A história de nós dois

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A história de nós dois é o novo livro da inglesa Dani Atkins, publicado pela editora Arqueiro, com tradução de Raquel Zampil. Não tem como falar dele sem antes prestar atenção nesse projeto gráfico. O que é essa capa? Linda, colorida e ao mesmo tempo discreta. Fiquei apaixonada. O cuidado de manter a capa original me deixou feliz, mesmo que a edição tenha deixado a desejar com alguns errinhos tipográficos. É difícil não querer ter esse livro.

Ano passado li Uma curva no tempo, o primeiro da Dani Atkins publicado no Brasil. Eu me lembro de gostar muito, e de me emocionar em vários momentos. Um ano antes eu tinha lido um romance publicado em Portugal como Estarás sempre comigo, da Anna McPartlin. Foi impossível não associar os dois livros, com histórias e personagens tão parecidos. Por isso agora, depois de terminar A história de nós dois, percebi que este também tem suas semelhanças com o da Anna McPartlin. Foi como juntar os dois livros da Dani Atkins e achar ali correspondências com o outro. Normal, isso acontece quando se lê vários livros do mesmo gênero, mas a pulguinha da comparação apareceu e atrapalhou, e foi impossível ignorar que este novo livro da Dani Atkins saiu perdendo.

Na quarta capa há uma frase que me ajudou a definir meus sentimentos: “A história de nós dois tem tragédia, traição, triângulos amorosos, amizade, segredos e escolhas difíceis”, e a citação continua, quase como uma promessa: “É o tipo de livro que você lê mantendo uma das mãos no coração”. Com todos esses ingredientes, e sendo eu uma boa tiete do gênero, achei que a minha mão ia ficar mesmo grudada no peito. Não foi o caso: eu cocei a testa, apoiei o queixo, tapei uns bocejos mas não fiquei com uma das mãos no peito, infelizmente. A história de nós dois me mostrou que não basta colocar todos os elementos que a gente gosta num caldeirão e esperar que a magia aconteça.  No fim das contas o livro tem tudo aquilo que a quarta capa prometia, mas isso não o impede de ser morno e previsível. Quase sem carisma. Por incrível que pareça, isso não significa que eu não tenha gostado.

Emma, a protagonista, vive um triângulo amoroso. Eu não sou muito fã de triângulos amorosos – a indecisão sempre me irrita; afinal, como leitora, sempre enxergo o que a protagonista só vê nas últimas páginas – mas isso não é motivo para me fazer desistir de um livro. Para não correr o risco de soltar um spoiler (coisa difícil aqui nesse romance), não vou me aprofundar no enredo. Vou tentar expor apenas os pontos principais da história: Emma sofre um acidente em que uma pessoa morre, mas ela se salva, ou melhor: é salva por um homem perfeito, Jack – que funciona aqui como um super-herói, o cara másculo que a mantém a salvo –, só que ela é noiva de Richard, um homem lindo e amoroso. Emma precisa lidar com a perda da pessoa no acidente em que ela foi resgatada por Jack, e aí de quebra ela se apaixona por seu salvador, enquanto não deixa de amar Richard, o noivo. Complicado? Ah!, e a mãe dela tem mal de alzheimer. Sim, o período é meio turbulento para ela. Bota drama nisso.

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Mas o interessante de A história de nós dois é que embora o drama não tenha necessariamente pesado a história, ele acabou transformando a protagonista em uma reclamona. Afinal, ela tinha muitos problemas. Assim, para o leitor, o drama vira apenas um amontoado de queixas da protagonista. Isso foi determinante para eu não simpatizar muito com ela. Emma se apaixona por Jack de uma maneira até concebível. Imagino que duas pessoas que passam por um momento traumático criam um laço forte, e aqui, a paixão fez sentido pois Jack a salvou de um carro prestes a explodir. Ele é americano, escritor, interessante, charmoso. Ainda por cima, é bonito. Claro, se ele fosse o Tiririca acho que esse laço não seria tão forte, mas esse é um pensamento que qualquer leitor desse gênero precisa ignorar. Será que tem alguma coisa errada com ele? Será que vale a pena trocar um amor velho por um novo?

Nesse sentido, o triângulo amoroso de A história de nós dois é fraco porque fica claro desde o começo com quem Emma vai ficar. Mesmo já tendo certeza do fim, fui levada a torcer para que as coisas se encaminhassem numa direção menos convencional. Veja bem, eu não estava torcendo por nenhum dos dois interesses da Emma, apenas queria que a autora desse um nó na minha cabeça –  essa sensação é sempre bem vinda ao fim de uma leitura. Mas isso não aconteceu e eu me vi frustrada. Se Dani Atkins tivesse tomado um outro caminho, A história de nós dois ficaria por muito tempo na minha cabeça. Não vai ser o caso, mas isso não significa que o livro é ruim.

Para não parecer uma pessoa amargurada que só reclama, preciso dizer que gostei muito de alguns personagens. Caroline, a melhor amiga de Emma, é interessante e bem construída. A doença da mãe de Emma é descrita de um jeito envolvente, e algumas cenas decorrentes disso me fizeram sentir um carinho pela protagonista, para além das reclamações e queixas. Outro componente importante foi o clima de cidade pequena que Dani Atkins conseguiu emprestar à história. Isso e o ritmo da narrativa me levaram a  devorar o livro rapidamente. Não empaquei, não fiquei com preguiça, não havia nada sem pé nem cabeça. Sinto que, se os esforços do livro tivessem sido um pouco menos dispersos, ele poderia ter sido uma das minhas melhores leituras do ano.

Mas terminei A história de nós dois levemente desapontada. Embora eu não possa contar o final, tenho que dizer que me senti sendo feita de boba. No epílogo, Dani Atkins tenta nos emocionar com todas as forças, e nessa hora fica claro que ela não deu muito material para isso no decorrer do livro. Então fica tudo forçado, a hora de chorar e colocar a mão no coração simplesmente não chega. É como um daqueles filmes que investem numa música linda para tentar pegar sentimentos emprestados. Com isso tudo, vale dizer que eu quero muito ler mais um livro da autora. Acho que, em outra ocasião, nossa química pode melhorar bastante.