Brooklyn

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Brooklyn tem a cara do Oscar. É só ver um trechinho dele que você encontra ali vários componentes que resultam em indicação. Tem lá uma protagonista em uma história de superação, sem nada de muito estranho, bizarro ou fora da curva. Talvez, em um primeiro momento, o longa não tenha uma história tão angustiante (e inevitavelmente cativante) quanto a do Stephen Hawking de Eddie Redmayne em declínio físico se arrastando pelo chão, mas Brooklyn tem aqueles elementos que levam boa parte do público às lágrimas e fazem a cabeça de quem dá os prêmios. 

Por isso a indicação de Saoirse Ronan como melhor atriz pode parecer meio errada. Ela tem uma atuação comedida, que pode passar sem chamar a atenção, e não investe nas transformações físicas que viraram quase sinônimo de grandes performances. Como eu sempre achei que mais é menos, posso dizer que adorei tanto o filme como a interpretação de Ronan – que eu conheci em Desejo e reparação e mal reconheci aqui,  a ponto de, se eu fosse mais tiazinha, poder dizer que ela já está uma moça. Vale lembrar ainda que Brooklyn tem Nick Hornby concorrendo ao Oscar de melhor roteiro adaptado.

O filme é baseado no livro de mesmo nome, de Colm Toibín, que eu li em 2014 e virou favorito na hora. A adaptação não fica devendo nada, e também entrou para minha lista de favoritos. Acompanhamos uma jovem irlandesa, Eilis Lacey, que se vê sem nenhuma perspectiva de um bom futuro em seu país, na década de 1950. Com uma ajudinha da irmã que mora com ela, e do padre que conhece a família e vive nos Estados Unidos, Eilis consegue embarcar no navio e parar em Nova Iorque. Mais precisamente no Brooklyn. No início a adaptação é difícil, longe da família e dos costumes de casa. Mas quando ela conhece um jovem de família italiana, a paixão faz as coisas ficarem mais fáceis. Quando tudo parece estar se ajeitando (no trabalho, no amor), Eilis recebe uma terrível notícia que a obriga a voltar para a Irlanda provisoriamente.

Brooklyn, num primeiro momento, parece ser mais uma história de amor com um pano de fundo sobre os anos 1950. O filme é tão discreto que pode passar sem deixar marcas por muitas pessoas, mas ele fala muito sobre mudanças. Acho que qualquer pessoa que precisou sair de casa e começar uma nova vida em outra cidade (ou até mesmo em outro bairro, desde que tenha saído de casa) vai se identificar com as questões aborbadas em Brooklyn. Muitas vezes somos forçados a ter que escolher entre o confortável e o difícil, e a Eilis fez justamente isso quando precisou voltar precipitadamente para a Irlanda. Ficar lá, agora que a sua sitação tinha melhorado e as perspectivas não eram as mesmas de quando saiu ou voltar e continuar de onde parou no Brooklyn com seu novo amor?

Aqui, o tom discreto e, de certa maneira, leve foi um atrativo. Eu estava tão acostumada com histórias mais pesadas de imigração que, no começo, achei que essa parecia fraquinha; afinal de contas, Eilis passou por dificuldades, mas nada comparado, por exemplo, ao nazismo.  Essa, no fim das contas, é a história de muita gente, e me fez conseguir imaginar certinho como deve ter sido a trajetória de muitas avós que precisaram mudar de país. Para mim, esse foi o grande mérito do filme. 

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