O bobo da rainha

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O que os marcadores de Star Wars têm a ver com o livro? Nada.

Desde que eu vi A Outra, que conta a história real de duas irmãs, Maria e Ana Bolena (vividas por Scarlett Johansson e Natalie Portman), que se envolvem com o rei Henrique VIII, fiquei meio viciada em qualquer coisa que falasse dessa história de traição e morte em família. A Outra é baseado em um dos livros da série Tudor, de Philippa Gregory. Comecei a ver resenhas aqui e ali e notei que os livros eram bem conhecidos e adorados. Partindo daí, no meu vício, antes mesmo de ler um só livro e de conhecer a autora, resolvi comprar a série toda. Algo muuuuito sensato.

Só que eu cheguei meio tarde. Vários estavam esgotados nas livrarias ou custavam caríssimo, por isso tive que começar uma peregrinação aqui pelos sebos de Curitiba. Sempre que eu podia eu parava em algum sebo pelo centro da cidade e procurava por Philippa Gregory. Aos poucos eu consegui completar a série Tudor, e até acabei estendendo a maluquice para outros livros da autora.

Eu não sei se eram as capas e as edições lindas, ou algo na biografia da Philippa Gregory – afinal, ela é conhecida como “a rainha da ficção histórica britânica”, tem programa de rádio, televisão e é PhD em literatura do século XVIII – , mas eu tinha certeza de que iria adorar cada minuto das leituras. Para minha sorte, eu realmente saboreei cada segundo dedicado ao primeiro o livro que encarei: A Irmã de Ana Bolena. Foram 626 páginas lidas em uma semana, e teria sido muito mais rápido se eu não tivesse poupado o livro para saboreá-lo melhor.

Depois disso, resolvi ler a série na ordem em que os livros foram publicados originalmente, por isso escolhi este O Bobo da Rainha. Ele tinha muita responsabilidade, precisava ser tão bom quanto o primeiro. Talvez isso tenha atrapalhado, e O Bobo da Rainha não foi uma experiência tão marcante, mas ainda assim passou muito longe de ser ruim. O clima ainda é o mesmo de A Irmã de Ana Bolena, e com personagens que existiram de fato, mas não apareceu uma personagem tão memorável quanto a Ana Bolena do primeiro livro.

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Em O Bobo da Rainha, a protagonista (fictícia) é Hannah, uma jovem judia que vive com o pai na Inglaterra do século XVI. Henrique VIII morreu há pouco tempo. O trono pertence a seu único filho homem, o rei Eduardo VI, que tem quinze anos e é bem adoentado. Hannah precisa esconder sua religião, e vive aterrorizada com a ideia de ser queimada viva, o que aconteceu com a mãe dela na Espanha e a fez fugir para a Inglaterra. Seu empenho em não ser percebida pelos outros é tão grande – principalmente por ela ter o dom da visão, algo que a permite prever certos acontecimentos –   que ela faz questão de se vestir como um menino.

Por isso, quando ela é desmascarada por Robert Dudley, um membro importante da corte, ela é chantageada e segue as ordens dele para não chamar mais atenção. Sua missão é a seguinte: disfarçada de bobo do rei, mais tarde bobo da rainha, deve tornar-se uma espiã. Assim ela acaba envolvida em todas as intrigas de uma corte em que cada um tenta salvar a própria pele da melhor maneira possível. Hannah conviverá com personagens históricas como a rainha Mary e a princesa Elizabeth, as outras filhas do rei Henrique VIII, depois da morte do jovem e doente Eduardo VI. Contar mais do que isso é estragar a leitura de quem ainda não começou o livro. Mesmo que seja difícil soltar um spoiler de uma trama que está mais do que consolidada historicamente, o desfecho de Hannah ainda é um mistério interessante para qualquer um que saiba de cor a trajetória dos Tudor.

Hannah pode não ter existido na história da Inglaterra, mas Philippa Gregory conseguiu situar tão bem a personagem que a impressão de que eu vou encontrá-la nos livros de história é grande. Como adoro ficção histórica, compro totalmente essa ideia de ver personagens reais numa história romantizada. Depois que termino o livro ainda fico um bom tempo pensando em personagens, conjecturando sobre a vida que essas figuras levavam em épocas e lugares tão diferentes dos meus. Acho que não estou sozinha nisso. Sinto que esse deve ser um dos segredos do sucesso da Philippa Gregory. O Bobo da Rainha vale muito a pena, e não é obrigatória a leitura do primeiro livro para se aproveitar esse, mas se você ainda não conhece Gregory, a minha sugestão é começar do começo.

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