Seis detalhes sem importância de Game of Thrones

carinho no dragão

Maratonei Game of Thrones. Fui do começo ao fim num tempo tão curto que até me envergonha dizer. Tinha visto o piloto na época em que ele saiu, mas nada ali me indicava que a série era para mim. Agora, no começo de junho, me veio à cabeça que seria uma boa hora para começar de novo. O resultado é que me apeguei a uns seis personagens (é que tem muita gente carismática) e não conseguia assistir a outra coisa (é que tem muita cena de ação bem coreografada, tensa, que absorve a gente). Por causa da popularidade tão grande de GoT, até quem não acompanha acaba sabendo de tudo o que acontece porque quando começa ou termina uma temporada a internet enlouquece. Por sorte, quem é Alzheimer vive em dobro – como dizia a comunidade do Orkut – e para mim tudo era novidade.

O que não é novidade é que a série tem fanáticos que já esmiuçaram cada detalhe, leram os livros mais de uma vez, bolaram teorias (tanto as absurdas quanto aquelas que fazem muito sentido) e decuparam cada episódio em busca de um significado oculto. Acho que eu não sou esse tipo de fã. Às vezes eu deixava todo o resto para prestar atenção em uma besteirinha. Uma expressão engraçada na cara de um ator, um detalhe com pouco significado, uma intriga que ficou sem explicação. Não é que eu não entrasse na história, mas é que tem tanta coisa em que reparar que tem hora em que acontece de a gente não se concentrar bem no que é o ponto principal. Será que eu consegui me explicar? Fiz uma lista com seis momentos sem importância que me desviaram do caminho. Que comece o aquecimento para a sétima temporada.

JORAH MORMONT TOTALMENTE “TRIGGERED”

jorah mormont friendzone

Ele é a enciclopédia ambulante da khaleesi. Sabe tudo sobre toda cidade que ela precisa conquistar. Cultura, arquitetura, população, hábitos alimentares, organização política: é só pedir que Jorah Mormont esmiúça aquelas partes exóticas do mundo de GoT para a khaleesi ter uma pequena noção do buraco em que está se metendo. Como nada é fácil, acontece de Mormont ser perdidamente apaixonado por ela. O cavaleiro quase tem um tremelique toda vez que precisa olhar Daenerys nos olhos, num amor que é verdadeira devoção. Muito bonito. Só que tem duas coisas: primeiro que o sentimento não é recíproco – a Mãe dos Dragões só pensa no trono que quer conquistar e, quando tem tempo para escapar um pouquinho, parece ter outro tipo de homem em mente; segundo: agora Mormont está apaixonado e daria a vida por ela, mas ele já foi um traidor, um informante daqueles que queriam vê-la morta. É claro que ela vai descobrir. Vai escorraçar o homem e dizer que ele tem sorte de não ser executado.

E aí, será que ele lida bem com a separação? De jeito nenhum. A gente vai ficar sabendo do nível de sofrência quando, depois, Tyrion Lannister e Varys vão parar num bordel em Volantis. Lá uma prostituta está vestida de khaleesi para agradar os homens que “gostariam de foder uma rainha”. É um verdadeiro cosplay. A cópia não é tão graciosa quanto a original, mas está tudo lá: o cabelo platinado, o babyliss, a vestimenta azul. Num canto do bordel, meio louco, bêbado e decadente, totalmente perturbado pela visão da falsa Quebradora de Correntes sentada no colo de um qualquer, está Jorah Mormont. Só faltou aquela tarja de TRIGGERED. A cena deve durar dois segundos, mas eu fiquei rindo pelo resto do episódio. Para completar, ele sequestra o anão para dar de presente à amada.

MAMILOS

nipple game of thrones

A vida da khaleesi tem dessas. A certa altura ela precisa de um exército, mas o pessoal do ramo de venda de exércitos não parece muito legal. O sujeito que a apresenta aos Imaculados (aqueles soldados castrados na infância, máquinas de matar) é intragável. A gente sabe que ele vai morrer desde a primeira fala que ele dá, a gente sabe que ele vai morrer já por causa da escolha de elenco. Mas ele quer mostrar que os Imaculados não dão um pio diante da dor. O que ele faz? Ele chama um soldado e, sem cerimônia, corta-lhe o mamilo. Corta mesmo, como se estivesse passando a faca na casca de uma fruta. Eu preciso confessar que, fosse o que fosse a história, dali em diante nada mais conseguiu a minha atenção. O senhor cortou o mamilo do soldado, arrancou fora, só para provar que os Imaculados não estão nem aí para a dor. Mas é um mamilo, sabe? É claro que a pessoa que perde o mamilo vai ficar com ardência. Essa cena me deu arrepio. Quando eu lembro é como se alguém passasse as unhas num quadro negro. Ai.

AQUELE SENHOR DESCALÇO

high sparrow

Cersei não é boa estrategista. Ela está sempre maquinando. Na verdade todo mundo está sempre maquinando, mas ela não faz um movimento sequer que não seja voltado a um plano elaborado. Só que vocês podem reparar: ela só dá passo em falso. Quando ela encrenca com os Tyrell, porque Margaery finalmente conseguiu casar com o rei e virar rainha, a solução encontrada não é exatamente parcimoniosa. O que ela faz é dar poder a um grupo de fanáticos religiosos para que eles possam enquadrar os Tyrell. Só que, claro, os fanáticos saem do controle e tudo dá erradíssimo.

Enquanto isso acontecia, todas as minhas energias estavam voltadas para a roupa do líder da seita religiosa, o tal do Alto Pardal. Os monges dele não eram nada que a gente não tenha visto na vida real: apenas uma mistura de monge budista com franciscano com uma corrente amarrada no peito e um símbolo na testa. Mas o traje do Alto Pardal, um verdadeiro saco de batatas imundo e sem corte, me irritou profundamente. Eu entendo que a ideia era fazer um contraste entre ele e os pecadores bem arrumados de Porto Real. Tudo bem. Mas o velho não só era profundamente irritante, todo arrogante e com pose de sábio, como sempre aparecia despenteado, com a cara suja e descalço. Descalço. Eu parei para imaginar o chão de Porto Real. A quantidade de matéria fecal, xixi, resto de comida e sangue que deve ter por lá. Fora que a estrutura da cidade não é grandes coisas. Ruas de pedra não só acumulam mais sujeira como também quebram. Aquele velho andava com os pés descalços e sentia as pedrinhas e grãos de areia nos vãos dos dedos. E o pior: não usar sapatos não era um pré-requisito para entrar na seita porque os monges todos usavam uma botinha aparentemente feita de couro.

O gostoso é que a Cersei deu um bom jeito nele.

LÁ VAI A KHALEESI INDO EMBORA NO DRAGÃO

drogon

O diferencial de Daenerys no pleito pelo Trono de Ferro são os dragões. A série repete isso a todo momento. Faz sentido. Eles não só são uma arma poderosíssima, como também, só na presença, conseguem impressionar os inimigos e incentivar os aliados. Durante o torneio dos escravos, aquele em que Jorah Mormont virou uma espécie de Russel Crowe em Gladiador, os inimigos da khaleesi começaram a matar todo mundo e ela se viu cercada, com poucos homens e pouquíssima esperança. Foi aí que Drogon, que é o dragão principal, apareceu. Ele fez uma demonstração de força, matou um pessoal, deixou Tyrion Lannister de boca aberta e, por fim, pousou no meio da arena. Nisso Daenerys montou nele e saiu voando.

Os companheiros de batalha podem ter ficado um pouco desapontados com a rainha abandonando a luta assim sem cerimônia, mas eu achei tudo muito razoável. Pensei: agora o dragão vai parar no topo da pirâmide, que é a residência oficial, ela vai desembarcar em segurança e o problema foi resolvido. Que nada! Sem controle do dragão, nem Daenerys soube onde foi parar. Ele voou embora e a deixou sozinha no meio do nada. Tiveram que montar uma equipe de resgate para encontrar a rainha. Eu achei engraçadíssimo, ainda mais porque toda a cena da chegada do dragão foi apoteótica. Um daqueles momentos em que um fiapo de esperança vira uma glória gigantesca. Tudo isso para ela ficar perdida no meio de uma terra estranha, cercada de dothrakis que estão apostando para ver quem vai estuprá-la primeiro.

Mas ela é a Não Queimada, a Noiva do Fogo. No final não há quem lhe encoste um dedo.

E VOCÊ. QUEM É VOCÊ MESMO?

cersei qyburn

Eu tenho certeza de que isso deve ser muito bem explicado nos livros, mas para quem só viu a série ficou esquisito. Qyburn é aquele homem que faz experimentos com Gregor “A Montanha” Clegane. Ele aparece primeiro quando Jaime Lannister perde a mão. Dali em diante, numa ascensão impressionante explicada por ninguém, ele vai virar conselheiro de Cersei. Não tem graça nenhuma, eu sei, mas é aquele tipo de coisa que acontece quando o roteirista precisa enxugar personagens. Aqui em casa a gente sempre se lembra de um filme com a Nicole Kidman e o Daniel Craig, Invasores, que é meio que uma releitura de Invasion of the Body Snatchers. Lá, um médico que tinha uma salinha e um cargo desimportante num hospital sem destaque acaba indo parar no centro dos acontecimentos, só porque no roteiro não cabe outro médico. Ele está num helicóptero, ele descobre a cura, ele ajuda os protagonistas: tudo a serviço de uma história enxuta. A função de Qyburn em Game of Thrones é essa, e por isso ele sempre acabava roubando a minha atenção. Eu precisava me lembrar de quem ele era, e começava a pensar que estava perdendo alguma coisa, que alguém tinha explicado e eu tinha perdido. Como esse homem foi parar aí? Nesse mundo de tanta intriga não teve ninguém para barrar uma ascensão tão grande, nem para explicar porque ele é importante?

O fato é que agora o “Time Cersei” está bem peculiar. Tem ela, um cavaleiro sem mão, um cavaleiro zumbi e um médico louco.

MINDINHO FALANDO NO OUVIDINHO

sansa e littlefinger

“Só um tolo confiaria no Mindinho”, diz Sansa Stark no fim da sexta temporada. A função dele na vida é ser um fofoqueiro, intriguento, leva-e-traz, duas caras e fraco de caráter. Não demora nada para a série querer que a gente entenda isso, e uma das primeiras cenas dele é impagável. Ned Stark acabou de chegar a Porto Real com as duas filhas. O rei manda fazer um torneio. Um dos participantes é Gregor “A Montanha” Clegane. O episódio quer nos contar três coisas ao mesmo tempo: 1) Montanha é muito malvado; 2) Mindinho é muito fofoqueiro; 3) a origem da queimadura do Cão de Caça. Qual é a cena? Na arquibancada, Sansa, que àquela altura é toda empolgada com cavaleiros e cortesias e romances e casórios, sentou-se ao lado de Mindinho. O que ele faz? Ele conta a história da vez em que Gregor Clegane, ainda criança, colocou a cara do irmão no fogo só por causa de um brinquedo. Mas ele conta tudo no ouvidinho dela, aos sussurros. Quem já esteve em um lugar barulhento sabe que não se entende nada de um sussurro. Quem vai sussurrar tem que falar frases curtas, tipo “Vamos embora?” ou “Onde é o banheiro?”, mas o Mindinho conta a história inteira, uma frase atrás da outra, sussurrando alto, com cara de safado, para uma Sansa impressionada, em meio a uma arquibancada lotada. Não adiantou nada ele sussurrar, até porque ele falou alto. Todo mundo ouviu. Mania de falar perto da cara dos outros!

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