Juvenília – Jane Austen e Charlotte Brontë

Juvenília da Penguin

Juvenília da Penguin

Antes de falar da Jane Austen ou da Charlotte Brontë, preciso dizer que este livro é lindo. Eu até gosto de livros sem orelha, não dá pra negar que têm um certo charme. Mas, esquecendo o fato de que o volume é bonito, achei que a edição deixou a desejar. Eu li, e vi que a organizadora não é brasileira, a Penguin apenas traduziu. Parece que primeiramente esta Juvenília foi publicada na década de 80. Trata-se de uma coleção de textos iniciais das duas autoras, cada uma em seu espaço, reunidos num só volume. Tudo bem, eu sei que antes era mais complicado, mas poxa organizadora, você precisa mexer tanto assim no trabalho das duas meninas (elas eram meninas na época, não podemos esquecer)?. Frances Beer – a organizadora – diz: “Mudei pouca coisa nos textos de Austen; já nos de Brontë, às vezes me senti obrigada a tomar medidas que são sem dúvida extremas”. Isso já me deixou encucada, afinal, mexer em uns travessões e colchetes por mais invasivo que seja, não pode ser chamado de “medidas extremas”. Então leio isso: “a retirada (…) de exemplos ocasionais de verbosidade que distraem e cuja única função parece ser impedir o progresso da história”.

A organizadora mastigando tudo para a gente

A organizadora mastigando tudo para a gente

Aí chega. Para mim, a única pessoa impedindo o progresso da história é você, dona organizadora.

Isso me deixou tão chateada que meio que brochou a leitura para mim. Principalmente na parte da Charlotte Brontë. Seria melhor ser ignorante sobre isso, antes ela não tivesse contado nada. Mas passado o trauma, tenho que dizer que isso não diminuiu a importância do texto das autoras, que eram apenas meninas quando escreveram tudo o que há nessa Juvenília.

Impossível não amar

Brontë: impossível não amar

Todo o texto da Jane Austen é marcado por um ar infantil, claro, mas também pelo tom sarcástico tão característico dela. Dá para notar a piada chegando com sutileza. Em alguns textos eu ri e muito. Um deles é sobre uma garota que é tão bondosa que acaba prometendo a sua mão para dois jovens. Abalada com tamanha irresponsabilidade ela acaba se matando. Parece trágico, mas o jeito com que tudo é contado acaba sendo cômico. O universo é o mesmo de todos os romances de Austen: a sociedade de sua época com todos os casórios e intrigas. Eu me diverti muito com a maior parte dos textos, e nos outros em que o humor não estava tão presente, a curiosidade era grande, já que tudo era curto. Eu adoraria ler os eventuais romances que poderiam ter saído daqueles contos, até mesmo os mais bobinhos e infantis. Sempre me pego imaginando os romances que a Jane Austen poderia ter escrito se tivesse vivido mais. Bom, mas isso é assunto para um outro texto.

O reino de Angria, o lugar onde se passa toda a parte da Charlotte Brontë, é lindo. Por vários momentos me senti mais próxima dela, quase como se conseguisse entender o sentimento dela ali com aquele texto. Desde pequena os seus personagens são pessoas “desvirtuosas”. Aliás, não senti que era uma menina escrevendo, de tão intrincada que a história era. E os poemas são inesquecíveis. Fiquei muito feliz de ter acesso a tudo isso. Teria sido melhor, claro, se a cada capítulo a voz da organizadora não aparecesse na minha cabeça, me explicando o rumo da história de Arian. É como se me podasse, achando que não tenho capacidade de entender uma das minhas escritoras preferidas. Talvez eu não entendesse, talvez o texto dela seja difícil e complicado de entender, mas gostaria que me dessem esta escolha, pra eu descobrir se consigo dar conta dos primeiros textos da Charlotte Brontë. Mesmo assim prefiro acreditar que minha ligação com estas duas autoras vai além disso, que a organizadora não pode ficar no nosso caminho.

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