Um mês de muitas listas: meus melhores filmes de 2016

Chegou a época do ano que eu menos gosto. Mas admito que tenho feito progressos: para mim, de agora em diante dezembro será o mês das listas. Montei três: os melhores livros, os melhores filmes vistos em 2016 e as séries mais legais. E sob que critérios? Sei lá, são as melhores coisas que passaram pela minha mão de janeiro a dezembro. A gema, o crème de la crème.

No post de hoje eu começo a listar os filmes. Veja bem: eles não foram necessariamente lançados em 2016 e, para falar a verdade, a maioria não é nem muito recente. Escolhi doze filmes (um para cada mês), mas para não deixar o post muito longo decidi dividi-lo em duas partes.

Selecionar não foi uma tarefa difícil. Isso porque eu vi muito, mas muito filme ruim. Foram muitas bombas para cada acerto, e  acho que uma dezena de bombas para cada filme ótimo e marcante. O mais estranho é que há, na lista dos filmes de que eu mais gostei, só um com resenha aqui no blog. O que isso significa? Que eu só tenho  disposição para escrever a respeito daquilo que me desagrada?  Não, dizer isso seria maldade. Sem mais delongas, e assim como o Faustão, vamos aos Melhores do Ano.

Nossa irmã mais nova – Umimachi Diary

O único filme da lista resenhado aqui no blog é também o mais gracioso. É pacato e não tem lances mirabolantes. Trata da vida de quatro irmãs, três que cresceram juntas e uma que é fruto de outro relacionamento do pai delas. Elas precisam aprender a conviver. O relacionamento é contado de forma muito delicada, e sem nenhum grande drama. Umimachi Diary é muito discreto. O que me deixou apaixonada foram as escolhas: sempre as menos comuns, menos diretamente dramáticas, e aí por isso as mais verossímeis.

Tangerine

Eu ouvi falar de Tangerine no fim do ano passado como aquele filme feito apenas com câmeras de iPhone 5. Isso poderia ser só um truquezinho numa produção sem substância, mas já no começo o aspecto técnico vai para segundo plano, até porque a mobilidade que o celular possibilita serve muito à história que se está contando. E é uma história excelente: duas mulheres trans, garotas de programa, andam pelas ruas de Los  Angeles num dia ensolarado. Uma delas está decidida a acertar contas com o namorado, que ao que tudo indica é infiel. O mais legal é que Tangerine estava mesmo disposto a discutir e jogar uma luz sobre os temas que interessam a quem é trans, ou a qualquer um que seja excluído. É um pouco cansativo topar com produções que usam a diversidade como elemento decorativo, sem nunca dar espaço de verdade para que aquele pessoal pouco representado seja visto com complexidade. Nesse sentido, Tangerine é um filme obrigatório. Seria importante só por causa de seu tema, mas também é um filme sobre as ilusões em que a gente decide acreditar, sobre a amizade. E é um filme de jornada. Uma das cenas mais lindas surge quando uma das garotas paga para cantar em um bar vazio. O momento é bonito e triste. Acrescente-se a isso o pôr do sol nas ruas de Los Angeles. Lindo.

Victoria

Este me prendeu do início ao fim. Não acho que fazer o tempo voar seja um critério para estabelecer se algo é ruim ou bom. Acho que quando isso acontece, o que fica em evidência é o nosso gosto ou nosso ritmo. Já me aconteceu mais de uma vez de ir ao cinema, me encantar, sair bem satisfeita e aí, aos poucos, ir percebendo que o que eu havia visto não aguentava umas duas ou três perguntas. Fiquei pensando muito nisso quando assisti a Victoria, porque o longa é ligado no 220 (e foi filmado em um único plano-sequência) e ainda assim a impressão dele ficou em mim por muitos dias. O filme todo acontece em uma noite, e isso por si só já é extremamente sedutor para mim. Eu gosto muito de histórias que acontecem em uma madrugada ou em um dia. Mas Victoria é empolgante por conseguir realizar um monte de  situações com uma trama simples. Uma garota espanhola que está vivendo na Alemanha conhece um grupo de caras e passa a noite se divertindo com eles pelas ruas da cidade. Em uma transição suave, ela deixa de apenas brincar nas ruas em uma madrugada e se vê envolvida em um assalto que parece pronto para dar errado. O filme termina na manhã do outro dia, e eu fiquei tão envolvida que me peguei com aquela sensação de passar a noite em claro e encontrar o comecinho da manhã, mas aqui em casa ainda era meia-noite.

Um clarão nas trevas – Wait until dark

Um suspense com a Audrey Hepburn. Eu não sei por que demorei tanto para assistir. Hepburn está cega, mas a condição é recente e ela ainda não se acostumou a viver na escuridão. Sozinha em casa, ela se vê à mercê de três homens inescrupulosos que vão fazer de tudo para recuperar um objeto cheio de heroína. O suspense é praticamente todo elaborado em um pequeno ambiente: a casa minúscula da protagonista. Não fiquei com medo, mas me sentei na ponta do sofá muitas vezes. O terceiro ato do filme me fez esquecer que ele era de 1967, de tão atual que o suspense parecia. Tenso

Para o outro lado – Kishibe no tabi

Acho que posso dizer que, de todos os filmes desta lista, este é o meu favorito. Um homem que estava sumido há três anos volta para sua mulher e juntos eles vivem uma jornada delicada e surreal. A sensação que mais ficou foi de inquietação. Acho muito difícil um filme tratar da morte sem cair na pieguice, mas Para o outro lado passa longe do sentimento barato enquanto retrata uma história linda sobre a morte. E ele vai bem numas coisas que todo mundo que já perdeu alguém reconhece: uns detalhes da vida íntima, as marcas que o corpo da gente deixa nas coisas, os objetos e os gostos de uma pessoa que morreu, e o mundo seguindo seu curso sem ela. É como se ele tivesse conseguido filmar o vazio que uma pessoa deixa, sem precisar colocar o sentimento em palavras. Parece que este filme não é um dos melhores do diretor Kiyoshi Kurosawa, e isso só me deixa empolgada para ver mais filmes dele.

Deus da Carnificina – Carnage

Não sou muito fã do Roman Polanski, e o motivo nem é só a polêmica do estupro cometido por ele em uma menina de treze anos na década de setenta. Apenas não gosto de seus filmes. Deus da Carnificina é o primeiro que me agrada. Sempre me empolguei com tramas de muitos diálogos e poucos cenários. Deus da Carnificina se passa o tempo todo no apartamento de um casal que recebe os pais do menino que bateu no filho deles. Quatro pessoas de classe média alta, muito civilizadas, que precisam resolver a questão dos filhos. Não demora muito e  a cortesia começa a ser desmontada, e o que eles pensam uns dos outros começa a vir à tona. Os problemas não ficam reduzidos ao embate dos casais, até marido e mulher discutem enquanto o véu da civilidade vai caindo. A desunião acontece de forma lenta, mas depois que ela aparece só o que fica é o caos. É um filme bem pessimista e meio cínico.

Eu já volto com outros seis filmes.

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