O primeiro último beijo

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Quando eu era adolescente fiquei obcecada por comédias românticas. Agora, ainda procuro ver os lançamentos que parecem interessantes, mas tem sido muito raro conseguir achar num filme os elementos que eu quero. Na adolescência eu também lia bastante, mas não exatamente os livros equivalentes às comédias românticas que eu adorava, porque não era muito fácil encontrá-los. Eu achava os romances de banca tipo Júlia e Sabrina – e os devorava – mas demorei a encontrar esse tipo de livro que hoje eu vejo direto por aí: o que parece chick-lit, mas é mais sério do que isso, e às vezes engana que é comédia romântica, mas faz a gente chorar. Já devem ter batizado esse sub-gênero, e se alguém souber qual é o termo, pode me avisar. Eu só sei que ele é dominado por autoras do Reino Unido e da Irlanda, e que em pouco tempo virou um dos meus preferidos.

Procurando esses livros, encontrei O primeiro último beijo, da inglesa Ali Harris, lançado pela Verus, com tradução de Sandra Martha Dolinsky. Gostei, chorei, mas preciso dizer que, se você não tem intimidade com esse sub-gênero e ainda não leu Jojo Moyes ou mesmo a Marian Keyes, vale mais a pena começar por elas. Quando eu já não tinha mais o que ler dessas duas, encontrei os dois livros da Mhairi McFarlane lançados no Brasil, Desde o primeiro instante e Amor à segunda vista; Uma curva no tempo, da Dani Atkins; Sempre foi você, da Carrie Elks; e dois que ainda não foram lançados por aqui, mas são muito bons: Estarás sempre comigo, da Anna McPartlin, que eu li numa versão portuguesa da Editora Quinta Essência e You don’t have to say you love me, da Sarra Manning. Assim como acontece em O primeiro último beijo, esses livros têm uma protagonista que está pelo fim dos 20 anos ou no início dos 30. Todos têm em comum essa ideia de entreter, mas acima de tudo emocionar, por isso fogem do chick-lit típico – aquele modelo de chick-lit da Becky Bloom etc.

O primeiro último beijo é contado de forma não-linear, e começa com a protagonista, Molly, sozinha, encaixotando seus pertences para uma mudança. Parece que ela e o marido, Ryan, estão separados, e ela está se preparando para ir embora. Os capítulos mostram, alternadamente, várias épocas que eles passaram juntos: o primeiro beijo, o primeiro encontro, a primeira briga, a primeira separação, o primeiro reencontro e por aí vai. Ryan e Molly são de uma cidade pequena na Inglaterra e, a princípio, não têm muito em comum. Ela é filha única e seus pais parecem ser distantes e rigorosos, a única amiga que tem, Casey, é diferente das outras meninas, e juntas elas são inseparáveis. Molly sonha com a hora de  conhecer o mundo e viver em uma grande metrópole, por isso não se imagina presa a um relacionamento sério. Já Ryan é o menino popular e bonito da escola. Ele tem uma família amorosa, quer casar, e ama a cidade e seus amigos. Mesmo com objetivos e gostos diferentes, os dois se apaixonam. Claro, o casal vai precisar lidar com todas as diferenças e isso toma grande parte do livro. Mas Ali Harris não relata só as agruras da relação amorosa. Ela elabora emocionalmente o relacionamento de Molly com Casey, com os pais, com pessoas que aparecem e deixam marcas na vida da protagonista. É como um diário muito bem escrito e bastante detalhado, que dura uns 30 anos.

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Pra quem não conhece, este é o Umbreon

Apesar disso, O primeiro último beijo não vai ser um dos meus preferidos nesse sub-gênero que me deixou meio obcecada. Começa excessivamente esquemático. Por ser contado em trechinhos, e por já começar com Molly e Ryan juntos há algum tempo, eu demorei a me interessar pelos personagens que ia conhecendo. Mas aí a mágica aconteceu, eu fiquei vendida, totalmente amarrada ao desenrolar da trama. Lá pela metade tem uma reviravolta que me fez ter certeza de que eu ia sofrer. Só que eu fiquei desconfiada e acabei descobrindo cedo o que era pra ser descoberto quase no fim, e por isso, cheguei às últimas páginas já com o entusiasmo em baixa.

Molly e Ryan são bons personagens, mas mesmo assim, senti que faltou um pouco de profundidade para ele. Ele se parece bastante com alguns tipos masculinos que eu já vi em muitas comédias românticas. Bonito, boa pessoa, mas de certa maneira inacessível emocionalmente. Não por ser enigmático, mas porque ele não teve complexidade suficiente para parecer real. Isso me incomodou durante toda a leitura, mas mesmo assim, como uma boa fã de comédias românticas, fui levada pela apelação emocional, e chorei. Chorei muito. O que eu achei muito ruim, porque me senti usada. Chorei quando não queria chorar, por algo talvez um pouco apelativo, muito apegado a uma fórmula que eu já conheço de outras leituras. Mas acho que meu objetivo era esse mesmo. A primeira frase que eu disse ao terminar a leitura foi “Estou acabada”. Perfeito.

2 comentários sobre “O primeiro último beijo

  1. oleitorcomum disse:

    Guria, senti como se estivesse de novo te visitando e conversando sobre livros. O Felipe já tinha me falado desse sub-gênero, mas nunca tinha ouvido (ou lido) isso diretamente de você. Vida longa ao blog. Vou seguir lendo. (Vou pular o texto da Tartt pra terminar antes o livro.)

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