries curtinhas perfeitas para o feriado. Chewing Gum é uma série inglesa escrita e protagonizada por Michaela Coel. São duas temporadas com seis episódios cada e duração de uns 20 minutos. Eu pretendia assistir a um episódio, mas tudo era tão bizarro que quando notei já tinha acabado com a série. Tracey é a protagonista. Ela vive com a mãe e a irmã, duas fanáticas religiosas. Tracey é virgem e decidiu que já passou da hora de isso mudar. As situações são hilárias e todo o elenco é carismático, não tem como não rir. Uma outra série com uma protagonista descarada é Haters Back Off. Protagonizada e escrita por Colleen Ballinger, a série bebe na fonte de Napoleon Dynamite: gente louca e sem  noção do ridículo, situações embaraçosas, essas coisas que a gente adora. Miranda Sings acha que é a pessoa mais perfeita que já existiu no mundo. Sua aparência, sua voz, sua família, tudo está ali para mostrar que ela é o oposto do que pensa ser. Quanto mais ela pensava que estava sendo plena, mais era desprezível. Tudo é muito absurdo, o elenco todo é excelente.

Séries fofas sem compromisso com a realidade

dramaworld

Dramaworld

Se você não gosta de comédias escrachadas, também há duas séries muito fofas e com um pé (ou os dois) no surreal. Dramaworld é uma minissérie norte-americana e sul-coreana. A protagonista vive em Los Angeles e é obcecada por novelas coreanas. Um dia ela entra no mundo da sua novela preferida e aí está a história: ela vai viver todas as aventuras junto com os protagonistas coreanos. Achei bem fofinha e é legal para quem quer entrar no mundo do K-drama. Ainda pensando em novela: Jane the virgin. Se você gosta de muito drama e cenas incoerentes (e já viu Rubi, Maria do Bairro, Marimar) vai amar Jane the Virgin. Eu falei da primeira temporada bem no início do blog, e posso dizer que a série da CW já está na terceira temporada e continua firme e divertida.

Clássicos para quem não pretende cochilar

o rei da comédia

O rei da comédia

É considerado ofensivo cochilar durante um clássico? Não, né? A Netflix é um convite ao soninho, mas a autoestima dá uma travada se a gente se dispõe a ver um filme que todo mundo considera obrigatório e dorme. Por isso, se você não quer ver nada muito leve e tem dormido oito horas por dia, eu posso te indicar dois filmes que são clássicos do cinema, mas que andam meio esquecidinhos, sem conquistar novos corações. Amadeus, que foi um dos melhores filmes que eu vi em 2016, é longo, lento e primoroso. Fiquei feliz de encontrá-lo no catálogo da Netflix. O outro é o meu preferido do Martin Scorsese: O rei da comédia. Estrelado por Robert De Niro, o filme é divertido e angustiante, com passo de thriller. Quer dizer: se você dormir, vai ficar chato. Robert De Niro é um fã louco de um grande comediante interpretado por Jerry Lewis, e será capaz de tudo para se aproximar de seu ídolo. Eu tenho a impressão de que O rei da comédia não é tão badalado quanto outros sucessos da dupla Scorsese e De Niro, o que me deixa um pouco indignada e confusa.

Meses de poucos filmes

Já é dezembro. Eu esperei por Gilmore Girls: A Year in The Life durante boa parte do ano. Valeu a pena? Claro que valeu, mas tudo veio e foi num fim de semana do final de novembro. No sábado de manhã eu já estava com saudade. É triste. Dezembro é também a última etapa da minha meta de leitura,  a mais complicadinha e também aquela que eu não posso deixar de cumprir de jeito nenhum porque, se fracassar é triste, quase conseguir é pior ainda. Foi, aliás, a minha meta de leitura que me levou a dar uma segunda chance a Outlander, a série de tevê que tem ocupado a maior parte das minhas horas vagas nesse começo de mês. Daí o que acontece? Acontece que foi em setembro a última vez em  que se ouviu falar, aqui nesse blog, de um filme que eu tinha visto. Também é de setembro o último filme muito bom que eu vi: Amadeus, aquele em que Mozart dava uma risada esquisita e contagiante. O nome disso é negligência.

Eu gostaria que todo mundo soubesse que eu tenho, sim, visto muitos filmes, que eles foram indicações do Roger Ebert, que eu faço verdadeiras sessões de cinema + debate na minha casa com vários amigos cinéfilos e tudo, que nessas ocasiões cada um traz um ensaio de 5000 palavras, de próprio punho, e que é bem comum que nessas horas nós fiquemos lá, sentadinhos, rindo de você que vai ao cinema na estreia de Esquadrão Suicida. Rindo e comendo bolacha.

Mentira, hein? E eu vi Esquadrão Suicida. Baixei por torrent e vi. Foi ruim, foi o pior filme que eu vi em outubro. Mas para você ter uma ideia, de lá para cá foram apenas onze filmes. Os primeiros seis foram coisas de fim de noite rodando pela Netflix, mas os últimos cinco foram cortesia das pessoas heroicas que fazem o Legendas.tv. Às vezes eu  acho que alguém tinha que dar a chave do mundo na mão deles e aí tudo se resolveria com o tempo.

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Bridget Jones no limite dos Millennials

De qualquer maneira, a responsabilidade pela ruindade dos filmes não é deles. Então deixa eu contar o que é que tem passado aqui em casa. Num dia desses, eu achei que era uma boa pedida chamar o meu marido para uma sessão de O Bebê de Bridget Jones. Sabe, O Diário de Bridget Jones é um filme que eu aceitaria ver no meu último dia de vida. Tem personagens esquisitinhos e carismáticos, tiradinhas, aquela coisa inglesa que faz as coisas inglesas tão diferentes das americanas, tem o Hugh Grant no pico de seu charme e o Colin Firth no pico de seu charme que aponta na direção oposta àquela do charme do Hugh Grant. Não sei se me fiz entender? E aí fica aquele triângulo amoroso que cativa todo mundo. Além do mais, a Renée Zellweger está totalmente entregue: ela é a Bridget Jones, eu tenho certeza de que muita gente ainda a chama de Bridget Jones nos lugares de alto nível que ela frequenta.

Mas em O Bebê de Bridget Jones, nada feito. Zellweger está toda dura, o texto não ajuda e, diferentemente do que acontecia antes, ela parece mais preocupada em ser bonita do que em entrar no papel. Isso ela consegue: ela está muito bonita, fina, uma verdadeira aparição (e por falar em beleza, esse filme ainda tem o Patrick Dempsey, o meu Dr. Shepherd de Grey’s Anatomy). Só que ela não é a Bridget Jones, e a diretora, que é a mesma do primeiro filme, deve ter  sido trancafiada num quarto escuro e obrigada a assistir àquele Vizinhos (com o Seth Rogen e o Zac Efron) até entender o que é que eles acham que o pessoal que vai ao cinema hoje em dia está com vontade de assistir. Ficou esquisito e constrangedor.

Depois disso, eu vi um filme coreano, O Túnel. Esse tem a sinopse mais fácil: um homem fica preso em um túnel. A equipe de resgate faz o maior esforço para tirá-lo de lá, e a  esposa dele, do lado de fora, tenta não perder as esperanças. Um filme catástrofe com uma mensagem edificante, O Túnel poderia passar na Sessão da Tarde. Tem um Pug fofinho e a Doona Bae, aquela de Sense8 e O Hospedeiro.

I Am a Hero, um filme japonês de apocalipse zumbi, foi uma perda de tempo. Aquela coisa: o cara de uns 30 e poucos anos é um pateta no dia-a-dia, chega o fim dos tempos e ele toma umas lições para deixar de ser pateta e conquistar a garota. Tudo isso com referências pop, gore e uma pitada deZZzzZzzZ. Só não digo que o filme foi um prejuízo total porque os zumbis de I Am a Hero como que guardavam certas obsessões do tempo em que eram gente. Isso rendeu pelo menos uma cena hilária em que um zumbi  taxista fica repetindo “Hospitalidade é tudo” ou algo assim.

Sabor da Vida, da diretora japonesa Naomi Kawase, é um desses filmes em que cada tomada é bonita e parece guardar um significado que nos foge. Eu não conhecia a diretora, que é meio badaladinha,  mas me empolguei porque em 2016 quase tudo de bom que eu vi veio do Japão ou da Coreia. No filme, um comerciante contrata uma senhorinha para fazer o recheio de um doce feito de feijão. Esse não encantou como eu achei que fosse acontecer, mas dar o play às 23h45 nunca ajuda.

A cereja do bolo é O Contador, com Ben Affleck e Anna Kendrick. Eu não consigo nem explicar o que acontece, não sem fazer tudo tim-tim por tim-tim. Na infância, Affleck foi diagnosticado com uma variedade de autismo que nunca fica totalmente clara para a gente. Só que o pai dele era militar. No que deve ser a pior forma possível de se criar um filho autista, o pai militar coloca a criança num rigoroso regime de treinamento em artes marciais. A gente pensa que tudo bem, que artes marciais ajudam a criança a socializar e a criar disciplina. Mas não. Não é judô na escola sob a supervisão de um adulto responsável: é soco na cara até sangrar enquanto a criança se balança e demonstra estar a ponto de explodir emocionalmente.Mas deu tudo certo, o menino cresceu e virou o Ben Affleck, que deve ter dois metros de altura e 120kg, e como ele sempre foi muito inteligente e com muita aptidão para a matemática, ele virou contador. Um contador num trabalho de escritório, né? Com aquelas coisas chatas de escritório e bunda na cadeira? Não: ele vira um funcionário de poderosas organizações criminosas, das quais ele ganhou milhões de dólares. A Anna Kendrick descobre uma falcatrua em uma empresa, ele vai lá fazer umas contas e… e está feita a trama: ele ainda tem todo aquele treinamento porradeiro da infância, e mata bandidos com as mãos e também tem uma mira espetacular e dá tiros de longa distância, e tem uma secretária com quem ele fala por viva voz: é ela quem cuida de toda a parte burocrática de ser um assassino-de aluguel-contador-autista-justiceiro-vingador.

Poderia ser um filme do Batman, e na verdade é uma mal disfarçada história de origem de super-herói com uma pitadinha de espionagem. É como a franquia Bourne, só que mais cafona e com o Ben Affleck no lugar do Matt Damon. Não tenho a menor dúvida de que O Contador é a tentativa de começar uma trilogia ou uma série maior. E é ruim? É muito ruim e foi muito bom.

Eu tenho certeza de que os filmes que tenho visto nos últimos meses não vão estar em listas de melhores do ano, mas não tem problema. Quando eu vou ver filme aqui em casa o computador fica engatado na televisão, e eu nunca me lembro de comprar um mouse sem fio. Por isso quando eu me sento  determinada a só me levantar 1h30 depois, ninguém me segura.

Gilmore Girls em 11 momentos

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Em exatamente dez dias Lorelai e Rory estarão de volta com o revival de Gilmore Girls na Netflix. Imagino que isso não seja novidade para você, afinal, é só rodar os blogs, tumblrs e páginas do Facebook para perceber que existe um mundo de gente que ama as garotas Gilmore. Para entrar no clima, fiz como muitas pessoas e matei a saudade  maratonando (uma palavra em português bem melhor que binge watching, não?) as sete temporadas. Foi um tremendo sufoco para conseguir terminá-las antes do dia 25 de novembro, mas com a ajudinha dos feriados posso dizer que a missão foi cumprida. Enquanto assistia aos episódios, fui listando meus momentos favoritos. Foi uma tarefa difícil porque Gilmore Girls é conhecida pelos momentos antológicos. Definir quais entrariam no post do blog parecia impraticável, mas deixando algumas redundâncias de lado, cheguei em onze cenas que, além de memoráveis, mostram muito de personagens que amamos e do clima que moldou uma série inesquecível. Não preciso nem dizer que spoiler é o que você mais vai encontrar aqui, né? Nunca viu Gilmore Girls e quer muito começar? Melhor parar a leitura agora. Será que dá tempo de partir do piloto até a sétima antes do dia 25 de novembro? Provavelmente não – a não ser que você tenha um sofá, um estoque de comida e uma sonda.

O primeiro namorado

Uma Rory com carinha de criança e um Dean magrelo. É assim que eles estão no piloto, e acho que foi assim que esse casal entrou na memória de todos. Dean diz para Rory que já estava de olho nela há um tempo, ela fica acanhada (uma característica que vai durar a série toda). O início do relacionamento dos dois é inocente. Dos namorados da Rory, Dean foi o mais dedicado (mesmo que depois ele tenha virado um porre), por isso gosto tanto desse momento em que eles se conhecem. Ah, o amor juvenil.

Briga em família

A avó Emily é uma garota Gilmore tão importante quanto Lorelai e Rory. O relacionamento entre mães e filhas, nas três gerações, é um ponto principal desde o início. No episódio, Lorelai se machuca e precisa de cuidados. Rory vai a uma festa da escola com Dean, e Emily acaba passando a noite cuidando da filha. Em um momento inusitado e raro, Lorelai e Emily ficam sozinhas em casa, e acabam tendo uma boa noite, daquelas de reconciliação. Tudo vai para o espaço quando Rory sem querer dorme fora de casa.  Lorerai e a mãe voltam ao habitual na manhã seguinte: palavras duras, reprimendas, distância. Nem sempre o relacionamento entre mãe e filha vai ser tão difícil, mas a intensidade da briga define bem as questões mal resolvidas.

Primeiro amor

Rory está mais velha e experiente. Ela é uma boa neta, filha, amiga e namorada. Mas ninguém pode ser perfeito sempre e Rory, que na maior parte do tempo é uma garota retraída e tímida, também tem seus momentos de oscilação e intempestividade. Para isso, o personagem de Jess é um condutor perfeito. Jess é o meu namorado da Rory preferido. Ele não é lá grandes coisas (Rory, aliás, só dá azar com os garotos – Logan está lá para não me deixar mentir) mas, sendo chatinho e metido a escritor, foi quem mais a desafiou. Os momentos dos dois juntos são os melhores para mim, embora tenham sido poucos. Eu festejei todas as migalhas do relacionamento dos dois que a série me deu. E, ah!: os atores namoraram por uns três ou quatro anos, o que só deixa esse revival mais intenso. Jess é presença confirmada.

Finalmente, a formatura

Durante as sete temporadas vimos Rory se graduar no ensino médio e na universidade, mas a formatura que mais me comoveu foi a da Lorelai. Todo mundo que viu pelo menos uns dois episódios sabe que ela precisou abrir mão dos estudos quando ficou grávida da Rory e saiu da casa dos pais. Por isso, quando ela recebe o diploma e vê Emily e Richard com rostos chorosos na plateia de pais orgulhosos, nós sentimos junto com eles que aquele momento adiado por tanto tempo finalmente havia chegado, mesmo que não da forma planejada. Ou seja: por caminhos tortos, a reconciliação era possível.

Melhor amiga

Lane é a melhor amiga da Rory, do piloto até o episódio 22 da sétima temporada. Em alguns momentos ela some um pouco da série, para depois voltar mais forte e com núcleo próprio. Acho que qualquer pessoa com amizades de infância sabe que isso é bem comum. Às vezes as pessoas quase desaparecem da sua vida, e depois podem reaparecer com força total (ou não). Essa cena da Rory pintando o cabelo da Lane parece não ter muita graça, mas acho ela até emblemática. Duas amigas fazendo besteira com o cabelo – eu mesma fiz isso aos quinze anos com a ajuda de uma amiga, descolori meu cabelo em casa e perdi muitos tufos porque tinha feito tudo errado. Aqui, o diálogo bobo e inconfundível, marca registrada da série, deixa a cena melhor ainda.

Lorelai e Rory

Eu podia ter escolhido muitos momentos para ilustrar o relacionamento de Rory e Lorelai. Poderia ser alguma cena das duas vendo filmes antigos e substituindo as falas dos atores por suas próprias falas; a preparação para todas as comidas pedidas por delivery; café da manhã no Luke e muitas outras cenas que se repetiram nas sete temporadas. Mas escolhi uma que só aconteceu uma vez e é bem discreta, uma que consegue mostrar toda a intimidade de duas pessoas que se amam muito. Chegou a época da maratona anual de dança de Stars Hollow. Todo ano Lorelai participa na tentativa de ganhar o troféu, que fica sempre com o Kirk. Lorelai e Rory são um par, e a mistura de galhofa e carinho que elas mostram dançando é muito fofa. Esse episódio é um dos melhores.

Stars Hollow

O nome da série já expressa muito bem qual é o ponto central de Gilmore Girls, mas os personagens secundários foram criados com tanto carinho que eles vão rapidamente para o coração de quem é fã. Os eventos da cidade são especiais e exemplificam bem o sentimento de comunidade que deixa a série tão acolhedora. As discussões são banais e engraçadas, e todos sempre se unem pela cidade. Quem não gostaria de morar em Stars Hollow? A cena que eu escolhi é divertida porque traz o humor meio nonsense que os personagens secundários inspiram, e ainda dá aos atores a possibilidade de fazer algo diferente. Kirk rouba a cena de novo.

Melhor amiga 2

Paris sempre foi uma das minhas personagens favoritas desde a primeira vez que vi Gilmore Girls. Fico triste de pensar que nas últimas temporadas ela estava bem apagada. No episódio do Spring Break, Rory e Paris viajam para a praia e tentam aproveitar o feriado como a maioria das pessoas da idade delas. – elas não conseguem, lógico. São esquisitas, fechadas e esquivas. Sempre me identifiquei com a Rory e a Paris, acho que metade do sucesso da série é provocar essa identificação. Em Gilmore Girls ser diferente era uma questão debatida de forma leve mas incisiva, antes mesmo de isso virar um tema recorrente na televisão.

Primeiro beijo

O primeiro beijo do casal demorou muito para acontecer. A expectativa era alta.  Quando os dois finalmente venceram as hesitações, ninguém ficou decepcionado. Foi quase uma dança. Duas pessoas agindo de forma impulsiva em um momento muito antecipado. Foi perfeito. Ou melhor: ia sendo perfeito até o Kirk precisar de ajuda.

As garotas Gilmore

Quem assistiu a todas as temporadas sabe que o relacionamento das Gilmore mais velhas nunca vai ser totalmente resolvido. Durante os sete anos elas tiveram muitas brigas e tréguas, e esse momento que eu escolhi demonstra que até na hora da trégua elas podem ser resistentes uma à outra. Acho lindas essas brechas que elas dão no relacionamento, porque nessas passagens Gilmore Girls consegue mostrar que nem tudo é preto no branco, que é possível viver às turras com uma pessoa e ainda assim amá-la incondicionalmente.

I will always love you

Lorelai meio desafinada cantando I will always love you em um karaokê, com quase todo o elenco da cidade presente. O clima nostálgico àquela altura da série, com o encerramento já pertinho no horizonte, foi de chorar até soluçar. Ela cantou a música  para o Luke, mas poderia ter sido para a Rory que estava indo para longe, bem como poderia ser uma declaração dos fãs para Gilmore Girls, que estava acabando. Eu revi  esse episódio há alguns dias, já sabendo do revival na Netflix, e ainda assim acabei chorando de saudade.

Quem nunca quis morar em uma cidade como Stars Hollow? Gilmore Girls sempre funcionou como um remédio para dias tristes. Se o dia estava feio e ruim, nada melhor do que ver Lorelai se encantando com o primeiro dia de neve, ou Rory em seu quartinho aconchegante imersa em alguma leitura. Gilmore Girls é uma série reconfortante. Lorelai parece com a protagonista de algum romance de Danielle Steel, Nora Roberts ou Barbara Delinsky. Consigo imaginar um livro escrito por uma dessas autoras, em uma cidade pequena, onde a protagonista passou por dificuldades e precisa se reencontrar. Lá ela vai conhecer o cara que gosta de coisas simples e detesta a cidade grande – o grande amor da vida dela – e reaprender a gostar de tudo o que tem. Gilmore Girls é isso e muito mais. Por isso eu estou ansiosa. Que bom que elas estão de volta, ainda que seja para uma temporada curta. Eu acho que o encanto vai estar novamente em Stars Hollow e torço para que todo mundo mate as saudades.

 

Agosto pt. 1: As Olimpíadas, Gilmore Girls, Masterchef, tumor, falta de oxigênio no cérebro, medalha de chocolate

 

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Para uma pessoa que inventou um tumor no joelho para escapar das aulas de educação física, até que eu estou curtindo as Olimpíadas. Não dá para dizer isso e sair correndo, né? A mentira durou poucas horas, só até a professora ir consolar a minha mãe e sair pensando que eu era o Macaulay Culkin em O Anjo Malvado. Mas a parte importante é a das Olimpíadas. Nesse último mês eu peguei a febre olímpica, e troquei os filmes, séries e livros habituais por uma maratona de esportes para os quais eu não dava a menor atenção até o mês passado.

O resultado disso foi esse meu afastamento do blog. O último texto foi bem no comecinho de agosto. Eu não só estou sentindo falta do meu ritmo atual de entretenimento, como senti saudade de vir aqui escrever. Assim, estou agora com uma aba aberta no Filmow, uma no Skoob e outra no Banco de Séries, para fazer um apanhado daquilo que li e vi, entre um esporte e outro. Poucas coisas são mais legais do que ver uma pessoa levantar três vezes o próprio peso e depois passar meio mal por falta de oxigênio no cérebro, mas a verdade é que agosto me trouxe entretenimento tão bom quanto isso. Mesmo que em menor quantidade.

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Crédito: @ArcadianWalnut

Desde o começo de julho venho revendo Gilmore Girls. Nem me sinto à vontade para falar em maratona quando vejo, se tanto, um episódio por dia. O Felipe, que é um rapaz que mora comigo e que vem a ser meu marido, acompanhou a primeira temporada de rabo de olho e me encheu a paciência tentando me fazer pegar pavor da Lorelai (Lorelai, a mãe). Ele não conseguiu porque as Gilmore são minhas velhas conhecidas, mas não dá para dizer que ele não maculou (bem pouquinho) essa relação antiga. Pelo menos nas duas primeiras temporadas, Lorelai é um pouco insuportável. Ela não para de falar, não demonstra o menor interesse em nada que não seja o próprio umbigo e, em menor grau, o da filha. O que mais me chamou a atenção foi o quanto ela não presta a menor atenção em Sookie, a melhor amiga vivida por Melissa McCarthy. Tem um episódio em particular, em que Sookie consegue ingressos para um show e convida as Gilmore. Daí Lorelai, sem nem consultar a amiga dona dos ingressos, os oferece às amigas da filha. O resultado: Sookie e Lorelai vão ao show, mas ficam em péssimos lugares. E não tem conversa sobre essa decisão: ela simplesmente decide pela amiga, dá o que não lhe pertence, e pronto. Ah, se fosse comigo.

Ainda por cima, Lorelai nunca ouve. Enquanto qualquer um está falando, é possível ver na cara dela a próxima piadinha chegando. Esses diálogos espertinhos são um ponto alto da série, mas não dá para negar que, se fosse alguém do meu círculo, Lorelai seria um pesadelo. Além do mais, pobre Max Medina. Se você não viu, cuidado com o spoiler. Ele tentou falar sério, quis que ela fosse sincera (“Eu estou achando que a sua hesitação em me dar as chaves é um sinal de que você não está muito à vontade com a ideia do casamento”), mas tudo o que ela conseguiu foi desperdiçar qualquer oportunidade de falar sério, cancelar o casamento às pressas e fugir, como se tivesse a mesma idade da filha. Triste.

Isso deixa a série pior? Claro que não. Televisão normalmente envelhece mal, mas em muitos aspectos Gilmore Girls parece mais algo de 2015 do que uma produção de 2000. Até vi um post no tumblr esses dias que falava da multiplicidade das mulheres do seriado. Não são apenas fortes: são mulheres de todos os tipos. Há quem esteja desesperada para ter um relacionamento e há quem preze a autonomia, cada uma lida com seus problemas de um jeito distinto, e o seriado faz um esforço louvável para não repetir motivos e situações batidas. Independência, coragem, autoconfiança, sensibilidade: as Gilmore tentam resolver as coisas usando meios que não são os de todo dia na televisão. Como disse uma das irmãs Wachowski: uma mulher forte não precisa necessariamente usar os métodos usuais do mundo dos homens, tipo confronto, tiro, porrada, bomba. Mas Gilmore Girls ainda vai render muito assunto em 2016, já que em novembro as Lorelais vão aparecer em temporada especial na Netflix.

léo masterchef

Leo rainha, as outras nadinha

Uma coisa que eu venho acompanhando religiosamente: Masterchef. Fui do Time Leo desde o começo, before it was cool, antes de virar modinha, antes de os outros participantes isolarem-no a ponto de ele virar o preferido do público. Nunca tinha falado de Masterchef aqui, não é? O único reality sobre o qual falei foi RuPaul’s Drag Race. Acho que Masterchef é um triunfo. Eu não conheço a programação da Band de cabo a rabo, mas tenho certeza de que, se Masterchef passasse na Globo, teríamos umas intervenções dispersas e inúteis de umas celebridades de segunda linha, certamente uma pontinha da Claudia Leite, algumas histórias de sofrimento e superação, votação do público, essas coisas. Na Band, o orçamento pequeno até faz bem. Por causa dele, Masterchef só pretende ser o que é: um reality de competição em que as pessoas cozinham a caminho da glória. Muitos dizem que Ana Paula Padrão é dispensável, mas eu discordo. Acho que todo agrupamento humano precisa daquela pessoa que está disposta a quebrar o gelo mesmo que para isso desperte constrangimento de cinco em cinco segundos. Para quem não acompanhou o programa que passa todas as terças, vale dizer que ele se segura bem quando não é assistido no dia da transmissão. Eu mesma vi tudo pelo Youtube. Essa é outra coisa que a Globo jamais faria. Horas depois do episódio, toda quarta, alguém da Band vai lá e sobe o episódio completo para o canal da emissora no Youtube.

Que mais? Ah, o texto já ficou muito grande. Eu revi Psicose, do Alfred Hitchcock, e poxa, acho que esse filme além de ainda ser assustador não tem defeito e que todas as coisas que ele queria fazer são objetivos dos filmes do gênero ainda hoje, décadas depois. O Norman Bates interpretado por Anthony Perkins é um modelo para tanta gente fazendo papel de maluca que eu nem saberia dizer se aquilo é influência pura ou se o personagem entrou para o vocabulário geral e aquele tipo nem pertence mais ao filme. Eu vi também Um Alguém Apaixonado, um dos últimos filmes do Abbas Kiarostami, e foi apenas o segundo filme que eu vi do diretor. Esse se passa no Japão e trata de um dia na vida de uma prostituta solitária e desiludida que encontra um velhinho solitário e gentil. O filme não é exatamente enternecedor, pois é bem pouco sentimental, mas é lindamente filmado. O rapaz que é meu marido me fez ver Independence Day, o de 1996, e depois a sequência que saiu agora há uns meses. Vocês com certeza já viram filmes horrorosos em ótima companhia e sabem do que eu falo quando falo que eu ri demais com a falta de sentido de tudo. No embalo, ainda revimos Corra que a polícia vem aí 33 e 1/3.

Ah, o texto agora ficou oficialmente grande para o que eu pretendia. Eu volto em breve para falar das leituras. E ah, eu juro que estou desde a segunda série sem inventar sequer uma mentira assim leviana sobre uma coisa tão séria quanto um tumor. E é isso. Medalha boa é a de chocolate.

5 Filmes para chorar até soluçar

Depois de ler o texto da Isabela Boscov sobre Como eu era antes de você e  outros filmes que a fizeram chorar, resolvi usar a ideia dela e montar uma lista com os filmes que mais me fizeram chorar descompassadamente. Mas não vale qualquer filme. No texto, Isabela Boscov fala de como o longa com Emilia Clarke leva o público às lágrimas (admito que chorei tanto com o livro que não sobrou nada para o filme) de um jeito prudente, como se houvesse uma rede de proteção ali, e por causa dessa rede a emoção momentânea com a história tristíssima não chegasse a causar verdadeira tristeza.

Isso é muito verdade. Gostei muito dessa distinção que ela fez entre os filmes que fazem chorar numa espécie de zona de conforto e aqueles que te jogam no abismo e dizem “vai lá, agora que você veio, segure essa tristeza e dê um jeito de viver com ela”.

Na primeira categoria, eu lembro de alguns filmes que me deixaram em prantos, mas que não me abalaram, como: Outono em Nova York, Noites de Tormenta e Diário de uma paixão. Com eles eu chorei, mas admito que não sofri de verdade porque, afinal, uma história de amor planejada para nos fazer chorar é só isso: uma história bela e triste que enternece sem nos ferir de verdade, porque quando rolam os créditos tudo é lindo e a vida vale a pena. O que não é o caso dos filmes da segunda categoria. A lista que você vê aqui traz cinco filmes que me fizeram chorar como se não houvesse amanhã. Todos eles me comoveram e me deixaram com uma tristeza permanente. Eu posso estar rodeada de gente, num dia de sol e comendo churros, e ainda assim vou lembrar de uma cena de um desses filmes e pensar que o mundo é muito triste.

Umberto D.

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Melhor começar a lista com aquele que mais me fez chorar na vida, não? Umberto D. é antigo, p&b, italiano e não parece apetecer muito, né? Na época eu estava viciada em filmes do neorrealismo, e havia me apaixonado pelo Vittorio de Sica com Ladrões de bicicleta. Foram vários filmes tristes de partir o coração e de despertar muito choro, mas nenhum chegou perto do velhinho Umberto D. e de seu cachorrinho, que são despejados de casa e vagam pelas ruas, buscando uma forma de viver com dignidade. Só de escrever isso já dá vontade de chorar. Nunca mais consegui assistir a esse filme, e me lembro muito bem de chorar nele inteirinho. Quando sentia que conseguiria parar de chorar, lá vinha mais uma super tristeza pra me fazer soluçar novamente. Velhinho e cachorrinho, pobreza e injustiça. Não dá para segurar.

Amor pra cachorro

Year Of The Dog

Ainda falando em cachorrinho, este filme com a Molly Shannon é comovente e até tem uma mensagem positiva, mas é muito triste. Peggy vive sozinha com Pencil, seu cachorro e único companheiro. Depois de uns acontecimentos que me fizeram chorar um pouquinho, a vida dela muda drasticamente. Por falta de um rótulo melhor, o filme se vendeu como uma comédia, e admito que ele engana que é leve em vários momentos. Todo ele é uma jornada em que Peggy descobre que, para ser feliz, não precisa buscar a felicidade nos moldes dos outros. Eu me identifiquei muito com a Peggy e seus relacionamentos danosos, seus aprendizados difíceis, por isso chorei e chorei muito. No fim das contas, tentar ser você mesmo nem sempre é garantia de felicidade.

No mundo da lua

no mundo da lua

Até hoje me revolta este título brasileiro para um filme que se chama The man in the moon. Pode parecer inofensivo, mas poxa, estar “no mundo da lua” é outra coisa – que droga. O filme é do diretor Robert Mulligan, de quem eu vi muitos filmes na época em que eu frequentava uma cinemateca excelente. Por causa disso, era para eu ter só boas lembranças de Mulligan e desse período. Mas no meio do caminho tinha um acidente. Outros filmes dele me fizeram chorar, mas escolhi The man in the moon apenas por uma cena muito chocante, inesperada, da qual não se pode voltar, e que sempre passa em minha mente quando eu vejo determinada máquina agrícola. É uma tristeza definitiva. Acho que é o primeiro filme de Reese Witherspoon, e ele começa de um jeito muito doce, com a história de duas jovens irmãs que vivem no interior dos Estados Unidos e levam uma vida simples e sem grandes atropelos. Elas conhecem um garoto, mas a Reese Witherspoon é novinha, enquanto sua irmã está no fim da adolescência. As duas se apaixonam por ele, mas só uma é correspondida. O filme não parecia ser mais do que isso, e ele estava sendo contado de um jeito tão leve que eu já estava feliz e conformada por achar que tinha entendido tudo. E aí toma: acontece uma super reviravolta, e a cena em que ela se dá é tão forte que eu chorei de choque. Sim, é bem impactante e bem triste, mostra que ninguém tem controle sobre a vida e que não adianta fazer planos. Acho que este filme ainda está na Netflix.

A liberdade é azul

a felicidade é azul juliette binoche

Outro de cortar o coração. A liberdade é azul é do Kieslowski e faz parte da trilogia das cores. Depois de ver esse filme senti que o meu coração havia sido esmagado, chutado, pisoteado e molestado até não poder mais. Dos cinco citados na lista ele é o que poderia ter a história mais parecida com os filmes que eu citei lá em cima, e  para algum desavisado passaria como um entre os que fazem chorar na zona de conforto. Nada seria mais equivocado. O mundo é um lugar ao mesmo tempo bonito e terrível. Juliette Binoche perdeu a filha e o marido, está de luto, e depois de quase desistir de viver, decide dar mais uma chance à vida. A história é triste mas dá muito bem para imaginar um filme assim com a Jennifer Aniston, né? Mas A liberdade é azul consegue nos tocar e sensibilizar não por ficar remoendo a morte, mas por mostrar que mesmo num momento obscuro, é possível viver. Essa mensagem é apavorante: é possível que o pior aconteça e que mesmo assim você consiga ficar de pé. Ou melhor: o pior vai acontecer e a sua obrigação é ficar de pé. Impossível não chorar com a trilha, ainda por cima.

O Homem Urso

homem urso

E por último, um documentário lindo e poético sobre Timothy Treadwell, um homem que por anos viveu tentando fazer amizade com alguns dos animais mais perigosos do mundo. Se você nunca viu um documentário do Werner Herzog, por favor, pare tudo e procure um, qualquer um. Nenhum outro diretor consegue, num documentário, arrancar o que Herzog arranca de suas fontes. Por isso os documentários dele são bonitos e bizarros, ao mesmo tempo crus e surreais. O Homem Urso é o melhor exemplo, e mesmo que tenha sido feito depois da morte de Treadwell, os depoimentos de amigos e familiares acabam constituindo pequenas façanhas. Timothy era um homem apaixonado pelos animais, e se considerava um protetor deles, mas com os vídeos que ele fez enquanto viveu numa reserva de ursos, Herzog nos faz ver que aquele amor estava tomando um tom de loucura e desespero. O diretor nos faz pensar na indiferença da natureza do jeito mais lindo e triste possível. O Homem Urso é um ensaio de Herzog sobre a humanidade e a natureza, sobre a natureza da humanidade, sobre a sinceridade, sobre pessoas extremas, sobre a nossa necessidade de pertencimento e nossos impulsos de isolamento. Quando toca a primeira nota de “Coyotes”, de Don Edwards, nem a pessoa mais coração de pedra consegue segurar uma lágrima.