A mulher na janela

a mulher na janelaÉ muito bom engatar em uma leitura e esquecer do resto do mundo. Acho que nunca vou me cansar da sensação de prazer que um livro proporciona, porque ela é diferente de tudo. A mulher na janela nem é o melhor exemplo, porque no fim das contas a empolgação foi diminuindo no fim, mas mesmo assim eu engatei nele e por boa parte do tempo eu pensei “talvez (provavelmente!) eu nem lembre da história em alguns meses, mas que história envolvente!”.

O livro de A. J. Finn é mais um thriller com mulher (ou garota) no título e que, em um primeiro momento lembra A garota no trem, de Paula Hawkins: uma mulher destruída por um evento do passado, que testemunha um crime e precisa lutar para provar que o que ela viu realmente aconteceu. Mas as semelhanças ficam apenas na sinopse. A mulher na janela é um livro intenso, em que você se perde nas ruminações da protagonista e luta para tentar desvendar o que está acontecendo antes do fim da história.

Anna é uma mulher triste. Ela não consegue sair de casa por conta de um transtorno psicológico conhecido como agorafobia. A tristeza é fácil de perceber: ela nunca sai de casa, não toma banho sempre, vive sozinha, sente falta do marido e da filha e passa os dias bisbilhotando os vizinhos pela janela. A casa é gigante, com quatro andares mais um super porão, o que deixa tudo mais atraente: você sabe que um crime vai acontecer em algum momento e que a casona, como cenário principal, só vai fazer a imaginação trabalhar mais.

Quando vizinhos novos se mudam para a propriedade mais próxima, Anna, munida de uma câmera com ótimo zoom, passa a sondar a nova família aparentemente normal. Em pouco tempo o adolescente surge na porta de Anna, com um presente oferecido pela mãe. Eles conversam e Anna se sente mais próxima da família. Mais tarde é a vez de a mãe visitá-la. Elas estabelecem uma ligação rapidamente e então Anna se vê consumida pela vida dos vizinhos.

É aí que um assassinato acontece, e Anna, que vive em meio a vinhos e remédios fortes, vê tudo através das janelas de sua casa. Como ela vai conseguir provar para a polícia que o que ela viu não foi uma alucinação quando a pessoa que ela achava estar morta surge, com outro rosto, dizendo que nunca a conheceu?

A protagonista é uma mulher que, sim, em muitos momentos parece delirante, mas que tem uma confiança inabalável no que vê. Como confiar em uma narradora assim? Não dá. E é justo nessas horas que A mulher na janela é empolgante. Em um momento você quer, junto com Anna, descobrir o que está acontecendo; depois você já acha que todo o problema está nela, mesmo que não do jeito que o autor quer fazer você pensar.

Mas falando assim fica parecendo que eu me apaixonei pelo livro. As coisas começaram a desandar na minha leitura quando o fim foi se descortinando. O autor recheia o romance com referências aos filmes antigos de suspense, com destaque para os de Hitchcock. A história da mulher na janela espionando os vizinhos é uma homenagem declarada a Janela Indiscreta. Anna assiste a muitos filmes clássicos de suspense, e o autor consegue colocar no papel o clima tão único do cinema em preto e branco, o que faz a expectativa crescer. A menção ao clima tenso e de certa forma sedutor dos filmes do Hitchcock me deixou inebriada, esperando por algo que eu imaginava que nunca adivinharia, mas quando o final surgiu, me senti caindo de novo na realidade de um livro mediano e sem muita graça.

O fim me lembrou dos remakes dos filmes do Hitchcock que surgiram ao longo do tempo. A mesma sensação que me daria uma versão, plano a plano, de Janela Indiscreta, tão sem vida quanto Psicose com o Vince Vaughn, da década de 1990. A história, por mais da metade do tempo, me fez pensar em um bom filme do diretor: com um desenvolvimento magnético, complexo e intrincado, mas a decepção veio quando no fim, em vez de continuar como Hitchcock faria e finalizar com um desfecho simples e genial, A. J. Finn optou por dobrar a aposta e deixar tudo maior e mais confuso, recheado de coisas explicadas em excesso. Para mim, não deu certo.

Dois anos de blog e uma comemoração contida

adorariaNesta semana o blog comemora dois anos de vida (eu acho que é nesta semana, mas é em setembro sem dúvida!), e como o negócio aqui é meio parado, não teremos sorteios, brindes, nem nada dessas coisas que os blogs legais têm. Ano passado, como comemoração, eu expliquei no post de aniversário a origem do nome do blog, mas agora já queimei esse cartucho e não consegui pensar em nada assim tão legal. Por isso resolvi apenas falar das últimas coisas que andei lendo e assistindo. Ok, eu sei que para isso nem precisava avisar do aniversário, mas deixar passar em branco também não é do meu feitio.

Tudo bem. Eu andei lendo alguns livros bem legais, assistindo a muita série ruim (e a outras boazinhas) e poucos filmes que valeram a pena. Não tenho tido tempo de ir ao cinema, por isso tenho vivido na ilegalidade. Sempre acho que um dia o governo vai me pegar e meu azar vai ser tão grande que eles vão querer me fazer de exemplo: cadeia nela!

Minha meta de leitura de 2017 está indo bem graças a um novo método: eu agora calculo antecipadamente quantas páginas preciso ler por dia, durante o mês inteiro, e anoto num papel (que acaba virando marcador) as datas e as páginas a que tenho que chegar a cada dia. No momento estou lendo No caminho de Swann e minha média é de 15 páginas por dia, um número perfeito para ler bem de manhãzinha antes de começar a labuta. Com o mesmo método eu terminei Vida e destino, Doutor Jivago e Todos os Contos da Clarice Lispector. Fico feliz com esse método porque finalmente estou dando conta de ler a meta sem me embananar com tudo o que me aparece fora dela. Parece neurose, mas facilita muito e me ajuda a ter constância.

Só que minhas últimas leituras não foram clássicos. Continuo lendo Outlander e sigo atrasada com a infinidade de livros da série. Terminei Os tambores de outono – Parte 1, mas a segunda parte ainda me espera. Me empolgo só de olhar a pilha de livros aqui de casa e saber que ainda tenho muito a aproveitar na companhia de Claire e Jamie. Também li dois thrillers bem bacanas: O casal que mora ao lado e Por trás dos seus olhos. O primeiro é curtinho e traz o suspense do desaparecimento de um bebê que fica sozinho em casa enquanto os pais jantam na casa ao lado. Dá para ler em uma sentada e, mesmo que não tenha um fim tão surpreendente, nos deixa ligados do começo ao fim. O segundo livro é um pouco mais longo e narra a história de uma mulher que fica amiga da esposa do chefe. Acontece que ela teve um flerte com ele (beijou o sujeito, para falar a verdade). O fim é bem louco, mas bem diferente, e me deixou de queixo caído. No Skoob quase todo mundo que leu ficou da mesma forma.

Animada com esses dois acabei lendo outros thrillers bem ruins: Um pequeno favor e A desconhecida. Os dois contam histórias de mulheres mentalmente perturbadas e desinteressantes. Também li (finalmente!) Agora e para sempre, Lara Jean e Mr. Romance. Ambos foram bem fofos.

mike and harvey

Mike e Harvey lindos

Agosto e início de setembro são sempre meio parados para as séries de televisão, mas mesmo assim encontrei algumas interessantes. Comecei a ver Suits sem acreditar que investiria muito do meu tempo, mas agora estou viciada em Mike e Harvey. Esses dois eu shippo muito (e acabo de descobrir que já existe um nome para o ship deles: Marvey). Falando em shippar, terminei por estes dias a segunda temporada de Animal Kingdom e, se na primeira temporada eu não tinha certeza de que a série iria vingar, a segunda temporada veio para me dizer que sim, os meninos Cody são especiais e merecem ser acompanhados. Pena que são apenas 13 episódios.

jessica biel the sinner

Jessica Biel em The Sinner

Quanto aos suspenses, se eu não gostei de Mr. Mercedes, The Sinner foi bem diferente. Tem a Jessical Biel e o Bill Pulman. O piloto da série me surpreendeu por um evento que pareceu muito aleatório (não dá para ser mais específica sem estragar tudo), mas que foi bem costurado nos outros sete episódios. Strike, aquele da J. K. Rowling, estreou e já acabou (foi tudo muito rápido mesmo) em apenas cinco partes. Uma terceira temporada vai chegar em 2018, mas os capítulos são tão curtos que sinto que, se eu não tivesse lido os livros, não teria entendido coisa nenhuma. Mas a música da abertura é ótima! (só que não vale a pena assistir só por isso, dá para ver a abertura pelo Youtube).

Nas últimas semanas comecei a assistir a The Deuce, que parece bem promissora. É do mesmo criador de The Wire (de que meu marido tentou me fazer gostar, sem sucesso) e tem no elenco James Franco e Maggie Gyllenhaal. A série é lenta e talvez entusiasme mais os fãs de cinema do que os de televisão, mas ainda é cedo para tirar conclusões. Liar e Star Trek: Discovery são outras duas que comecei a assistir por esses dias e ainda não sei aonde vão chegar. Por enquanto foram dois episódios de cada, vale acompanhar mais um pouco.

Ultimamente os filmes estão meio ausentes dos meus dias. Sempre tenho que escolher à noite entre livro, filme e série e os filmes têm levado a pior. Mas eu vi Baby Driver que foi muito bom, cheio de ação e com cenas de carro melhores que as de Velozes e Furiosos (mentira, não posso comparar; nunca vi a franquia do Vin Diesel, que todo mundo ou ama ou odeia). Também vi The Big Sick, uma comédia romântica que tinha tudo para ser boa mas se perdeu na baboseira de tentar dar um final feliz (e chato) para todo mundo.

Bom, o post de comemoração é este. Não parece muito comemorativo, mas estou bem feliz de ter um cantinho há dois anos para falar das minhas paixões mais antigas. Para celebrar um pouquinho mais, segura esse vídeo do Johnny Castle ensinando a Baby a dançar:

Quatro livros de Alessandra Torre

livrosDepois de terminar uma leitura longa, de um romance um pouco complicado, eu gosto de me dedicar a livros que parecem novelas de televisão. Pode parecer estranho terminar O Vermelho e o Negro e já pegar um livro em que não acontece nada, um desses para os quais as pessoas fazem careta, mas foi assim que eu peguei gosto pela leitura: misturando todo tipo de coisa. Eu nunca conseguiria ler apenas clássicos, porque me faltaria aquela sensação de prazer que só um sentimento banal mas genuíno pode nos dar. Ao mesmo tempo, também nunca conseguiria ler apenas romances levíssimos, pois aí o vazio tomaria conta de mim. Foi assim que, depois de terminar O Vermelho e o Negro, eu engatei em um livro atrás do outro de Alessandra Torre. Eu não a conhecia e o o nome me levou a pensar que se tratava de uma brasileira, mas não: ela não só é gringa como também nenhuma editora brasileira se interessou em publicá-la, o que é uma pena porque a popularidade de Torre entre brasileiras só aumenta.

love chloe

Rodando pela internet eu encontrei Love, Chloe e adorei tanto a capa quanto o  título. Decidi tentar a sorte. O livro é legalzinho, mas não empolga. Chloe é uma garota rica e mimada que nunca precisou trabalhar na vida. As coisas mudam quando seus pais perdem todo o dinheiro, mas ela acaba mostrando que consegue se virar muito bem. Tem um triângulo amoroso entre ela, o ex-namorado e um cara que ela acabou de conhecer. O livro parece querer ser um chick lit. A protagonista é meio desmiolada, mas não de um jeito muito legal. Talvez por querer dar um ar leve para tudo, a autora erra a mão e todos os personagens parecem destituídos de vida. Mas isso não foi o suficiente para me fazer desistir de Alessandra Torre. No Skoob e no Goodreads eu li opiniões tão positivas sobre seus outros romances que resolvi continuar.

O segundo livro lido foi Tight. Fiquei espantada que a mesma autora tenha escrito Love, Chloe e Tight. Para quem gosta do gênero dark, que aliás eu nem me arrisco a definir, aqui está uma ótima escolha. O que eu mais gosto nesses livros é o tamanho da loucura das autoras: cada história é o roteiro de uma novela mexicana acrescido de pirações pelos submundos do sexo e da psicopatia. Para explicar melhor do que trata Tight, não vou conter os spoilers, então se você se interessou a ponto de querer lê-lo, o texto acaba aqui. Brett é um homem apaixonado que perdeu seu grande amor para o tráfico de mulheres. Como ele é um cara muito rico (isso é pré-requisito para todo mocinho) ele decide dedicar sua vida a resgatar meninas raptadas e vendidas para homens que querem apenas abusá-las de todas as formas imagináveis. Riley é a mocinha que aparece na vida dele. Ela não tem a menor ideia de toda essa história de tráfico de mulheres e não sabe o que acontece na vida de Brett. Um dia os dois se esbarram e se apaixonam. O livro é isso, mas os capítulos são intercalados por Riley e Brett se apaixonando e pela narrativa de uma garota que vive em cativeiro, esperando que um dia Brett a salve.

tight alessandra torre

Acho que, como todo mundo que leu Tight, eu passei o livro inteiro tendo certeza de que a garota que aparece nos capítulos contando seus dias no cativeiro era o grande amor da vida de Brett, aquela que ele amava antes de conhecer Riley e que sumira para sempre. Como em qualquer outro livro do gênero eu sabia que uma grande reviravolta aconteceria, mas não imaginava sua magnitude. Se você ainda está lendo, vou avisar novamente: vou dar o spoiler que vai destruir Tight para quem ainda pretende começar. Riley parece desconfiar que Brett está envolvido em negócios ilegais e resolve segui-lo. O negócio ilegal é a compra de meninas raptadas, mas ela não sabe que ele é bonzinho e que as compra para libertá-las. Acontece que Riley é raptada, afinal, ela o seguiu de forma imprudente, alguém a viu e a oportunidade falou mais alto. Então quem é a moça no cativeiro, que aparece em capítulos alternados? Ninguém menos que Riley, ela mesma, que ficou nove meses presa em um quartinho, vivendo com seu raptor, até ser finalmente vendida, é claro, para o grande amor de sua vida, aquele que compra escravas para ser humanitário. Mas e o grande amor do passado? O grande amor que Brett perdeu no tráfico de mulheres é sua irmã que foi morta pouco tempo depois de ser sequestrada. Super reviravolta em um livro bem louco.

Empolgada com os delírios de Alessandra Torre, parti para o próximo. Black Lies prometia uma super reviravolta no fim, mas eu entendi o grande mistério da história bem no começo da leitura e isso arruinou tudo. Nessa hora tive certeza de que, sem o mistério da reviravolta, esses livros perdem a razão de ser. Por isso me senti uma guerreira por terminar a leitura. A sinopse conta que há um triângulo amoroso: a protagonista + um cara rico mauricinho + um jardineiro rude. Agora aqui vai o spoiler que destrói a leitura: não há dois caras, há apenas o mesmo maluco com transtorno dissociativo  de identidade. Ele é o cara rico e o jardineiro ao mesmo tempo. Por isso a protagonista, que parecia tão apaixonada por um, consegue se envolver rapidamente com o outro. Eu concordo que esse foi bem fraco, mas tinha potencial. Alguma vez, na vida real, alguém com o raríssimo transtorno de dupla personalidade causou tanto estrago quanto se causa na ficção? Totalmente novela mexicana.

hollywood dirt alessandra torre

Por último, resolvi tentar um sem reviravoltas malucas e, olha, foi uma boa ideia, porque encontrei o que talvez seja o melhor livro de Alessandra Torre. Hollywood Dirt é leve, fofo e bem romântico. Summer é uma garota do interior e Cole é um ator de Hollywood, super famoso e badalado. Ele acaba indo filmar na cidadezinha dela. Ela é teimosa e orgulhosa e ele logo se apaixona, mas não admite. Eles vão brigar, vão se estranhar e por fim vão se entregar ao amor. O clima de cidade pequena foi o que mais me empolgou, muito porque é covardia fazer essas coisas comigo já que a minha memória afetiva está ligada a lugares assim. Fui fisgada, adorei ver a autora em um universo ligeiramente menos bizarro, mas não sei: nada como aquela sensação de que a Maria do Bairro acabou indo parar num filme policial dos anos 1990 e agora precisa se livrar de um serial killer por quem vai acabar se apaixonando.

Meta de leitura: adeus ano velho, feliz ano novo

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Olá, 2017. Pessoalmente, 2016 foi um ano bom. Eu fico até me sentindo um pouco fria e desalmada ao dizer isso mas, tirando dois terços de dezembro, quando o meu cachorro teve uma doença neurológica, para mim o ano veio e foi sem as atribulações que chocaram a todos. Foi um período esquisito para o Brasil, em que aconteceram coisas boas e interessantes para quem gosta de ver o circo pegar fogo. Não é o meu caso, mas eu acho que tive relativo sucesso em manter-me longe da solidão, da paranoia e do tesão descontrolado (cortesia de Fausto Fanti) que pairaram como uma nuvem sobre as cidades do mundo inteiro. Para isso eu tive uma ajudinha dos livros.

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Adeus, 2016

2016 foi um ano de leituras muito boas. Não foi o primeiro em que eu fiz uma meta de leituras, mas foi o primeiro em que a meta teve um sentido: eu escolhi 12 livros que estavam parados em casa, daqueles que a gente compra na neurose e joga para o fim da fila por preguiça. O objetivo era combater uma tendência que eu vejo em mim e em muita gente: comprar livros, ter compulsão por comprar livros, fazer coleção deles, tratá-los como coisinhas preciosas – aumentar a pilha. O objetivo da minha meta era diminuir a pilha. Eu li aqueles 12 dos que estavam aqui parados há mais tempo, e li outros 124. Entre estes, alguns ebooks, outros que também estavam na estante, quatro que eu li em voz alta para o meu marido (que não é cego, mas às vezes joga videogame enquanto eu leio em voz alta). Eu também comprei alguns, não vou mentir, mas foram menos de 20. Eu evitei livros físicos e guardei os lançamentos para o Kobo. Fiz um post para cada livro da meta, e ao todo foram 25 os textos sobre livros aqui no blog. Nesse quesito, fui uma boa menina. A pilha diminuiu, portanto?

Sim, mas ainda temos trabalho pela frente. Já em outubro eu começava a planejar uma nova meta para 2017. Minha primeira ideia era ler doze romances históricos brasileiros. Eu havia descoberto uns três ou quatro que me interessavam, e comecei a pensar que esse gênero é muito largadinho. Meu marido botou uma pilha e eu cheguei a esboçar uma lista, mas desisti quando percebi que teria que comprar um ou dois bem caros, e tentar a sorte em outros pela Estante Virtual. Olhei para as estantes e percebi que ainda tenho muita coisa para ler antes de ir às compras. Por isso, resolvi repetir o critério de 2016 em 2017. Catei os que mais me agoniavam da casa e fiz uma lista muito boa, uma que me deixou feliz e que faz sentido. Olha só.

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Olá, 2017

Tem três russos, dois livros da Pedrazul, um livro reportagem brasileiro, O Vermelho e o Negro naquela edição da Abril (que está aqui em casa há milhares de anos, eu acho), o primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido (que eu estou para começar desde que me entendo por leitora), Virginia Woolf, Clarice Lispector, Marguerite Yourcenar, Simone de Beauvoir. São livros que eu leria mais cedo ou mais tarde e que, com a rigidez da meta, eu resolvi ler mais cedo. Do ano passado ficam alguns aprendizados, entre eles o principal: não deixar para dezembro um livro muito longo, porque dezembro geralmente é um mês de pouca rotina, e todo mundo sabe que a rotina é muito amiga da leitura.

Como Outlander entrou na minha vida

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Ainda falta muito para completar a série

Se alguém me perguntasse por que eu gosto de ler, uma resposta simples seria pensar em Outlander, de Diana Gabaldon, e na empolgação quase infantil que eu sinto em saber que ainda tenho muitos livros da série pela frente. Fui apresentada a esse universo em 2013, pelo meu marido. Não era o tipo de leitura dele, mas ele percebeu que eu poderia gostar e me chamou a atenção. As capas não eram das mais atraentes, mas quando eu bati o olho eu sabia que era grande a chance de aquela série virar queridinha no meu coração. Na época a Rocco tinha desistido de seguir publicando os livros de Gabaldon, um e outro volume apareciam em sebos, e a escassez fez os preços irem bem além do razoável. Felizmente encontrei no Skoob uma alma caridosa e desapegada querendo se desfazer d‘A viajante do tempo, o primeiro de todos.

No mesmo ano Outlander virou série de tevê. A editora Saída de Emergência (que eu acabei de descobrir que passou todo seu catálogo para a Arqueiro, no que eu imagino que não vá fazer diferença porque as duas fazem parte do grupo Sextante) aproveitou o embalo e começou a publicar edições lindas – em comparação com as antigas – que me irritaram profundamente porque eu tinha acabado de conseguir com muita dificuldade o primeiro livro com a capa da Rocco. O que fazer? Esquecer o velho e começar uma coleção do zero? Não é do meu feitio. Por obra do destino eu consegui o segundo volume da Rocco, A libélula no âmbar, mas depois disso a minha sorte acabou. Eu não tinha como conseguir a sequência inteira nas edições antigas. Deixei para lá e achei O resgate no mar com a capa da Saída de Emergência. E assim decidi ir até o fim, embaralhando as capas das duas edições brasileiras. As da Rocco podem não ser as mais bonitas, mas a edição é caprichada e resistente, coisa que eu não senti com os livros bonitinhos da Saída de Emergência.

Vencida a questão, digamos, logística, em 2014 eu li A viajante do tempo e me apaixonei por Jamie e Claire. Não consegui ler imediatamente A libélula no âmbar, porque Outlander mexe pesadamente nas minhas emoções. Eu precisava de um tempo, mas relaxei e quando eu vi 2015 havia passado sem que eu encostasse no segundo livro. Pois bem. Essa é a história de Outlander aqui em casa. Daí você pode perceber como era importante colocar A libélula no âmbar na minha meta de leitura para 2016. Não era justo que uma série tão especial passasse mais tempo em pausa.

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Outlander meio que preenche uma fresta no meu prazer de leitora. Eu tenho inveja de quem lê, por exemplo, As crônicas de gelo e fogo. Os livros são imensos e eu sei que passar tanto tempo dentro de um universo é uma das melhores sensações que um leitor pode ter. Mas eu já dei uma chance ao George R.R. Martin e não nos entendemos bem. Outlander chegou trazendo aquilo que me faltava: uma história cativante em livros colossais que não acabam nunca. Diana Gabaldon é formada em zoologia com PhD em ecologia, e o envolvimento dela com o meio natural é evidente em cada página de Outlander. Isso empresta raríssima riqueza ao universo. O cenário é a Escócia do século XVIII. A história de uma mulher com a sabedoria do século XX viajando no tempo e vivendo 200 anos antes de sua época poderia se mostrar repleta de inconsistências e improvisos, mas Gabaldon tem as artimanhas. Claire, que era uma enfermeira comum na década de 1940 e havia servido na Segunda Guerra, no século XVIII vira a maior conhecedora de plantas, raízes e remédios antigos. Nunca me senti tão imersa em uma história. Além da construção desse universo, Diana Gabaldon não tenta nos enganar com uma trama inconsistente. Além de muita pesquisa e do panorama histórico da Escócia, e mais do que o cotidiano de pessoas comuns vivendo no século XVIII, ela não deixa de lado a aventura e o relacionamento amoroso. O casal importa, as vidas deles são quase palpáveis, a trama é de angustiar e as muitas páginas correm de um jeito que eu nem sentia o tempo passando.

Em uma passagem d’A libélula no âmbar, Claire e Jamie estão procurando piolhos um no outro depois de muitos dias na estrada. A cena é ao mesmo tempo romântica, realista e ilustrativa da incondicionalidade do amor dos dois. Não consigo imaginá-la em outro livro de fantasia romântica. Esse é um dos poderes de Diana Gabaldon: estabelecer cenas e personagens que fogem do ordinário para esse gênero, e que ainda assim conseguem transmitir todos os sentimentos que não podem faltar.

Terminei o segundo livro agora e fiquei tão embevecida que não me contive. Tive que rodar a internet em busca de spoilers. Quando eu gosto muito de alguma coisa não consigo me segurar. Eu investiguei por cima e agora já sei o que acontece com Claire e Jamie em todos os livros publicados no Brasil. Quem não quiser spoilers da série inteira, fica o aviso: o texto acaba aqui, foi boa a sua companhia, se você ainda não começou Outlander não perca mais tempo.

Para quem ficou eu digo que depois de sofrer com a Claire e com o Jamie, sei que eles vão ficar vinte anos separados, vão se reencontrar e Jamie vai estar casado com outra mulher. Eles vão conseguir se unir depois de muita dificuldade, mas outros problemas surgirão, e dessa vez durante a revolução americana – todo um continente novo para Gabaldon esquadrinhar. Quando penso em tudo que ainda vou ler e viver com esse casal eu sinto um frio na barriga. Parece que tenho novamente catorze anos, e sinto o mesmo afeto que eu sentia pelos livros lidos naquela época, quando tudo era novidade. Vou precisar me organizar para conseguir ler pelo menos o próximo volume nos próximos meses, porque não vou poder ficar mais um ano distante de Jamie, Claire e Diana Gabaldon.

O primeiro dia do resto da nossa vida

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Tess e Angus têm dezoito anos e se esbarram na Itália durante uma viagem de férias. Isso parece o começo de uma história de amor, não é? Não é o que a autora Kate Eberlen acha. Tess e Angus apenas topam um com o outro e continuam com suas vidas. Esse é o grande suspense de O primeiro dia do resto da nossa vida. Se você já leu Simplesmente acontece, de Cecelia Ahern, vai entender melhor a ideia desse mistério: acompanhamos dois personagens que têm tudo para formar um casal mas que, por conta do destino, não conseguem se encontrar.

A história começa em 1998 e termina em 2013. São quinze anos com muitos altos e baixos. Tess volta da viagem da Itália pronta para começar sua vida acadêmica, mas sua mãe está muito doente. Como se não bastasse isso, os planos para a universidade são deixados de lado quando ela percebe que é a única pessoa que poderá cuidar da irmãzinha de quatro anos.

Angus também está ansioso pela vida acadêmica, mas por motivos bem diferentes. Recentemente ele perdeu o irmão mais velho, o irmão que era o orgulho da família e que rivalizava com ele em todas as situações. Uma dinâmica meio irmão perfeito contra irmão que só decepciona. Por isso o relacionamento de Angus com os pais não é dos melhores, e tudo o que ele mais precisa é ficar longe das duas pessoas que se sentem tão desapontadas com ele.

Os anos vão passando, e Tess e Angus vão levando uma vida triste e difícil. O sentimento que fica por boa parte da leitura é de tristeza. Mais do que uma história de amor, o livro fala do amor próprio, de conseguir andar com as próprias pernas e superar aqueles momentos em que nada parece dar certo. Tess vê seus planos afundarem quando precisa lidar com problemas que não eram dela, e se vê sozinha. Angus toma decisões erradas porque não consegue lidar com suas próprias questões.

Sabe quando você lê uma história de amor, os protagonistas até se encontram mas eles precisam resolver suas pendências para que possam ficar juntos, e todo um passado mal resolvido é um empecilho que eles precisam (e geralmente conseguem) resolver logo? O primeiro dia do resto da nossa vida é a história desse passado mal resolvido e não do casal já estabelecido. Se você é desses leitores ansiosos por aproveitar os momentos bonitos de um relacionamento, você também vai se angustiar. Tess e Angus vivem histórias distintas, longe um do outro, e ao longo do livro eu cheguei a me perguntar se eles chegariam a se encontrar novamente.

Por isso, acho que eu não torci muito para eles ficarem juntos, o que eu desejei mais do que tudo foi que eles resolvessem seus muitos problemas. Ambos tinham que lidar com um pessoal bem complicado. Os personagens que os rodeiam só me fizeram gostar mais do casal principal. Eram figuras mesquinhas e egoístas, na maior parte do tempo. Se eu torci um pouco por Angus e Tess foi porque os dois eram os únicos que mereciam um final feliz.

E o final feliz é o mistério do livro. Eles ficam juntos ou nunca se encontram? Em vários momentos da história eles quase se esbarram: no casamento da irmã da namorada do Angus, Tess está acompanhando o namorado, que é o DJ da festa; numa fila de compra de natal Angus vê Tess sem saber quem ela é. O que fica claro logo que a leitura começa é que o encontro dos dois só pode acontecer em um momento: no final. O que mais me instigou foi tanto saber se isso vai acontecer, quanto imaginar e elaborar, ao longo da leitura, maneiras de realizar esse encontro.

Se você busca um livro triste, mas que não vai te fazer chorar, acho que O primeiro dia do resto da nossa vida é a escolha perfeita. Emoção na medida certa, com várias pequenas sacadas que impedem que a leitura seja mais do mesmo.

Z, a cidade perdida

 

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O coronel Percy Fawcett é um daqueles personagens míticos que povoam histórias de aventura. Um explorador ousado e corajoso, com muitos feitos no currículo, sua maior proeza foi ter sido, como ele mesmo dizia, “consagrado com um porte físico perfeito”. A melhor parte de tudo isso é que ele não precisou ser inventado: Fawcett nasceu na Inglaterra e viveu no início do século XX, deixando um bom rastro de informações que o jornalista David Grann perseguiu e registrou em seu livro: Z, a cidade perdida.

O livro foi lançado no Brasil em 2009, onze anos depois de, por exemplo, Na natureza selvagem de Jon Krakauer. Os dois livros-reportagem falam de pessoas que atravessam a natureza em uma busca maníaca por algo impalpável, mas diferente do livro de Krakauer, que fez um sucesso tremendo, de Z, a cidade perdida se falou muito pouco. Com uma capa linda e com uma história hipnotizante é difícil entender por que isso aconteceu. Admito que o livro ficou parado aqui em casa por anos, e se não fosse minha meta de leitura eu não teria chegado a ele tão cedo. Mas é para isso que metas de leituras existem, não? Para fazer a fila que está parada há anos finalmente andar e a gente se surpreender com livros ótimos.

A cidade perdida de Z foi nomeada assim por Percy Fawcett depois de algumas aventuras pela Amazônia. Ele acreditava estar nos rastros de uma civilização desaparecida na selva, e a essa busca dedicou sua vida. O que Fawcett quer encontrar em Z se assemelha a um Eldorado, um lugar cheio de riquezas e oportunidades na América do Sul, o oposto da Inglaterra do começo do século XX. Pensando assim não parece tão disparatada  a ideia de  um explorador querer ser o primeiro a encontrar uma cidade perdida, se embrenhando em lugares perigosos e inóspitos, porque a recompensa seria muito grande, e a vida andava difícil.

Em Z David Grann não deixa de contar um lado menos romântico de uma vida de aventuras. Com uma família para sustentar, Percy Fawcett estava sempre na miséria. A pobreza dos Fawcett era desesperadora e começou por causa das expedições. Ao mesmo tempo, a esperança de uma grande descoberta era também a esperança de tirar a família da miséria. Então surgiu Z.

Um dos nomes mais conhecidos em sua época, Fawcett se tornou famoso por ser o explorador que conseguia superar as grandes adversidades das florestas da América do Sul, onde os maiores inimigos dos humanos não eram predadores famintos mas insetos transmissores de graves doenças. A fama surgiu quando muitas expedições não voltavam ou quando seus integrantes retornavam doentes e à beira da morte. No meio deles, Fawcett parecia ter o corpo fechado. Ninguém melhor que ele para encarar os maiores desafios. Pesquisando referências antigas, Fawcett achou as anotações de um bandeirante que encontrara artefatos valiosos e complexos no meio da Amazônia. Assim foi lançada a semente da obsessão de Fawcett. Em 1925, aos 58 anos, com seu filho Jack e o amigo dele, Raleigh Rimmell, o explorador inglês pegou um navio em direção ao Brasil.

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É nessa hora que David Grann conta a história de uma outra obsessão: a do público pelo paradeiro de Fawcett. Afinal, o homem se perdeu enquanto procurava a cidade perdida. Grann retraça diversas teorias e ouve várias fontes a respeito do suposto destino final de Fawcett. Mas os muitos anos não trouxeram respostas concretas. Em 1926 Fawcett foi visto oficialmente pela última vez, já embrenhado na floresta, e o resto virou lenda. Z, a cidade perdida trata também dessa lenda. Até para que Fawcett pudesse arrecadar dinheiro para a expedição, já antes da partida houve furor exacerbado: era uma época em que o “exotismo” das Américas fascinava a imaginação europeia. Quando os três exploradores sumiram na floresta onde muitas tribos sequer tinham contato com o homem branco, especulou-se de tudo: o inglês havia encontrado a cidade perdida e decidira não sair de lá, os índios haviam-no matado, ele havia se apaixonado por uma  índia e construído família brasileira, ele morreu de fome ou de picada de mosquitos.

Um mérito de Grann é jogar um pouco de realismo sobre mais de oitenta anos de incertezas. Fawcett, nas inúmeras viagens que fez pela América do Sul, fez contato com várias tribos indígenas. Para começar qualquer contato, o inglês chegava desarmado e com as mãos para cima. Fawcett acreditava que essa abordagem – suicida para alguns, como relata Grann – era a melhor forma de conseguir a amizade dos índios. Assim ele se virou por anos. A hipótese tratada com mais ênfase em Z, a cidade perdida é a de que, numa terra com leis que Fawcett compreendia de forma rudimentar, uma hora a sorte dele acabou.

A obsessão de Fawcett por Z e a obsessão das pessoas por Fawcett é compreensível. Diante da falta de resposta, somos capazes de imaginar e supor as situações mais fantasiosas. Teóricos da conspiração e caçadores de OVNIS são prova disso. Por que seria diferente com uma cidade perdida? Como não sonhar com uma Machu Picchu no meio da Floresta Amazônica, com tesouros e estruturas que mostram que uma sociedade altamente desenvolvida viveu ali muito antes de os europeus desembarcarem? Mas o grande mérito de David Grann é levar Z a sério. Fawcett pode nunca ter achado seu Eldorado porque se convenceu de que uma sociedade complexa, ali no meio do mato, só poderia surgir de ancestrais europeus e se desenvolver de formas parecidas com aquelas que ele havia estudado e sob as quais havia crescido.

A reviravolta fascinante que Grann oferece em Z, ouvindo especialistas e consultando a literatura científica que trata das sociedades amazônicas, mostra que os índios que ali viveram antes da chegada dos europeus formaram, de fato, uma sociedade desenvolvida e complexa, com pequenas pontes e estradas, diferente do que boa parte das ciências humanas imaginou durante o século XX. Z estava lá, mas Fawcett não conseguiria encontrá-la. Povos amazônicos construíram grandes estruturas no meio da mata, mas o que havia de grandioso nelas era a forma como ajudavam o ser humano a sobreviver num ambiente hostil como o da floresta. Seus materiais não eram o ouro e a prata, que Fawcett esperava encontrar, mas palha, barro e matéria orgânica. O tempo e a mortandade ocasionada pela chegada do europeu levaram quase tudo.

Z existiu, talvez não com a opulência que Fawcett desejava, mas os rastros ainda estão na Amazônia para provar que uma civilização existiu e quase foi extinta, mas ainda sobrevive em um pequeno número de descendentes. David Grnan esteve entre eles quando visitou o Brasil para escrever seu livro. “Havia mil anos que os xinguanos mantinham as tradições artísticas e culturais daquela civilização avançada e altamente estruturada”, ele afirma em uma das passagens finais de Z.

Um filme baseado no livro-reportagem, com produção de Brad Pitt, está para ser lançado e eu torço para que, na esteira do sucesso dele, mais pessoas encontrem esse livro excelente. Mais do que a história de um explorador inglês obcecado por uma cidade perdida, o livro trata de um povo que demorou muito tempo a ser descoberto em seus próprios termos.

Depois da última dança

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Terminada a leitura de Depois da última dança, meu pensamento foi o seguinte: por que eu demoro tanto a começar livros como este? A resposta é simples. Eu gosto muito de romances que se passam nas décadas de 1940 ou 1950. Consigo lembrar de vários que favoritei ou que me marcaram, mas sempre me enrolo para lê-los. É que quando eu penso na quantidade de sofrimento que essas protagonistas terão que suportar eu vou lá e adio mais um pouquinho, sempre com a ideia de que hoje não é um bom dia para sofrer tanto com uma leitura. Para minha sorte, eu comecei Depois da última dança sem saber do que ele tratava. Aliás, eu me contentei em saber que o livro era de Sarra Manning, fechei os olhos e me deixei levar.

Minhas experiências de leitura com os livros de Manning vão de “amei muito, muito mesmo” a “chega, já posso abandonar aqui na página dez”. A parte boa disso é que  ela se aventura em gêneros bem diferentes, então sempre sinto que posso encontrar uma surpresa. A estrutura de Depois da última dança lembra a de alguns livros da Jojo Moyes. Posso dizer que se você gostou, por exemplo, de A garota que você deixou para trás, o novo de Manning foi feito para você.

Já na abertura do livro a autora explica que, desde que ouviu falar do Rainbow Corner, ela sabia que escreveria um livro a respeito desse lugar e de sua importância histórica. Eu dei um google e descobri que o Rainbow Corner foi uma espécie de clube (salão de dança, digamos) que existiu durante a segunda guerra, para os soldados americanos se divertirem em seus dias e noites de folga em Londres. A imagem que  Sarra Manning nos passa é a de um lugar com uma energia vibrante, onde os jovens se divertem, tomam coca-cola e comem donuts. Um lugar que os permite esquecer, ainda que por alguns momentos, que estão vivendo as dificuldades de uma guerra.

Já pensando nas aventuras do Rainbow Corner, Rose chega a Londres em 1942. Depois de fugir de casa tudo o que ela quer é estar ali. Claro que no meio do caminho ela vai passar por maus bocados. Isso fica evidente assim que ela chega na cidade, com apenas dezessete anos, e é recebida na estação de trem por dois soldados americanos que a levam direto para o lugar que ela quer conhecer. Calma, não vou dar nenhum spoiler, mas adianto que o suspense é bem enlouquecedor. Ela se apaixona, faz amizades leais, se diverte muito no Rainbow Corner, sofre algumas desilusões e perdas, amadurece. Os capítulos dela são os melhores. Numa espécie de história interligada, os outros capítulos se concentram em Jane e Leo. Eles se conhecem nos dias atuais (não parece um livro da Jojo Moyes?), e são duas pessoas opostas em tudo. Leo é um cara que gasta seus dias sem se preocupar com nada, cheirando cocaína e bebendo muito. Jane passou por situações muito difíceis quando era jovem, e por isso ela já planejou bem a vida: quer casar com alguém que não a faça mal e que tenha uma boa vida financeira. Depois de três anos namorando ela achou que tinha conseguido tudo o que planejou, mas seus planos vão pelo ralo quando o noivo fica sem dinheiro. Vestida de noiva em um bar de Las Vegas ela conhece Leo, e de repente os dois estão mais ligados do que nunca. Ele precisa de uma pessoa que dê conta de sua fragilidade, e que o tire de uma inércia paralisante, mas Jane parece ser a pessoa mais sem coração do mundo. Será que um vai conseguir ajudar o outro?

Claro que a história dos dois vai ter conexão com a de Rose, mas contar mais do que isso é estragar a surpresa da leitura. Não há grandes reviravoltas, mas mesmo assim a trama me surpreendeu em alguns momentos, e por isso acho que vale a pena chegar ao livro sem saber muita coisa de antemão.

Imagino que nem todos entendam o fascínio exercido por uma história passada na década de 1940 (eu mesma tenho uma implicância com a década de 1920 e aqueles chapéus, laços e cabelinhos à altura da orelha), mas para mim os 1940 têm um magnetismo indescritível. Não importa qual seja o autor, eu sempre vou querer acompanhar a história de uma jovem vivendo em uma cidade grande enquanto tantos acontecimentos cruciais se desenrolam. Nesse sentido, a Rose de Sarra Manning foi uma ótima protagonista, mesmo que o fim não tenha me satisfeito completamente.

Foi por isso que eu não marquei Depois da última dança como favorito. Quando achei que a história se encorparia ainda mais, o livro acabou. Jane e Leo eram importantes, mas eu não me importaria em ver menos deles para ter mais de Rose e seu tempo. O par romântico de Rose, uma das questões mais importantes da trama,  infelizmente não teve o número de páginas que eu esperava. Lendo os agradecimentos vi que a editora de Manning cortou milhares de palavras do rascunho inicial. Eu quero essas páginas! Dona editora da Sarra Manning, a senhora errou muito feio.

Mesmo assim, como não indicar esse Depois da última dança? Chorei e terminei querendo que o livro tivesse o dobro do tamanho. É a mistura perfeita de tristeza e fofura.