Uma lista para quem quer ter um caso de amor com o Japão

Ano passado foi o ano do Japão e dos animes para mim. Foram muitos filmes e séries com aquele olhar especial e delicado dos japoneses. Acho que todo mundo que dá uma chance aos animes não consegue mais se desprender e, para te ajudar nisso, se você está com vontade de dar essa chance, eu escolhi alguns animes comoventes e capazes de encantar qualquer tipo de gente. Se você conhece bem tudo o que vem do Japão talvez ache a lista bem óbvia, mas calma: estamos apenas começando.

Crianças Lobo – Wolf children

wolf children

A história é linda e fala sobre o amor, principalmente o amor de uma mãe. Hana se apaixona por um homem que se transforma em lobisomem. O sentimento é recíproco, eles casam e têm filhos. Uma complicação é que os filhos também herdaram a condição do pai: ora são crianças fofas, ora lobinhos inquietos. Os problemas começam quando Hana se vê sozinha cuidando de suas duas crianças com necessidades que ela não compreende. A jornada dessa família é incrível, e muito mais profunda do que a premissa pode fazer parecer.

Koe no katachi – A silent voice

a silent voice

Shouko Nishimiya é uma menina que sofreu bullying por ter uma deficiência auditiva. Depois de alguns anos ela reencontra o garoto que mais a atacava na escola e uma amizade surge. O filme é delicado e trata de questões sérias do jeito que só os japoneses conseguem: com sutileza nos momentos pesados e pouco sentimentalismo.

A garota que conquistou o tempo – Toki o kakeru shôjo

a garota que conquistou o tempo

Um dos temas preferidos dos japoneses: o tempo. Makoto Konno é uma garota cheia de energia que vive atrasada. Um dia ela descobre que tem o poder de viajar no tempo. Com essa capacidade em mãos, ela usa e abusa do recurso, até que, claro, as coisas começam a sair de seu controle. Filme fofo com romance para ninguém reclamar.

Cinco centímetros por segundo – Byôsoku 5 senchimêtoru

5 centimetros por segundo

O filme é dividido em três partes, todas sobre o relacionamento de Takaki e Akari. Eles sempre foram muito próximos um do outro, mas o destino os afasta quando Akari precisa se mudar para outra cidade. Será que eles se reencontram? Ficam juntos? O legal das animações japonesas é que a expectativa de alguém que se acostumou com o cinema americano pode ser quebrada sem qualquer aviso prévio.

Sussurros do coração – Mimi wo sumaseba

sussurros do coração

O filme mais antigo da lista (1995) é também o mais fofo. A história é sobre a vida de Shizuku e sobre os desencontros e problemas de uma jovem. Shizuku se apaixona por um menino que ela não conhece, mas que já havia lido todos os livros que ela decide pegar na biblioteca. Sempre que ela vai pegar algum emprestado, o nome dele está lá marcado na fichinha. Shizuku é indecisa e curiosa, e isso às vezes traz problemas e às vezes a ajuda. Eu te desafio a ver esse filme e não se apaixonar pela música Take me home, Country Roads cantada em japonês.

Kimi no na wa – Your name

kimi no na wa

Por último o anime mais especial para mim. O único com texto no blog. A história de amor mais encantadora e graciosa que você vai ver. Um dia ele acorda e lembra que sonhou com ela, e ela sonha que viveu na pele dele. Eles vivem em cidades diferentes e não se conhecem. Um cometa passa e as coisas começam a fazer um pouco de sentido. Ai, o amor é lindo.

Kimi no Na wa.

kimi no na wa

Eu estou apaixonada pelo Japão. Acho que isso ia acabar acontecendo. Sem muito alarde, e já faz tempo, o Japão é o segundo maior polo exportador de cultura pop do mundo. Nos últimos tempos coincidiu de eu assistir a vários bons filmes japoneses e ouvir uma banda japonesa, a Galneryus, e pronto: kawaii pra tudo que é lado. Eu vi Kimi no Na wa. no último fim de semana, logo depois de uma overdose de uma música só: “Destiny”. Foi a gota que faltava.

Kimi no Na wa. – que também tem um título mais fácil: Your name. – é um filme perfeito. Tem aventura, romance e é visualmente lindo. É difícil falar do anime sem esbarrar em spoilers. Mitsuba vive no interior do Japão. Ela tem uma rotina simples: vai para a escola, vive com a avó e a irmãzinha e sonha em morar em Tóquio. Taki é o jovem que parece ter a vida que Mitsuba quer: ele mora na capital, é universitário e trabalha como garçom em um restaurante. Os dois não se conhecem, mas por conta do destino suas vidas acabam entrelaçadas. De um jeito inexplicado, eles acordam um no corpo do outro pelos menos duas vezes por semana. Daí um passa pelo que o outro passaria, só para acordar como se nada tivesse acontecido no dia seguinte. Isso dura alguns meses, até que, do nada, para de acontecer e Taki decide ir atrás de Mitsuba para investigar o que houve, e também para conhecer a garota que faz parte dos seus pensamentos.

O ponto de partida é meio juvenil, mas isso não quer dizer nada. Os japoneses são especialistas em conseguir transformar temas que são típicos da juventude em objeto de reflexão mais profunda. É só ver qualquer história (no anime, no mangá) que pareça ser “menina conhece menino” para notar que isso será só o começo de uma aventura mais complexa: no mínimo os personagens serão excêntricos, com atitudes extravagantes vivendo em um mundo bizarro. Isso é muito empolgante. Kimi no Na wa. não chega a ter uma história de amor atípica, mas ele tem muito mais facetas que uma história de amor de um filme americano com os mesmos temas.

Kimi no Na wa. é apaixonante. As cores são usadas de um jeito ridiculamente bonito, são como uma explosão linda na nossa cara. Cada frame é uma pintura. Os protagonistas são cativantes e a história se desenrola de um jeito contagiante. Eles se detestam, eles se amam, eles não entendem o que está acontecendo, eles lutam para arrumar a bagunça, eles querem ficar juntos, eles  não sabem se vão ficar juntos, eles se apaixonam mesmo sem se conhecer. É uma história arrebatadora para ficar para sempre na minha memória. Eu amei. Acho que este blog corre o sério risco de ficar monotemático, acho que eu corro o risco de virar otaku depois de velha.

Tonari no Kaibutsu-kun: Meu primeiro shoujo

Tonari no Kaibutsu-kun foi meu primeiro anime shoujo. Sempre quis ler um mangá shoujo, mas eu acavaba empurrando pra depois, e assim faço até hoje. Aí, algumas semanas atrás, vi na Netflix um anime que parecia com as coisas que eu queria ler e pensei: pronto, vou começar por aqui. Acho que comecei muito bem, não tenho ideia de como os outros animes são, mas este foi especial. Era tudo o que eu queria numa história e não sabia.

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Shizuku é a protagonista, sem amigos, fechada, e que se preocupa apenas com suas notas. O outro protagonista é Haru, um menino com uma personalidade bem diferente, que parou de ir à escola depois de muitas brigas com outros alunos. Shizuku é interpelada por uma professora para levar algumas tarefas escolares para Haru. Assim começa a história entre os dois, que é o centro do anime.

Haru é realmente muito diferente. Rapidamente ele se fascina por Shizuku e se diz apaixonado. Ele sente que ela é uma amiga de verdade, o que parece ser novidade para ele. Isso acaba sendo o suficiente para ele voltar para escola, e então outros personagens importantes surgem. Natsume é uma menina muito bonita, mas solitária, e sua beleza sempre a afastou tanto das amigas quanto dos meninos que não conseguem se comportar normalmente perto dela. Mas perto de Shizuku (que só tem olhos para o estudo e não se preocupa com rivalidade entre meninas) e Haru (que só tem olhos para Shizuku), Natsume consegue finalmente se sentir à vontade. Outra personagem solitária é Chizuru, a menina tímida e ansiosa que não consegue se relacionar com as pessoas.

Duas coisas me fizeram gostar muito do anime. O relacionamento de Shizuku com Haru e o relacionamento de todos no grupo. Senti que o ponto principal era a solidão. Todos os personagens – cada um de um jeito – eram solitários.  Shizuku é solitária, mas não parece se incomodar com isso. Ela cresceu sem a mãe por perto, apenas com o pai, e seu único objetivo sempre foi estudar muito. Viver desconectada, mesmo  que por opção, acabou fazendo dela uma pessoa bem mal-humorada, com pouca tolerância para pessoas frágeis.

Haru também é solitário, mas acho que no caso dele é mais fácil de explicar. A personalidade de Haru vai além dos meninos bad boys. Ele parece ter dez anos de idade em alguns momentos. E suas atitudes se encaixam com alguém com um leve grau de autismo. Não entendo dessas coisas, e isso é só um chute, mas acho que pensando assim fica mais fácil de entender o personagem. Na história fica bem claro que ele se expressa através de brigas por não entender isso como algo errado. Ele sempre diz coisas inadequadas sem ter a intenção. Shizuku precisa  trazê-lo à realidade, como quem diz “viu, isso é errado”. 

O anime é baseado no mangá de doze edições normais e uma especial. Não sei até que ponto a produção para tevê é fiel ao mangá, e parece que o anime não teve um final de verdade. Só fui descobrir isso depois de ver todos os capítulos, mas mesmo assim eu não consegui sentir que faltou um final. Acho que o final casou totalmente com o que a história queria passar. E cuidado, vou jogar o spoiler agora. 

Em todo momento, a solidão era uma questão importante. Shizuku, Haru, Natsume e Chizuru. Mesmo nunca tendo ido ao Japão, percebi que esse tema é recorrente em alguns filmes e na cultura popular urbana japonesa. Parece que o jovem de lá se sente mais solitário do que a maioria dos outros jovens, que já são bem solitários. Por isso, senti que esse tema foi tratado com bastante sensibilidade no anime. Mesmo com personagens tão jovens, a mensagem é passada de forma bem madura. Foi isso, principalmente, que fez com que eu, alguém que nunca tinha visto um anime shoujo, conseguisse entrar na história e tentar compreender os temas e personagens. 

No fim, não dá pra saber se Haru e Shizuku ficam mesmo juntos. Pode ser que esse final tenha ficado assim porque eles esperavam ter outra temporada, mas para mim foi perfeito. Shizuku descobriu que quando alguém é gentil com você, fica impossível tirá-lo da sua vida. E que a solidão nem sempre é boa. O fim foi como uma promessa de que todas as aventuras que todos passaram juntos vão continuar talvez para sempre.